Não foi apenas o gosto por roupas escuras que fez Johnny Cash ficar conhecido como "o homem de preto". Nascido em 1932 em Kingsland, nos cafundós do Arkansas, ele paira como uma graúna sobre os contornos da águia americana dentro do gênero mais tradicional dos EUA: a música country. Johnny nunca quis saber de cantar feitos heróicos de pioneiros. A estrada, as mulheres, a bebida, os cowboys errantes e a eterna atitude fora-da-lei sempre foram os temas recorrentes em sua profunda voz de barítono.
Filho de agricultores pobres, ele chegou a passar fome na infância. Estourou em 1956 com "I Walk the Line", e, junto com Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Carl Perkins, foi sócio do chamado Million Dollar Quartet, que reunia na gravadora Sun os grandes pioneiros do rock and roll.
Na década de 1960, morando na Califórnia, Johnny viveu anos entre drogas, bebidas, confusões. E prisões. A mais famosa delas aconteceu em 1965: foi pego pela alfândega americana, na fronteira com o México, tentando entrar com mais de mil pílulas de anfetamina no estojo de sua guitarra. A vida bandida seguiu com um acidente de carro, uma overdose quase fatal e o divórcio da primeira mulher.
Depois da mudança para Nashville e do início do relacionamento com a cantora June Carter, com quem se casou no início de 1968, Cash livrou-se das drogas e se converteu ao fundamentalismo cristão. Com experiências reais por trás das grades, nesse mesmo ano ele convenceu a Columbia a gravar um show na Folsom Prison, penitenciária onde esteve detido e que dava nome a um de seus primeiros hits na Sun ("Folsom Prison Blues", com a famosa frase "matei um homem em Reno só para vê-lo morrer"). Johnny desfilou para a plateia canções que retratavam a opressão do sistema carcerário ("The Wall"), as drogas ("Cocaine Blues") e o corredor da morte ("25 Minutes to Go").
O disco vendeu mais de um milhão de cópias, chegando a superar os Beatles na época. Isso motivou a edição de um álbum semelhante em 1969, dessa vez no presídio californiano de San Quentin, revisitando temas carcerários na faixa-título ("San Quentin, odeio cada polegada sua / Você me cortou e me deixou cheio de cicatrizes / E vou sair daqui um homem mais sábio e mais fraco"), em "I Got Stripes", em "Wanted Man" (de Bob Dylan) e na engraçada "A Boy Named Sue", sobre um cara que volta para matar o pai que o batizara com nome de mulher. O sucesso foi ainda maior.
Texto escrito por Celso Pucci e publicado na Bizz #164, de março de 1999
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