Discoteca Básica Bizz #167: B.B. King - Live in Cook County Jail (1971)


É impossível apontar o melhor título entre a vasta discografia do rei do blues, mas Live in Cook County Jail é representativo não só pela demonstração do talento de Riley B. King como por registrar um show emocionante para 2 mil detentos na penitenciária de Chicago.

A festa começa com "Everyday I Have the Blues" (de Memphis Slim) num ritmo alucinante e com os metais em brasa, como se costumava falar na época. A partir daí, todos os elementos que formaram e consagraram seu estilo peculiar desfilam pelo palco: a sofisticação do jazz (veja-se por exemplo o trompete que responde alguns versos em "How Blue Can You Get"), o soul (que permeia todos os arranjos dos metais) e as frases de guitarra recheadas de bends lancinantes e vibratos (como em "Worry, Worry, Worry"), que o fazem balançar a cabeça com aquele jeito bonachão que é sua marca registrada.

Um dos pontos altos, claro, é seu maior sucesso, "The Thrill is Gone" - tão sentido que dá a impressão de que ele vai sair do palco chorando. Mas para lembrar que, afinal, há cura para todas as desilusões, a música termina em alto astral, graças a um sutil funk que surge quase nos últimos compassos da canção.


A música não é o único atrativo em B.B. King, e esse é um dos segredos de seu sucesso. Verdadeiro showman, o monarca brinca e conversa com a plateia como se estivesse entre amigos, mesmo diante de um público barra pesada como aquele. Até um artifício que já se tornou banal em qualquer tipo de show, o do chamado-e-resposta (o clássico "repitam comigo"), causa surpresa pelo total controle que ele tem da situação. King pede à ala masculina reunida no pátio que faça uma homenagem ao setor feminino. Diz uma frase e a bandidagem repete em uníssono, se derramando: "I love you!". Um artista menos carismático com certeza ouviria em vez disso uma saraivada de palavrões.

Malicioso, ele filosofa o tempo inteiro sobre seus assuntos preferidos: as mulheres e os relacionamentos amorosos. "As mulheres gostam de saber que são amadas, então digam a elas que as amam, mesmo que seja mentira", é uma de suas tiradas.

Terminado o show, todos estão em êxtase. Modesto, B.B. King elogia sua guitarra, que ele carinhosamente chama de Lucille, pela performance excepcional. E os presos ficam tão satisfeitos que até aplaudem os funcionários da cadeia.

Texto escrito por Helton Ribeiro e publicado na Bizz #167, de junho de 1999

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