Entrevista exclusiva: Mark Farner, vocalista e guitarrista do Grand Funk Railroad


"Vocês, crianças, não conhecem o Grand Funk? As letras selvagens e sem camisa de Mark Farner? O baixo grave que faz o chão tremer de Mel Schacher? A bateria competente de Don Brewer? Oh, cara!". 

A fala é de Homer Simpson ao filho Bart e seus amigos e, até hoje, é a melhor definição do Grand Funk Railroad. Um power trio visceral que misturava toda a potência do rock com o swing inspirado pelo soul da Motown, uma locomotiva legitimamente americana. Seu líder, Mark Farner, notabilizou-se ao longo de sua trajetória pela simpatia e simplicidade, características que o deram (e por extensão ao Grand Funk) uma legião fiel de fãs, quase como o Grateful Dead e seus deadheads. Mark realizou o sonho deste pretenso editor e falou sobre o início de carreira, o poderoso Grand Funk e... algumas tretas.

Um dos maiores papelões do rock, até então encarado por muitos como um exagero ou mera lenda, teve como pilar o Led Zeppelin. Mark Farner e sua gangue excursionavam com o quarteto londrino, naquela altura tratado como deuses do rock and roll, venerados pelos simples mortais e intocáveis pela mídia. Mais um dia normal em que o Grand Funk abria o concerto, como sempre levando o público ao puro êxtase. Eis que Peter Grant, empresário barra pesada que mais lembrava um capanga da máfia, ordenou que alguma providência fosse tomada, afinal o Zeppelin não teria como competir com aquela sinergia extraordinária, aquela pulsação coletiva. 

"Peter ordenou que cortassem o som, desligassem a coisa toda. Terry Knight saiu ao microfone e falou para o público, explicando que contratualmente o Grand Funk tinha que deixar o palco. A platéia jogou garrafas de vinho e cerveja no palco e saímos. Uma hora e meia depois, o Zeppelin subiu ao palco e tocou para menos da metade da casa. Quando eles puxaram Grand Funk do palco, mais da metade da platéia saiu", revelou.

Mark Farner representa aquele rock outrora perdido, sem frescura, com entrega, sem pedantismo intelectual. E para a alegria dos brasileiros, o histórico guitarrista desfilará seus hits em nova turnê pelo país em maio. Em tempos de festivais agridoces, bobos e sem identidade como o Lollapalooza, revisitar a discografia do Grand Funk Railroad é uma obrigação!



Mark, você é do Michigan. Detroit é conhecida pela Motown, gravadora que uniu o soul, o gospel e o funk. A música da Motown foi a sua grande influência durante a sua infância? Quais foram as bandas mais importantes para você?

Sim, a Motown com certeza teve influência sobre mim. Nós costumávamos ouvir uma estação canadense que explodiu a Motown por todo o sul do Canadá e Michigan. Era a Rádio CKLW e a diretora do programa, Rosalee Trombly, sabia o que as pessoas precisavam ouvir. Não só o blues, mas também o R&B impactaram todos nós na região, especialmente os músicos.

E quais foram as bandas mais importantes para você?

Quanto à Motown, Aretha Franklin, Stevie Wonder, Four Tops e Little Eva.

E como quando/como o rock and roll entrou na sua vida?

O rock and roll entrou em minha vida em 1955 quando ouvi "Rock Around rhe Clock" de Bill Haley and His Comets.

Antes do Grand Funk Railroad você tocou com Terry Knight and The Pack. Terry Knight foi quase uma lenda do rock nos EUA. É verdade que ele foi o primeiro DJ a colocar uma música dos Rolling Stones em uma rádio americana? Como você o conheceu?

Eu não sei, mas ele era um DJ na rádio CKLW.

Como você o conheceu?

Ele estava cantando como vocalista no The Pack e eu estava em uma banda diferente tocando no mesmo local, e nos conhecemos lá.

Agora falemos sobre o Grand Funk. Como a banda nasceu? Como você conheceu Don Brewer e Mel Schacher?

Ainda estava noThe Fabuloous Pack. Depois que o guitarrista e o tecladista tiveram que deixar a banda por causa de suas famílias, eu disse ao Don Brewer que precisávamos começar um grupo de três integrantes e conseguir alguém que não fosse casado. Como eu conheci Don e Mel? Eu fui para a escola com Mel e Don estava tocando no The Jazz Masters quando nos conhecemos. Depois os Jazz Masters evoluíram para o The Pack.

