Discoteca Básica Bizz #131: Deep Purple - Machine Head (1972)


O heavy metal nasceu no início dos anos 1970 a partir de três bandas fundamentais: Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple. Enquanto o Zep sempre teve mais prestígio e o Sabbath mais fãs, o Deep Purple levou algum tempo para construir sua reputação. Um dos motivos, seguramente, foi a falta de definição quanto aos rumos musicais que o grupo deveria tomar. Depois de dois anos sob a batuta intelectual de Jon Lord (teclados), gastos na realização de experimentos com jazz e música clássica (que culminaram no famigerado Concert for Group and Orchestra, de 1969), o Purple mudou totalmente de direção.

Com a entrada de Ian Gillan (vocais) e Roger Glover (baixo), aliados a Ritchie Blackmore (guitarras) e Ian Paice (bateria), a banda passou a fazer um som monolítico, pesado e agressivo, que renderia Machine Head, o ápice da carreira do Deep Purple, um disco perfeito. Poucas vezes na história do rock egos tão monstruosos conseguiram conviver de forma tão explosiva e harmônica.

São apenas sete faixas, uma melhor que a outra. Já na abertura o Purple despeja potência com o clássico "Highway Star". Em seguida vem "Maybe I´m a Leo". A estrutura jazzística da canção permite que cada elemento do grupo mostre seu talento, inclusive com um solo cristalino de Jon Lord. "Pictures of Home", a faixa seguinte, é uma música pouco lembrada pelos fãs do Purple, mas seu andamento marcial, comandado pela marcação precisa da bateria, serviu de modelo para inúmeras bandas do thrash metal atual. "Never Before" é um rock de acento latino cuja maior virtude é quebrar a seriedade do disco.


O riff magistral de "Smoke on the Water" anuncia o lado B. Apesar do trabalho de criação estupendo de Blackmore, merece destaque a disposição dos instrumentos no arranjo escrito por Lord. As pinceladas nos pratos, a marcação na caixa, os toques paquidérmicos do baixo e os acordes norteados vão sendo induzidos um a um, forjando um intenso clima de expectativa. Ian Gillan, para realçar a qualidade da composição, teve de se conter ao máximo. Acabou obtendo uma interpretação excepcional.

"Lazy" é quase um retomo às origens do Purple. A introdução clássica do órgão de Lord poderia, sem susto, ser tocada em uma igreja medieval. Mas logo a seguir, Blackmore e Paice entram em cena incorporando um balanço insuspeitado à música. Daí para a frente o show fica por conta do virtuosismo de cada músico, numa jam nunca menos que deliciosa.

O disco fecha com "Space Truckin", um hard futurista cheio de ginga. Em termos experimentais talvez seja a canção mais instigante deste álbum seminal, que ajudou a lançar as bases do som pesado que viria a ser feito nas décadas seguintes.

Para dizer o mínimo, uma obra-prima.

Texto escrito por Ivan Miziara e publicado na Bizz #131, de junho de 1996

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