Apenas duas fotos, nenhuma filmagem, 29 canções gravadas e uma série de lendas envolvendo sua vida e morte.
"Robert Johnson acorda o gênio dentro de nós. Mas com o gênio, também vem o diabo", é o que diz Keb' Mo' no documentário O Diabo na Encruzilhada, novo capítulo da sensacional Remastered, série documental que investiga episódios e personagens importantes do mundo da música.
Com direção de Brian Oakes, o filme analisa a vida de uma das mais misteriosas e míticas figuras da música mundial, Robert Johnson, bluesman norte-americano que morreu aos 27 anos, em agosto de 1938. Relatos de estudiosos da cultura afro-americana, familiares, críticos musicais e diversos nomes relacionados ao blues debatem as histórias e mitos que ainda gravitam sobre Johnson. A infância difícil no Mississippi, a ausência de uma figura paterna, as relações amorosas, a vida pregressa de músico itinerante peregrinando de cidade em cidade, o alcoolismo e como o talento de Robert Johnson se desenvolveu, visionando além do mito de um suposto pacto com o diabo.
"O mito é tão poderoso. Por que as pessoas gostam de sentir que entenderam o motivo por trás das coisas, para sentirem que sabem. Há coisas que não devemos entender", é o que diz Steven Johnson, neto de Robert Johnson. "Eu sei que em algum momento na vida de todos nós chegamos a uma encruzilhada e temos que escolher o que vamos sacrificar para chegar à grandeza", complementa. O provável encontro com o capeta na encruzilhada é analisado, mas joga luz principalmente no velho confronto entre religião e cultura popular. As letras de Johnson dão muitas pistas sobre a absorção e seu envolvimento com o hoodoo, forma tradicional de magia afro-americana bastante praticada no sul dos Estados Unidos nas décadas de 1920 e 1930.
O doc conta com participações de Keith Richards, Bonnie Raitt, Taj Majal, Terry 'Harmonica' Bean e outros tantos músicos e apaixonados pelo blues. Entre os depoimentos, bacana ver por ali a figura carismática de Bill Howl-N-Madd Perry, músico que no final de 2018 passou pelo Rio Grande do Sul com shows em Porto Alegre, Caxias do Sul e Santa Maria.
Além da sensacional música de Robert Johnson, o documentário também é uma aula de história, esmiuçando a dramaticidade de uma das épocas mais difíceis para a sobrevivência digna do homem negro norte-americano.
No meu ponto de vista, o diabo na alma de Johnson era a própria vida de exploração que ele e seus ancestrais fugiam, sob o nefasto domínio de uma escravidão simbólica. Foi no blues que o músico encontrou sua alforria espiritual, um veículo que o ajudou a negociar sua breve existência entre nós. Na verdade, Robert Johnson ainda está entre nós.
Indispensável!
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