Review: Grateful Dead - American Beauty (1970)


E foi com American Beauty que o Grateful Dead alcançou um som genuinamente fantástico, com canções memoráveis e clássicos típicos da virada dos anos 1960 para os 1970. E o disco é agradável por misturar na medida certa instrumentos elétricos e acústicos e com todos os músicos se destacando.

A banda era um verdadeiro combo e entrou no estúdio formada por Jerry Garcia (guitarras pedal steel, piano e vocais), o jovem Bob Weir (guitarra base e vocais),  Mickey Hart (percussão), Bill Kreutzmann (bateria), Phil Lesh (baixo, guitarra, piano e vocais) e o falecido beberrão Ron "Pigpen" McKernan (harmônica e vocais). 

Logo de cara temos a doce e delicada "Box of Rain", muito na veia de outra super banda da época, o Crosby, Still, Nash & Young. A canção transporta o ouvinte com um som suave em que Phil Lesh queria tanto cantar para seu pai que estava moribundo. Robert Hunter escreveu as letras que desfilam poesia em "Saia de qualquer porta sinta o seu caminho, sinta o seu caminho como no dia anterior/ Talvez você encontre direção em algum canto onde está esperando para conhecê-lo". Uma belíssima abertura de disco, sem dúvida alguma.

"Friend of the Devil" invoca um espírito mais brincalhão na linha de Simon & Garfunkel, arrancando um sorriso de quem a escuta. Na letra, um homem que está fugindo da lei passa por quase todos os Estados Unidos - cortesia de Jerry Garcia. A instrumentação acústica é linda, incluindo um excelente trabalho de bandolim do convidado David Grisman, e é a primeira de três músicas deste disco que capta exatamente o que o Dead adorava fazer: a vida na estrada. 

A coisa começa a ficar mais mais séria em "Sugar Magnolia", um clássico instantâneo animado e bem alto astral imortalizado na voz de Bob Weir com um ar rock country, se tornando uma das favoritas dos fãs.


"Operator" traz um clima mais cadenciado cantado por Pigpen, um blues com ar bem folk. "Candyman" é outro momento de brilho de Jerry Garcia. Hipnótica, a canção é um blues mais arrastado e bucólico, com um instrumental intimista apoiado nas guitarras acústicas. A balada "Ripple" segue a mesma linha, mas desta vez um pouco mais country do que a canção anterior . O segundo petardo que trata da vida na estrada é "Brokedown Palace" e relata uma jornada de um viajante - mais precisamente os Deadheads que viajavam de cidade em cidade com a banda em suas turnês - mais fiel. Uma justa homenagem da banda aos seus fiéis acompanhantes, que ficaram mundialmente famosos pela dedicação e fanatismo. 

"Till the Morning Comes" é mais alegre, com um ar de anos 1960 ainda pairando e trazendo a banda entrosada nas passagens - indicando que os anos de estrada e horas de jams ao vivo trouxeram resultados positivos. A banda parece tocar por instinto. Uma bela surpresa deste grande álbum. A lenta e potente "Attics of My Life" tem um clima bem Grateful Dead, com destaque ao piano emoldurando e bela harmonia - que fica espetacular com os vocais em coro. Estamos diante uma das músicas mais bonitas do disco, com harmonias vocais de Garcia, Weir e Lesh combinando perfeitamente. 

A terceira e última música que fala da vida da estrada fecha o disco de maneira brilhante! "Truckin'" é praticamente uma história autobiográfica sobre a vida na estrada literalmente, onde todos os locais se misturam em um "quem é quem" das cidades americanas. No final das contas, a canção lembra que todos os locais são os mesmos e o que importa é ir tocar para seus fãs e depois descansar em casa, recuperar as energias para cair na estrada novamente. Cidades se misturam: "Chicago, Nova York, Detroit, está tudo na mesma rua". 

"Truckin'" é o hit do álbum e sua música mais famosa, ao lado de "Sugar Magnolia". É também o número mais impressionante aqui, já que a jornada até agora da banda é narrada: "Às vezes a luz está brilhando em mim  / Outras vezes mal consigo ver / Ultimamente me ocorre / Que viagem longa e estranha tem sido".

Se tivesse que escolher apenas uma música do disco? American Beauty é o retrato sonoro do talento do Grateful Dead. Vale destacar "Truckin'", por contar a vida da banda sem papas na língua! 

Por Aroldo Antonio Glomb Junior

Sobre o autor Aroldo Antonio Glomb Junior tem 40 anos, é jornalista, Athleticano e fanático por boa música desde que completou seus 10 anos de idade. É o autor do projeto SOBRE O SOM DOS SETENTA, que reúne resenhas de diversos discos lançados durante os anos 1970, escrevendo desde clássicos da década até discos mais obscuros, independente do estilo.



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