Review: Children of Bodom – Hexed (2019)



Foi-se o tempo em que eram necessários dias - até mesmo meses - para que o lançamento do álbum de uma banda chegasse até as mãos dos fãs mais remotos (como eu) e para que esse o replicasse entre seus amigos através de fitas k7 gravadas à mão. As formas mais primitivas de propagar o lançamento de um disco qualquer de heavy metal aos poucos foram substituídas pelo download ilegal e, mais recentemente, pelos serviços de streaming. Então, dessa vez - diferente do final dos anos 1990 - precisei apenas atualizar o feed do meu aplicativo de música para ter acesso ao novo disco de uma das minhas bandas favoritas, o Children of Bodom.

Hexed é uma gíria utilizada para descrever uma pessoa que está completamente fora de si - geralmente “induzida” por substâncias ilícitas - e dá título ao décimo álbum do quinteto finlandês conduzido por Alexi Laiho. As primeiras impressões deram-se através da arte da capa - criada por Deins Forkas - do tracklist e do primeiro single disponibilizado, a música “Under the Glass of Cover”. A canção, que também ganhou um vídeo de divulgação, apresenta uma banda com uma sonoridade mais séria e madura, mas sem o ímpeto criativo de outrora, transitando entre todas as fases do grupo, da mais melódica e virtuosa à mais
crua e moderna, agradando - ou desagradando - desde os fãs mais antigos até aqueles que surgiram após Are You Dead Yet?.

Passados mais de vinte anos do lançamento do debut Something Wild (1997), o Children of Bodom tornou-se uma vítima de algo que eles próprios criaram, e após o lançamento de seus inovadores quatro primeiros álbuns de estúdio, eles enveredaram por novos caminhos, com uma sonoridade mais direta e menos elaborada do que aquela praticada nos primeiros anos de banda, quando deram cara nova ao death metal melódico, utilizando-se de elementos não experimentados por outras bandas dessa mesma vertente.

Mais duas músicas de trabalho foram lançadas antes do disco sair em definitivo. Se “Platitudes and Barren Words” segue a mesma linha do primeiro single, “This Road” me criou algo que eu não gostaria de criar a respeito deste novo disco: expectativas. “This Road” mostra uma sonoridade mais encorpada e intrincada, com ótimos riffs e uma excelente linha de baixo, cheia de mudanças de andamento e clima. Tudo o que fez o COB virar referência naquilo que criaram está nesta canção, me tirando completamente da neutralidade pela qual eu aguardava o nascimento de Hexed.

A própria “This Road” abre o disco, seguida pela também já citada “Under Grass and Clover”. “Glass Houses” é mais direta que as anteriores, com riffs pesadíssimos e com curtíssimas intervenções melódicas e duetos de Alexi Laiho e Janne Wirman nas guitarras e teclados, lembrando pouco a principal característica que a fez conhecida, com uma roupagem mais próxima àquela praticada em discos como Relentless Reckless Forever. As quebras de ritmo ditadas pelo baterista Jaska Raatikainen são o destaque dessa faixa.

Ao iniciar “Hecate’s Nightmare” tive que verificar se meu serviço de streaming não havia me direcionado por engano para o disco The Dark Ride do Helloween, mas era de fato uma das canções de Hexed. A quarta faixa me causou uma estranheza muito grande com sua intro “dançante” e cheguei a pensar que fosse algum dos covers improváveis que o COB costuma fazer de bandas de fora da cena da música pesada. Se por um lado a banda tenta fazer algo diferente, com uma abordagem mais próxima a uma balada - dentro de suas características - como fez em “Angels Don’t Kill”, ou à músicas mais cadenciadas como em “Punch Me I Bleed”, por outro, falta espontaneidade no experimento e soa completamente forçada. De qualquer forma, a tentativa foi muito válida e pode
agradar a muitos fãs, mas a mim não convenceu e após ouvi-la a quantidade de vezes que julguei necessário para falar a respeito do disco, sempre pulo essa faixa em minhas audições.

