O que eu ouvi em março


Março foi um mês com menos audições. Porém, marcado por uma viagem muito legal e cheia de sabores deliciosos para Montevideo. Por isso, o número de discos degustados durante o mês foi um pouco menor que o de costume - ou não. Ao todo, foram 13 audições.

Abaixo estão os meus comentários sobre os CDs da minha coleção que ouvi durante o mês.


Terceiro álbum do Bon Jovi, Slippery When Wet foi lançado em agosto de 1986 e é um disco fundamental para entender o hard rock dos anos 1980. Estão aqui os primeiros grandes hits da banda - "You Give Love a Bad Name", "Livin' on a Prayer", "Wanted Dead or Alive" e "Never Say Goodbye". Surpreendentemente, o álbum envelheceu bem e não soa datado, e o principal fator para isso é a força de suas canções. Slippery When Wet vendeu mais de 15 milhões de cópias e chegou ao primeiro lugar da Billboard. Se você quer ter apenas um disco do Bon Jovi, não existe escolha melhor.


O Chico, padastro e pai de coração do Matias, vive falando que eu tenho que ter alguma coisa da Electric Light Orchestra aqui em casa. E não tinha nada até encontrar esse CD em uma feira de rua em Montevideo. A banda do vocalista, guitarrista e produtor Jeff Lynne subiu o nível do rock para as alturas, criando uma atmosfera musical riquíssima e com uma das personalidades mais fortes do rock. Independente do ano em que foram gravadas, as músicas da ELO apresentam sempre os mesmos timbres, a mesma ambientação, em um trabalho de produção que não envelheceu nada com o passar dos anos. Jeff Lynne é gênio, é um enorme fã dos Beatles e a Electric Light Orchestra é o seu presente para o mundo.


Primeiro álbum inteiramente ao vivo do Pink Floyd, Delicate Sound of Thunder foi gravado durante cinco noites no Nassau Coliseum, em Long Island, Nova York, em agosto de 1988. O disco, duplo, chegou às lojas no dia 22 de novembro daquele ano e vendeu mais de 2 milhões de cópias em todo o mundo. Este trabalho foi a afirmação de que o Pink Floyd liderado por David Gilmour e sem Roger Waters tinha público e era (muito) viável comercialmente. A performance dos músicos é ótima, e o show é dividido em duas partes. A primeira é dominada por músicas de A Momentary Lapse of Reason (1987), com destaque para "Learning to Fly" e "On the Turning Away", enquanto a segunda traz clássicos imortais como "Time", "Money", "Wish You Were Here" e "Comfortably Numb". E que me perdoem os puristas, mas está neste álbum a versão definitiva de "One of These Days", com Guy Pratt arrepiando no baixo. Tem que ter!


Tem fã do Led Zeppelin que vive sonhando com o retorno da banda e não acompanha o que músicos como Robert Plant andam fazendo atualmente. Ficam sonhando com o passado e esquecem de viver o presente. O vocalista possui uma longa carreira solo, que ficou especialmente interessante a partir dos anos 2000, quando abandonou o hard rock e mergulhou no blues, no country e em alguns lances de world music e desenvolveu uma sonoridade belíssima. Band of Joy saiu em 2010 e é não menos que excelente. Robert Plant é um cara que sabe envelhecer com dignidade, moldando a sua arte à experiência que possui e às limitações que o tempo traz. Coisa de gênio, como sempre foi.


Este é o primeiro álbum do The Cure e foi lançado no dia 8 de maio de 1979 na Inglaterra com o título de Three Imaginary Boys. Poucos meses depois, desembarcou nos Estados Unidos rebatizado com o título de seu grande hit, a imortal "Boys Don't Cry". Aqui ouvimos uma banda jovem e cheia de ideias, ainda repleta da energia do punk mas já demostrando a personalidade distinta que a destacaria nos anos seguintes. Outro grande hit foi a polêmica "Killing an Arab", e ainda temos como destaques as ótimas e deliciosas "10:15 Saturday Night", "Jumping Someone Else's Train" e "Grinding Halt". Prestes a comemorar 40 anos de vida, segue com energia adolescente.


Um dos discos da vida: Bloodletting, terceiro do Concrete Blonde. Saiu em maio de 1990 e tem algumas das músicas que mais ouvi durante as décadas de 1990 e 2000. Amo essa banda e acho que ele deveria ser muito mais (re)conhecida do que é. Entre as faixas, pérolas como "Caroline", "Darkening of the Light", "Lullabye" e "Tomorrow, Wendy" - essa última se tornou um hino na luta contra a AIDS. E tem "Joey", uma das canções mais lindas que você irá ouvir nessa sua passagem por este plano. Clássico!


Entre as bandas do chamado retrô rock, os suecos do Graveyard são uma das mais poeirentas e estradeiras. Seu som foi feito para pegar a estrada. O hard rock do quarteto é todo construído com riffs certeiros e uma dupla de baixo e bateria que sabe o que está fazendo. Mas é quando investe nas canções mais contemplativas ou viajantes (chame como quiser), que a banda alcança os melhores resultados, muito pela voz suja e embebida em cigarro, bebida e noites mal dormidas de seu vocalista. Este é o quarto álbum do grupo e foi lançado em 2015. Mais um belo disco de uma banda pouco falada, mas que é absolutamente sensacional!


