Discoteca Básica Bizz #122: Paul McCartney & Wings - Band on the Run (1973)


Em 1973, Paul McCartney estava numa encruzilhada. Acusado de ser "o homem que acabou com os Beatles" e "traidor da contracultura", ele via sua carreira solo como algo que ainda não havia decolado propriamente, a despeito de hits como "Live and Let Die" e "My Love". 

Decidido a acabar com a maré de azar, Macca pegou sua mulher Linda e o guitarrista Denny Laine e foi para Lagos, na Nigéria (coração da África). Band on the Run, o disco que resultou dessas sessões de gravação, foi aclamado como o melhor trabalho de Paul e os críticos viram nele uma continuação do segmento sinfônico que permeou boa parte do lado B de Abbey Road (1969), o penúltimo trabalho dos Beatles. 

Como Henry McCullough e Denny Seiwell, outros integrantes do Wings, recusaram-se a viajar, Paul teve de tocar a maioria dos instrumentos sozinho. Paul não planejou um álbum conceitual, mas as melodias e temas quase sempre aludiam à liberdade e à fuga. A faixa título colocou o rockstar como um fora-da-lei disposto a sair da prisão, ou seja, fugir das regras estabelecidas. Mais tarde, ele revelou que a frase chave da canção - "Se algum dia nós conseguirmos sair daqui” - era uma expressão que George Harrison repetia constantemente nos intermináveis e sufocantes encontros com advogados e executivos na época do fim dos Beatles. 


"Band on the Run", a música, desembocava em "Jet", exuberante canção de cinco minutos que reforçava a ideia de uma mini-ópera. Paul não estava disposto a fazer as pazes apenas consigo próprio. Em "Let Me Roll It" ele prestava uma homenagem carinhosa a John Lennon, tapando um pouco das feridas que ficaram com o fim da maior parceria do século. A delicada "Bluebird" remonta a tradição das baladas acústicas de Paul e é uma espécie de visão mais otimista de "Blackbird" (clássico do White Album, de 1968). Paul também usou com maestria teclados eletrônicos na épica "Nineteen Hundred and Eighty-Five”. 

Paul foi assim alvo de um dos maiores comebacks da música pop. Muitos apontaram que ele nunca mais conseguiu repetir o espírito de ousadia e aventura de Band on the Run. Pode ser, mas com certeza nunca mais esqueceu como ser um legítimo superstar. 

Texto escrito por Paulo Cavalcanti e publicado na Bizz #122, de setembro de 1995

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