Review: Soulfly - Ritual (2018)


Vou direto ao ponto: na minha opinião, o melhor disco do Soulfly é Enslaved (2012), onde a banda de Max Cavalera pisou fundo no peso e, com a presença do baterista David Kinkade (Borknagar), entregou o seu trabalho mais agressivo e completo. Na época, o quarteto tinha também o parceiro de sempre Marc Rizzo e o baixista Tony Campos (Fear Factory, Ministry, Asesino).

Corta pra 2018. Depois de dois discos discutíveis - o fraco Savages (2013) e Archangel (2015) -, a banda retorna ao seus melhores momentos com Ritual. O décimo-primeiro álbum do Soulfly traz a Max e Marc ao lado do baterista Zyon Cavalera (um dos filhos do ex-frontman do Sepultura e integrante do grupo desde 2012) e o baixista Mike Leon (que entrou em 2015), que faz a sua estreia em um CD do Soulfly. O play conta também com as participações especiais de Randy Blythe (vocalista do Lamb of God, em “Dead Behind the Eyes”) e Ross Dolan (vocalista do Immolation, em “Under Rapture”).

Ritual é bom porque traz o Soulfly investindo novamente em doses cavalares de peso, deixando de lado os experimentalismos que marcaram o início da carreira da banda e que volta e meia retornam. O que temos nas dez faixas do disco é um metal atual, moderno e construído com muito groove. É a receita que fez o Sepultura se destacar lá na primeira metade dos anos 1990 elevada a enésima potência, porém sem as batidas tribais e com um foco maior no lado mais extremo do metal. Além da óbvia e sempre presente influência do thrash, o disco traz canções que beiram o death e até mesmo o black metal - basta ouvir a dobradinha “The Summoning” e “Evil Empowered” para perceber isso.

Um fator determinante para o impacto está na mixagem e na produção, que deixou para trás a sonoridade mais crua dos dois álbuns anteriores - e que prejudicou Savages - e fez surgir em seu lugar uma parede sonora repleta de tons graves em uma muralha pesadíssima, onde todos os instrumentos soam bastante distintos. A evolução Zyon na bateria também é outro ponto forte, com o herdeiro de Max mostrando que a tradição da família Cavalera no metal mundial está garantida.

Com um tracklist muito bom, Ritual tem destaques individuais como a faixa-título (a única a remeter, ainda que de maneira bem sutil, aos primeiros anos da banda), a dupla de músicas com os convidados (Blythe em “Dead Behind the Eyes” e Dolan em “Under Rapture”, ambos trazendo elementos da sonoridade de suas bandas) e a dupla pancadaria de “The Summoning” e “Evil Empowered”, duas das melhores músicas já gravadas pelo quarteto. Há de se mencionar também a improvável aproximação de Max com o lado mais calmo de sua musicalidade em “Soulfly XI”, a tradicional faixa instrumental que fecha os discos do grupo. Desa vez, a banda trilha por uma espécie de jazz indígena, e o resultado é de cair o queixo.

Max Cavalera é um dos maiores e mais influentes músicos da história do metal mundial. Ainda que a sua carreira apresente períodos irregulares aqui e ali, quando o vocalista e guitarrista acerta a mão tudo ganha uma dimensão arrebatadora. Em Ritual, esse foi o caso. Discaço!

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