Este é Peace, o quinto álbum da banda sueca Graveyard. Ele foi lançado em maio de 2018. Até então, os caras tinham uma discografia irrepreensível. No entanto, isso acabou aqui. Peace é um álbum meio confuso, claramente inferior aos quatro anteriores e que, muito provavelmente, alcançou esse resultado por ter sido lançado após a banda anunciar uma parada e mudar de ideia alguns anos depois, trazendo junto uma alteração na formação. O lado contemplativo do Graveyard, e que era uma das principais qualidades do grupo, se perdeu aqui, dando lugar a canções medianas e que não acrescentam praticamente nada à discografia do grupo. E como curiosidade na edição brasileira, lançada pela Shinigami Records, temos um OBI, que é aquele papel que vai na lateral do CD e traz informações sobre a banda e o disco. Quando se trata de um LP, entendo esse item, e ele faz parte da cultura de quem curte os vinis japoneses. Mas em CD? Não sei o que vou fazer e onde vou guardar esse pedaço de papel agora. Sugestões?


Thin Lizzy: a banda que deveria ter se tornado gigante, rodando nos fones de ouvido, caixas de som e playlists e fazendo parte da vida das pessoas como Queen, Deep Purple e Black Sabbath fazem, mas que infelizmente nunca aconteceu. Da mesma forma que sobram músicas excelentes, antológicas e de facílima assimilação na carreira do grupo, não faltaram problemas na trajetória dos caras, principalmente o vício crônico que matou seu líder, o vocalista e baixista Phil Lynott. Mas ainda dá tempo de ouvir e sempre é hora de redescobrir a banda. Ouça Thin Lizzy. Hoje e sempre. Seus ouvidos agradecem, e seu coração nem se fala.


A idade chega e deixa tudo mais extremo. Na medida em que temos mais experiência para lidar com as coisas da vida, na música ela se traduz em um apreço profundo pelos extremos. Pelo menos para mim. Ao mesmo tempo em que tenho ouvido cada vez mais metal agressivo, meus dias são tomados por doses cada vez maiores de soft rock. Essa música doce e agradável que não abre mão da melodia e alimenta a alma e o coração. E, nesse sentido, poucas bandas fizeram o que o Fleetwood Mac fez. Monstros, gênios e únicos. Como a vida de cada um de nós.


A união entre a energia do rock e a acessibilidade do pop fez a fama de bandas como Pixies e Nirvana. Mas essa mistura começou antes. O The Replacements foi uma das melhores bandas dos anos 1980 fazendo exatamente isso. Influenciados pelo Big Star (o pai dessa alquimia), o quarteto sempre teve como figura principal o vocalista e guitarrista Paul Westerberg. Exímio compositor, Westerberg lapidou o som do grupo até alcançar o perfeito equilíbrio entre o rock and roll e o pop. Este disco é o sexto álbum dos caras e saiu em 1989. Ouvindo trinta anos depois, continua soando brilhante.


Conheci o Red Hot Chili Peppers no final dos anos 1980 através do disco The Uplift Mofo Party Plant, terceiro álbum do quarteto e que saiu em 1987. Era um funk alucinado com produção do maluco do George Clinton e que me pegou de jeito. No entanto, a banda mudou o seu som ao longo dos anos, o que é absolutamente natural. Pra mim, o quarteto tem três fases bem distintas: a energia e o balanço funk do início, o estouro mundial em 1991 e a excelência pop de Californication, e o que veio depois disso, quando a banda me parece mais madura e sóbria, além de um tanto contemplativa e repetitiva. Esse é uma das 12 compilações lançadas pelos caras e vendeu mais de 8 milhões de cópias em todo o mundo. Fazia um tempo que eu não ouvia o grupo, e é bom retornar a um universo sonoro que traz boas recordações. Apesar de achar que o RHCP se transformou em uma banda sem ideias, é evidente que os caras criaram um som próprio e possuem um catálogo de hits invejável.


Quando uma banda faz o que o Fleetwood Mac fez em Rumours (1977), ela alcança ao mesmo tempo uma benção e uma maldição. O disco vendeu mais de 40 milhões de cópias e é um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos. Mas como dar o passo seguinte? Para onde ir? Como igualar o inigualável? A resposta do Fleetwood Mac foi Tusk (1979), um disco duplo onde cada um dos músicos tentou imprimir a sua personalidade, colocando-a acima da banda. Não por acaso, a crítica comparou o trabalho com o Álbum Branco dos Beatles, onde uma situação similar também ocorreu. Tusk vendeu um décimo de Rumours, mas independente da aceitação comercial é um belíssimo disco, repleto de músicas deliciosas e com pelo menos um grande hit, a linda "Sara", composta e cantada por Stevie Nicks. Discoteca básica, vai fundo!

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