Review: Chickenfoot - Chickenfoot (2009)


Sou um grande fã de Sammy Hagar. Inclusive, a minha fase predileta do Van Halen é com o Red Rocker à frente. Este disco, lançado há dez anos, marcou o início de um novo capítulo na carreira de Hagar, em uma nova banda ao lado do brother dos tempos de Van Halen, o baixista Michael Anthony, do guitar axe Joe Satriani e do batera Chad Smith, do Red Hot Chili Peppers e colaborador assíduo de Glenn Hughes.

A alcunha supergrupo, apesar de batida, cai como uma luva no Chickenfoot, tanto pelos nomes envolvidos quanto pela imensa expectativa que o grupo gerou, afinal estamos falando de quatro caras que fizeram história no rock. As onze faixas de Chickenfoot, o disco, trazem uma mescla de hard rock californiano com AOR, um som maduro e muito bem construído, e sem tantas firulas instrumentais como seria de se supor.

O disco abre lá em cima com a ensolarada "Avenida Resolution", repleta de groove e alto astral, além de um bom solo de Satriani. A faixa seguinte, "Soap on a Rope", traz um belo riff e um balanço funk para o play, lembrando, e muito, o que Sammy fazia em seus tempos de Van Halen - o que, para mim, é motivo de alegria. Satriani voa tranquilo em sua guitarra, alternando entre as bases e licks que dão um tempero extra à composição. Destaque também para Michael Anthony e Chad Smith nessa faixa, segurando a estrutura da canção de maneira exemplar. Vale mencionar o interessante timbre utilizado por Joe Satriani no solo de "Soap on a Rope", muito agradável, enquanto o solo propriamente dito é curto e certeito, inserindo-se perfeitamente na canção.

A seguir vem uma das faixas mais legais do CD. "Sexy Little Thing" é um hard rock alto astral total, com ótimas linhas vocais de Sammy alternadas com riffs de Satriani, tudo embalado em um balanço que desafia qualquer um a ficar parado. O refrão dessa música é sensacional, um dos melhores do álbum. 

O clima se mantém lá em cima com a faixa seguinte, que foi justamente o primeiro single liberado pelo Chickenfoot. "Oh Yeah" é um hardão repleto de groove, cantado com extrema classe e competência por Sammy Hagar e com um refrão pra lá de maneiro, daqueles que a gente fica esperando a hora pra cantar junto. Grande música!

O que se percebe em grande parte das composições é o grande entrosamento entre Anthony e Smith, explorando sempre bases repletas de balanço calcadas no funk setentista, o que reforça ainda mais o clima festeiro onipresente nas composições de Sammy Hagar.

O hard bate forte em "Get it Up", uma das mais pesadas, com um andamento meio tribal e muito interessante. "Down the Train", mais cadenciada e com uma estrutura mais solta feita sob medida para Joe Satriani alçar vôos infinitos, nasceu para brilhar nos shows. "My Kinda Girl" é outra com o astral lá em cima e um refrão muito legal. Destaque para os backing vocals de Michael Anthony.

A balada "Learning to Fall" mostra bem a veia AOR do Chickenfoot, e, pessoalmente, não me agradou muito, pois a achei com um refrão meloso demais. Mesmo assim, merecem atenção os backings de Anthony, mais uma vez muito bons, assim como Sammy, que mostra o porque de ser considerado uma das grandes vozes do hard rock.

"Turnin' Left" é uma delícia que em um primeiro momento parece saída de um disco solo de Satriani, para logo depois cair em ótimas linhas vocais onde Hagar canta acompanhado por Anthony, enquanto Joe executa uma base que é puro groove. Muito boa, uma faixa empolgante, com certeza uma das melhores do disco. Ouça no volume máximo e prepare-se para curtir aos montes.

Fechando o álbum temos a contemplativa "Future in the Past", essa sim uma grande balada, que, ao contrário de "Learning to Fall", não apela para melodias fáceis e pra lá de manjadas, alternando-se entre os vocais muito bem encaixados por Sammy e uma base repleta de malícia de Satriani, fechando o disco em grande estilo.

Concluindo, essa estreia do Chickenfoot mostra-se muito acima da média. Sammy Hagar mostra que ainda é um cantor fenomenal, enquanto Joe Satriani demonstra que pode sim, e deve, fazer parte de uma banda, onde o seu talento único na guitarra conspira a favor das composições e não em inúteis exercícios que só agradam o próprio umbigo. Michael Anthony, discreto mas seguro, demonstra que não é preciso reinventar a roda para se destacar em seu instrumento, ainda mais acompanhando figuras tão cheias de brilho próprio como Hagar e Satriani. E Chad Smith atesta, de uma vez por todas, que é um grande baterista, tocando de uma maneira totalmente diferente da que faz no Red Hot Chili Peppers.

Sabe quem vai curtir esse disco? Pessoas como eu, órfãs do Van Halen - que parece ter entrado em um limbo onde a criação de novas canções é muito mais uma utopia alimentada pelos fãs do que um desejo dos músicos - e que agora tem uma excelente banda para fazer companhia naquele papo com os amigos, repletos de histórias pitorescas e bebidas ardentes.

Longa vida ao Chickenfoot! O hard rock agradece.

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