Review: Osibisa - Woyaya (1971)



Vamos falar a verdade aqui: quantas vezes você, meu amigo e minha amiga, comprou um disco pela capa? Inúmeras, não é? E se a capa fosse cria de um gênio como Roger Dean então a compra era garantida, acertei? O mestre criou universos inacreditáveis e deu cor e vida a discos de gigantes como Yes e Uriah Heep, só para citar alguns exemplos. É, estamos no mesmo barco ...

O ritual era colocar o disco na vitrola, sentar na poltrona e ficar apreciando os detalhes da arte enquanto a agulha passava pelas faixas. A imagem da capa ficava atrelada ao LP, era inevitável, e como o traço de Dean estava em diversos trabalhos incríveis (principalmente de rock progressivo), todo e qualquer álbum com o seu trabalho era como uma carta de recomendação para a banda.

Escrevo tudo isso para justificar esta descoberta maravilhosa que é o Osibisa. Compre pela capa, fique pela música! O que temos é uma banda formado por quatro caras talentosos que vieram da África e se juntaram com outros três músicos igualmente talentosos do Caribe (todos com suas roupas típicas e coloridas) para criar uma massa sonora digna das artes de Roger Dean

A banda era formada por:

Ala Africana
Teddy Osei (de Gana, tocando sax tenor, flautas, vocais e tambores africanos)
Sol Amarfio (de Gana também, na bateria, bongôs e demais instrumentos de percussão)
Mac Tontoh (outro ganêes, responsável pelo trompete e instrumentos exóticos como  kabasa)
Abdul Loughty Lasisi Amao (nigeriano, sax tenor, sax barítono, congas, flauta e outros instrumentos típicos de seu país)
 


Ala Centro Americana
Spartacus R (Granada, o homem do baixo e também percussão)
Wendell Richardson (Antígua, guitarrista fantástico e vocalista)
Robert Bailey (Trinidad, órgão, piano e timbales)


E o som do disco tem batidas tribais, guitarras e órgãos característicos do rock com pitadas de fusion, sopros de puro jazz e muita vitalidade. Um  som encorpado em que a improvisação corre solta e as melodias estão em todos os solos de guitarra - aliás, muito bem colocados ao longo das dançantes e hipnóticas faixas. Não se engane: Woyaya é, sim, um álbum de rock classudo, praticamente uma pérola escondida com pitadas de jazz e ritmos latinos e africanos que dão um sabor especial.

Todos eram músicos talentosos e experientes, com participações em gravações com outros artistas. A chamada “ala ganesa”, por exemplo, mandou ver nas percussões africanas da canção “Look At Yourself”, do Uriah Heep, naquele mesmo ano. O tecladista da banda britânica, Ken Hensley, declarou que Teddy, Mac e Loughty acrescentaram uma excelente percussão na parte final da música título daquele disco do Heep.


Vamos às canções então. “Beautiful Seven” começa com trovões tal qual o primeiro disco do Black Sabbath, mas o som não é de terror. O que segue é uma flauta ecoando e chamando um espírito selvagem, até que a guitarra vai entrando aos poucos trazendo um clima marcante sem atropelos, dentro do estilo único da banda - sério, é preciso escutar para entender. “Y Sharp” (composta por todo o grupo) é uma canção pra cima, com um entrosamento entre sopro e guitarras emoldurado por um baixo digno das melhores levadas funkeadas (ouro estilo que a banda aposta em certos momentos). A terceira faixa do lado A é “Spirits Up Above” e traz uma interessante combinação entre sopros e órgão, com vocais em coro pra lá de inspirados e com uma pegada meio gospel, antes de cair em uma jazz fusion latino/africano bem característico, lembrando um pouco o que Santana fazia.  Parece que a “indicação” de Roger Dean estava dando certo.

Virando o LP escutamos algumas palavras incompreensíveis, provavelmente de algum dialeto africano, que vai ganhando força com uma série de batidas sincronizadas e tribais, como um ritual de dentro da Mãe África. Este é o início de “Survival”, que muda completamente quando vão entrando os sopros de Teddy Osei, Lasisi Amao, e Mac Tontoh. O swing encorpa em definitivo com aquele clima dançante chegando em um solo de sax que entra no clima das batucadas. Uma grande canção, sem sombra de dúvida.

O disco segue com “Move On” (mais nos moldes tradicionais com pegada no rock latino e entradas de sopros bem acertadas), “Rabiatu” (oura com o pezinho fincado na África até no modo de cantar) e a espetacular “Woyaya” (mais tranquila e com aquele clima de que todos da banda estão unidos para algo grandioso, e ainda culminando em um rápido, porém eficiente, showzinho de percussão).

Este é um álbum que muitos compraram pela capa e que, assim como eu, ficaram pela música! Obrigado, Roger Dean.

O ponto alto do disco pode ser “Y Sharp”, não estou bem certo na verdade. Mas essa é, sem dúvida, a mais emblemática de todas as canções deste trabalho do Osibisa.

Por Aroldo Antonio Glomb Junior

Aroldo Antonio Glomb Junior tem 41 anos, é jornalista, Athleticano e fanático por boa música desde que completou seus 10 anos de idade. É o autor do projeto SOBRE O SOM DOS SETENTA, que reúne resenhas de diversos discos lançados durante os anos 1970, escrevendo desde clássicos da década até discos mais obscuros, independente do estilo.


Comentários

  1. Tenho esse album, década de 70. Quem quiser comprar, vai ficar querendo, não vendo por dinheiro algum, é uma relíquia, qualidade excelente!!!

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