Review: Behemoth - I Loved You at Your Darkest (2018)


Vou fazer uma afirmação polêmica (ou não): para mim, o som atual do Behemoth é o que podemos chamar de black metal pop. Isso levando-se em conta todas as barreiras que encontramos ao tentar classificar uma música extrema como a dos poloneses como algo pop e feito para cair no gosto das massas.

O termo não é ofensivo, já digo antes que algum apressadinho entenda o contrário. Nergal e companhia tiveram a sabedoria de simplificar a sua música, deixando-a mais direta e sem o aspecto barroco que predominou em álbuns como Demigod (2004), The Apostasy (2007) e Evangelion (2009) - todos ótimos, que fique claro -, e o resultado dessa nova abordagem foi apresentada ao mundo no excepcional The Satanist (2014).

O novo disco do quarteto, I Loved You at Your Darkest, foi lançado no início de outubro e é uma espécie de passo adiante de tudo que foi apresentado em The Satanist. As faixas (doze no total) estão de modo geral mais curtas, evidenciando essa abordagem mais direta citada anteriormente. As melodias soam ao mesmo tempo sombrias, soturnas e ameaçadoras, porém acessíveis aos ouvidos de alguém leigo ao black metal, que imagino ser o tipo de público que a banda está buscando. O peso segue forte e onipresente, porém a massa sonora dos álbuns mais antigos foi amenizada, sofreu uma limpeza, e isso deixou a música do Behemoth ainda mais eficaz.

É evidente que o exemplar trabalho de composição possui um papel fundamental em todo esse contexto. Não à toa, há um espaço de quatro anos entre The Satanist e I Loved You at Your Darkest, assim como houve um gap de cinco anos entre Evangelion e The Satanist, justamente o período em que o Behemoth desenvolveu essa nova abordagem criativa para a sua música. No fim das contas são apenas dois discos em 9 anos, com direito à luta de Nergal contra o câncer no meio disso tudo.

Todo esse novo Behemoth apresentado nos dois últimos álbuns contrasta, por exemplo, com o exagero e o excesso que ainda reinam no black metal norueguês, onde o Dimmu Borgir se transformou em uma espécie de atração satânica do Cirque du Soleil. É claro que o aspecto visual sempre esteve presente na história do Behemoth, porém essa esfera da manifestação artística da banda continua transmitindo autenticidade e coerência, ao contrário dos figurinos e das maquiagens do Dimmu Borgir e seus imitadores, que viraram meras caricaturas com o passar dos anos.

Assim como fez em The Satanist, o Behemoth consegue entregar em I Loved You at Your Darkest uma espécie de manifesto religioso e sombrio dirigido para as massas, porém escrito de uma forma ainda mais atraente que o álbum de 2014. É o satanismo transformado em elemento da cultura pop, algo que sempre esteve presente na vidas das pessoas e deu ao mundo clássicos como o filme O Exorcista (1973), por exemplo. A filosofia do “menos é mais” é aplicada aqui de maneira exemplar, transformando uma sonoridade que já era cativante e riquíssima em algo ainda mais eficiente, com força para levar os poloneses ao topo do metal mundial - lugar onde, convenhamos, já deveriam estar há anos.

Um dos melhores discos de 2018, e praticamente sem concorrência se analisarmos apenas o que o heavy metal, como gênero musical, nos deu este ano. 

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