“Kick in a Spleen” é uma porrada, com riffs e pedais duplos poderosíssimos e a mesma sonoridade moderna da fase pós Are You Dead Yet?, em alguns momentos parecendo até mesmo querer flertar com o entusiasmo e a sonoridade praticada por bandas de metalcore - não que isso seja um demérito. A música possui uma quebra de ritmo interessante, seguida de uma ótima intervenção de Janne Wirman nos teclados, mas solos pouco inspirados.
Ainda assim, é uma das melhores faixas do disco.

A já citada “Platitudes and Barren Words”, tem alguns experimentos vocais muito interessantes de Alexi e boas melodias. A canção, se não acrescenta absolutamente nada a tudo que a banda já criou, ao menos faz-se mais bem vinda que a maioria das restantes do álbum. Para essa faixa também saiu um videoclipe típico da banda, remetendo bastante, inclusive, ao clipe de “Sixpounder”.


A faixa-título beira o thrash metal em alguns momentos. Em outros, flerta com a música clássica (me remetendo muito à Something Wild) e nela sim podemos ouvir algo mais próximo daquilo que se espera de uma composição da banda. “Hexed” é a faixa mais longa e que melhor representa a sonoridade do grupo no disco em que ela carrega o nome, tornando-se minha favorita do álbum, com riffs pesadíssimos de Alexi e do estreante Daniel Freyberg e uma cozinha precisa dos sempre competentes Henkka Blacksmith e Jaska Raatikainen, dando a base necessária para os já conhecidos e tanto esperados solos e duetos frenéticos de Laiho e Wirman. Os coros do refrão também já são velhos conhecidos e, assim como soaram muito bem antigamente em “You’re Better Off Dead”, aqui se fazem poderosos e poderiam ser mais utilizados.

“Relapse - The Nature of my Crime” começa com um riff completamente heavy,
remetendo-me imediatamente ao HammerFall (vide “Hearts on Fire”) e mostrando-se uma faixa promissora, que poderia propor algo novo, mas que de tão preguiçosa, logo retoma a sonoridade das primeiras músicas do disco. Assim como em Star Wars, “Say Never Look Back” vem com “uma nova esperança”, iniciando com uma belíssimas melodias e linhas de baixo, mas também não demora a se tornar mais do mesmo, a não ser por um ou outro riffs
mais inspirados.

A essa altura, muito provavelmente quem está acompanhando esta resenha pode estar pensando que estou torcendo o bigode gratuitamente para o disco de uma banda que pouco tenho apreço, quando na verdade estou sedento por um disco impactante de uma das minhas bandas favoritas de metal. O Children of Bodom foi um dos precursores do death metal melódico e dentro deste subgênero ainda foi capaz de se reinventar, e é isso que tenho esperado há quase 15 anos. Não que tudo que tenha sido lançado neste período seja descartável, há muita coisa boa, especialmente em Bloodrunk e I Worship Chaos, mas sempre fica aquela impressão de já ter ouvido aquilo em algum
lugar.

O disco segue com a cadenciada e melodiosa “Soon Departed”, com alguns bons riffs na linha de “Everytime I Die” e “Prayer For The Afflicted”, e finaliza com “Knuckleduster”, com intervenções de Wirman que dão toques épicos à canção, mas nada que salve o álbum da mesmice. (alguém mais sentiu falta de uma música com “Bodom” no título? Elas nunca decepcionam).

Como bônus, ainda há versões ao vivo para “I Worship Caos” e “Morrigan” do disco anterior, e uma versão industrial para “Knuckleduster”, mostrando alguns dos muitos elementos modernos que vem influenciando a sonoridade da banda nos últimos anos.

Hexed é apenas mais um bom álbum do Children of Bodom, e em se tratando deles, bom não é grande coisa. De qualquer forma, tenho ouvido o álbum com frequência, buscando por nuances e elementos novos que me conquistem e, ao lançarem seu décimo primeiro disco de estúdio, lá estarei novamente aguardando não por um novo Hatebreeder ou um novo Hate Crew Deathroll, mas sim por mais um excelente trabalho de uma das bandas mais criativas no metal do final dos anos 1990, início dos 2000.


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