Submerso no pântano das obscuridades musicais, um disco altamente recomendado é este Live! At The Spring Crater Celebration Diamond Head, do Cosmic Travelers, gravado em Oahu, uma ilha do arquipélago do Havaí. A sonoridade chaparral deste grupo de Los Angeles vai agradar aos fãs de Lynyrd Skynyrd, Black Oak Arkansas, James Gang, Grand Funk Railroad, Cactus, Blue Cheer e combos correlatos do rock setentista.
O show foi realizado em 1° de abril de 1972 durante o festival anual que, curiosamente, reunia bandas para tocar no interior de uma cratera vulcânica (!) chamada Diamond Head – evento aliás, que voltou a ocorrer em 2006 e 2007, mais de trinta anos após a sua última edição, trazendo atrações como Steve Miller Band, War e Earth, Wind & Fire. E foi pensando especialmente em participar do festival havaiano que os viajantes cósmicos se agruparam em 1972, dispostos a emanar suas boas vibrações sonoras. O resultado está registrado nesta gravação, que capta a performance visceral da trupe em sua única apresentação pública.
As artimanhas sônicas giravam em torno do guitarrista Drake Levin (ex- Paul Revere & The Raiders, Brotherhood e Lee Michaels Band), do guitarrista Jimmy McGhee, do baixista e aqui vocalista Joel Christie (ex-Lee Michaels Band) e do baterista Dale Loyola (ex-The Hook) – este último mais conhecido como “Mule”, por desferir golpes pesados em seu instrumento. Um quarteto composto por veteranos músicos de estúdio que, nos intervalos das sessões, maquinaram e ensaiaram um repertório com composições alheias calcadas nas correntes do blues, R&B e do soul.
Destaques para o clássico blueseiro “Farther Up the Road”, de Joe Veasey e Don Robey, e sua levada malandrérrima e altamente pegajosa; para a espirituosa “Move Your Hands”, numa versão matadora do tema jazz funk lançado em 1969 pelo organista norte-americano Lonnie Smith; e para a varada na alma chamada “Soul”, impregnando o espírito de timbres e efeitos guitarrísticos profanos. Para deixar o ambiente mais empoeirado possível, ainda tem cover de Dave Mason (ex-Traffic) na faixa “Look At You Look At Me” em uma chapante jam session de dez minutos.
Faixas poderosamente energéticas onde o guitarrista Jimmy McGhee mostra por que era celebrado como um dos legítimos discípulos de Jimi Hendrix, saturando de efeitos fuzz os seus solos faiscantes e dando ao blues uma credencial psicodélica. Microfonias e imundices sonoras à parte, aposto minhas coleções de Allman Brothers e Grand Funk se esta relíquia não vai fazer a cabeça dos bolhas jurássicos que curtem o bom e velho southern rock ou um hard blues venenoso das antigas.
Esta raridade discográfica, lançada pelo selo Volcano Records (reeditada em 2000 pela Dodo Records) e que vem acompanhada de um pôster com fotos da banda on stage, eu encontrei exposta naquela parede fantástica da finada Nuvem 9, frequentemente recheada com títulos sensacionais. Quem frequentou a loja sabe do que estou falando. A capa “flower and power” lindona é cortesia do ilustrador Jim Evans e reproduz alguns dos símbolos locais, como a flor Hibiscus havaiano e o ganso do Havaí (também conhecido por branta sandvicensis), além de retratar o colorido característico da região e o seu clima tropical.
Uma pena que o grupo só tenha lançado esse material. Uma sequência na efêmera carreira teria sido muito bem-vinda, já que a química e o talento demonstrados pelos rapazes nesse trabalho são evidentes. Um tesouro do rock setentista pouco ou nada conhecido por estas plagas tupiniquins. Portanto, não perca tempo: pegue o seu passaporte cósmico e embarque sem restrições rumo ao planeta dos bons sons. Boa viagem!
Por Marco Antonio Gonçalves, do Sinister Salad Musikal
O fino do som
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