O primeiro disco do Grand Funk, On Time, é demais! Temos um rock ans roll como "Are You Ready?", um blues como "Time Machine", músicas mais hard rock como "High on a Horse" e "Heartbreaker", e até uma psicodélica como "Can't Be Too Long". Acho que o On Time representa fielmente aquele final dos anos 1960. Você concorda?

Sim, concordo. Como escritor, tentei ser tão diversificado quanto aqueles tempos.

O disco vermelho, Grand Funk, é o meu favorito! Podemos dizer que é uma continuação natural do On Time?

Sim, é a evolução de nossas habilidades dadas por Deus para tocar música.



Eu tenho que agradecer a você e ao Grand Funk. A canção "Mean Mistreater" me ajudou em um relacionamento. Descobri que a garota estava me sacaneando, então coloquei a música e falei "você é exatamente como essa letra". Hoje vejo como foi engraçado! Por favor, sinta-se à vontade para responder... Ou não...

Fico feliz que a música tenha se tornado útil para você, muitos outros fãs também adoram essa música.

Survival, cara, que disco foda! Acho que o álbum do Grand Funk mais bem produzido, o baixo e bateria trazem um funk psicodélico, adicionando ainda uma guitarra que derrete o cérebro. Poderia falar sobre o disco?

Terry Knight encorajou Brewer a colocar toalhas de mão em sua bateria sobre as peles e esse som de bateria foi usado desde então.

O mainstream, a grande mídia, deu o devido reconhecimento ao Grand Funk apenas com o We're an American Band. Você ficou/fica triste com uma atitude tão escrota?

Não fico triste, desde que soletrem o nome corretamente. Hahaha!

O Grand Funk excursionou com o grande Freddie King. Eu li a respeito, ele estava com medo da reação do público roqueiro. Mas, na verdade, foi incrível! Como foi tocar e viajar com, na minha opinião, o maior bluesman elétrico?

Freddie era um artista de palco dinâmico com uma baita banda e gostava de se divertir. Ele me ajudou a reduzir meu fluxo de caixa em muitos jogos de poker tardios.



O Grand Funk também foi em turnê com o Led Zeppelin. Claro, o som do Zeppelin era e ainda soa incrível, mas sempre os considerei extremamente arrogantes, marrentos e super protegidos pela mídia. É verdade que durante um show de abertura do Grand Funk, o público estava tão "maluco" com o som a ponto do Peter Grant cortar a energia?

Sim, Peter ordenou que cortassem o som, desligassem a coisa toda. Terry Knight saiu ao microfone e falou para o público, explicando que contratualmente o Grand Funk tinha que deixar o palco. A platéia jogou garrafas de vinho e cerveja no palco e saímos. Uma hora e meia depois, o Zeppelin subiu ao palco e tocou para menos da metade da casa. Quando eles puxaram o Grand Funk do palco, mais da metade da platéia saiu.

O Grand Funk sempre recebeu muito carinho dos fãs. É verdade que a banda não permitia ingressos a preços abusivos?

Sim, queríamos que todos nos vissem, não apenas aqueles que poderiam pagar um ingresso caro.

Como você conheceu o Frank Zappa? O cara era um gênio!

Tivemos vários nomes de produtores escritos em pequenos pedaços de papel e colocamos num chapéu. Enfiei a mão no chapéu e tirei Frank Zappa. Quando ele ouviu falar do nosso desejo de que ele nos produzisse, foi para Michigan ouvir as músicas que queríamos gravar. O que foi decisivo para que ele trabalhasse com o Grand Funk foi uma brincadeira do Craig Frost com o Don Brewer. Quando Zappa viu Craig Frost peidar na perna de Brewer, ele disse: "Fechou, estou trabalhando com vocês!".

Mark, muito obrigado pela entrevista. Estou tão feliz que você esteja retornando ao Brasil, durante a sua última passagem estava com o tornozelo fraturado! Valeu, cara!

Obrigado, cara! Você é bem-vindo, Deus te abençoe e se cuide.

Por Ugo Medeiros, da Coluna Blues Rock

Comentários