Não existe, na
história da música pop, biografia mais curiosa. Pregador desde os 7 anos de
idade e líder de uma igreja, The House of God for All People. Agente
funerário e proprietário de uma rede de farmácias, restaurantes e serviços de
limusines. Pai de 21 filhos, avô de 14 netos e um dos principais cantores e
pioneiros da soul music. Menos conhecido que Ray Charles e Sam Cooke, mas de
igual importância para a definição do gênero.
Essa breve
descrição está longe de traçar o retrato completo de Solomon Burke. O melhor
livro escrito sobre o pop negro americano - Sweet Soul Music, de Peter
Guralnick - gasta dezenas de páginas só com as inacreditáveis histórias vividas
pelo Bispo, como o chamavam colegas e fãs.
Burke começou a
gravar, ainda adolescente, em 1954, mas abandonou a música dois anos depois,
desiludido. Passou um tempo na vagabundagem, mas voltou a estudar e iniciou uma
bem sucedida carreira empresarial. Voltou a cantar por insistência do dono do
selo Singular Records, e em pouco tempo era contratado pela Atlantic, gravadora
que fez a história do rhythm and blues entre o final dos anos 1950 e a primeira
metade dos 1960.
Os clássicos de
Burke estão todos nesta coletânea, com singles dos sete anos (1961-68) em que
esteve com a Atlantic. O primeiro deles, "Just Out of Reach (Of My Two
Open Arms)", não podia ser mais improvável: uma versão de uma balada
country que fracassara na voz de especialistas como Patsy Cline. O barítono
romântico, rasgado, na melhor tradição gospel, começa a arrepiar para valer em
três faixas que entram tranquilamente em qualquer antologia soul: "Cry to
Me","Everybody Needs Somebody to Love" (ambas gravadas pelos
Rolling Stones no início da carreira) e "If You Need Me".
Ainda assim, a
intensidade máxima talvez esteja em "The Price", escancarando a veia
do pregador. A música nasceu de um sermão, pouco depois de o cantor receber a
papelada de seu divórcio. Dizem, aliás, que no palco o Bispo só era menos
incendiário do que James Brown.
Para completar, o
disco inclui um bônus: "Soul Meeting", o até então raríssimo single
gravado pelo The Soul Clan, grupo vocal fundado por Solomon Burke com mais
quatro ilustres soulmen: Don Covay, Joe Tex, Arthur Conley e Ben E. King.
Texto escrito por
José Augusto Lemos e publicado na Bizz #171, de outubro de 1999
Estava escutando um podcast do PoeiraZine esta semana onde falam justamente sobre a Biblioteca da Bizz e sobre a importância dela em uma ´poca em que a mídia escrita era a principal referência para novas descobertas. Curiosamente eles debateram sobre a problemática de colocar coletâneas nesta seção.
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