Tobias Sammet não inventou a ópera-rock, isso deve ficar claro para todo mundo. A honra, provavelmente, recai sobre o The Who e a clássica Tommy (1969). Porém, o vocalista alemão pode ser apontado como o pai da metal ópera – se não foi o seu criador, inegavelmente o crédito por formatá-la e desenvolvê-la na era moderna do gênero é toda sua. Tudo que foi apresentado em The Metal Opera (2001), da estrutura narrativa à participação de vozes famosas, foi revisitado inúmeras vezes depois pelos mais variados artistas.
Marius
Danielsen é um desses caras influenciados por Tobias. O guitarrista da banda
norueguesa Darkest Sins bebe diretamente nos primeiros trabalhos do Avantasia
em sua própria metal ópera, Legend of Valley Doom. A primeira parte foi lançada
em 2015, e a sua sequência, disponibilizada em 2018 na Europa, acaba chegar no
Brasil pela Hellion Records.
Legendo of
Valley Doom Part 2 vem com treze músicas e conta com as participações especiais
de nomes como Michael Kiske, Blaze Bayley, Tim Ripper Owens, Bruce Kullick,
Tracy G, Vinnie Appice e muitos outros músicos. O esquema é o mesmo
desenvolvido por Sammet no Avantasia: cada faixa traz um vocalista convidado,
além de instrumentistas. A base é toda feita por Danielsen ao lado de seu irmão
Pete no teclado e Stian Kristoffersen, do Pagan’s Mind, na bateria.
Há uma
alternância entre composições rápidas e épicas na mais pura tradição do power metal
como “Rise of the Dark Empire” – que efetivamente começa o disco após a
introdução com “King Thorgan’s Hymn”, que é em sua essência um hino crescente e
pomposo -, com a voz de Mark Boals, e “Visions of the Night”, com Alessio
Garavello como vocalista principal. A história é contada através da presença constante
de um narrador e pela entrada de faixas mais calmas e climáticas, o que
transmite uma enorme carga de dramaticidade ao trabalho. É o caso, por exemplo,
da bonita “Tower of Knowledge”, que traz um refrão pegajoso e um belo solo de
Tom Naumann, guitarrista do Primal Fear. Os coros, é claro, também são um
recurso usado com frequência, enfatizando a grandiosidade e o clima épico das
composições, principalmente as mais rápidas.
O início de “Crystal
Mountains” me levou de volta a Something Wicked This Way Comes, sensacional
álbum lançado pelo Iced Earth em 1998, para logo depois desembocar em uma
canção que inicia com um andamento mais cadenciado e evolui para um trecho
central que mais uma vez evidencia a ascendência power metal do projeto.
Talvez um
dos principais atrativos de Legend of Valley Doom Part 2 seja a
participação de Blaze Bayley. O ex-vocalista do Iron Maiden é a voz de “By the
Dragon’s Breath”, e surpreende de maneira bastante positiva. Após atravessar um
inferno astral com a perda da esposa, que acabou se refletindo em discos bem
medianos, Blaze retomou a qualidade de sua carreira solo nos últimos anos, e
isso é perceptível também aqui. Os gritos iniciais de “By the Dragon’s Breath”
chegam a lembrar até mesmo o registro vocal de Dio, por mais que isso soe
compreensivelmente exagerado. A música é uma das melhores do álbum e conta com
um solo de Jens Ludwig, do Edguy.
Outro ponto
alto é “Angel of Light”, que tem Michael Kiske como protagonista e
traz o vocalista trilhando o seu habitat natural – ou seja, o metal melódico na
linha dos clássicos Keeper of the Seven Keys. “Temple of the Ancient God”, com
o ex-Vision Divine e atual tecladista do Whitesnaje, Michele Luppi, na voz, e
Bruce Kullick (Kiss e Grand Funk Railroad) no solo, é outra que merece
atenção. E é um tanto curioso ouvir um cara como Kullick, cujo DNA sonoro
historicamente sempre explorou a esfera do hard rock e até do blues, adequando
o seu estilo a um disco como esse e dando, porque não, a sua própria
interpretação do power metal.
Um ponto
curioso é a participação da guitarrista Jennifer Batten
na música “Under the Silver Moon”. Ela tocou por dez anos com Michael Jackson,
entre 1987 e 1997, e também fez parte da banda de Jeff Beck.
De modo
geral, no entanto, Legend of Valley Doom Part 2 é um álbum um tanto inconstante, que
traz boas canções mas que sofre pela alternância de ritmo. Quando a
coisa vai embalar, a entrada de composições mais lentas funciona como um banho
de água fria na maioria das vezes. Essa escolha em priorizar o lado dramático
da obra acabou prejudicando o resultado final, e o exemplo mais emblemático
disso é a participação de Tim Ripper Owens em “We Stand Together”, canção que
fecha o disco. Lenta e com uma melodia meio brega, tem cara de introdução e dá todas as dicas de que irá explodir em um andamento mais rápido a qualquer momento, mas isso não
acontece, e ao seu final fica a sensação de que a presença de Owens foi mal
aproveitada.
Se você
curte metal ópera eis aqui um disco que pode chamar a sua atenção, ainda que o
resultado final, principalmente pelos nomes envolvidos, tivesse potencial para
render mais do que rendeu.
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