Review: Soilwork - Verkligheten (2019)


Com mais de duas décadas de carreira, o Soilwork é uma das maiores forças do heavy metal contemporâneo, ainda que seu nome não seja um dos que venham sempre à mente. Geralmente citados juntos a grupos conterrâneos e do mesmo subgênero – o death metal melódico sueco – tais como In Flames, Dark Tranquillity e Arch Enemy, o Soilwork apresentou uma trajetória musical que conseguiu transcender as limitações dessa linha de som ao longo dos anos, retendo não apenas características fundamentais desse estilo (a agressividade sonora derivada do lado death metal do som, aliada ao trabalho melódico das guitarras e teclados), mas também contendo uma certa influência distinta, que se manifesta principalmente através dos vocais (urrados e limpos) do seu membro fundador, o vocalista Bjorn “Speed” Strid. Essa fórmula já havia sido aperfeiçoada com maestria nos álbuns The Panic Broadcast (2010), The Living Infinite (2013) e The Ride Majestic (2015), porém, aqui em Verkligheten podemos conferir que, mesmo em menor escala, há espaço para introduzir alguns novos elementos, ainda que de maneira quase sutil.

O álbum abre com uma breve faixa-título instrumental de clima bem leve e melancólico, mas logo parte para a pedrada “Arrival”, que se assemelha um pouco mais aos seus trabalhos do início de carreira, recheada por blast beats e apresentando uma das marcas registradas do som da banda: versos repletos de vocais gritados, com refrãos melódicos em vocais limpos, além de um solo de guitarra bastante empolgante. A partir daí somos saudados com uma trinca que mostra o grupo fazendo o que sabe fazer de melhor em apenas três canções: a intensa e envolvente “Bleeder Despoiler”, a melódica “Full Moon Shoals”, de tons bastante radiofônicos (que ganhou inclusive um videoclipe), e “The Nurturing Glance”, com uma levada pesada e contagiante, onde Speed dá o seu melhor nos vocais e talvez tenha um dos mais bonitos refrães deste disco. “When the Universe Spoke” encerra a primeira metade do álbum, fechando de certa forma o ciclo iniciado com “Arrival” ao repetir a mesma fórmula daquela canção até este ponto, onde a banda ainda se mostra um pouco mais calcada nos aspectos mais tradicionais do som pela qual ficou conhecida.

É na sétima faixa, “Stålfågel”, que de fato começamos a ver algo de novo, mesmo que ainda familiar, no som dos suecos, começando pelo tom dos teclados no início e no final da canção, que dão um clima quase oitentista à composição e foram certamente influenciados pelo projeto paralelo de AOR/classic rock de Speed e David Andersson (guitarrista), o The Night Flight Orchestra. A faixa traz Speed apresentando novamente alguns dos seus melhores vocais limpos, numa performance excelente e com irresistível apelo radiofônico (ainda maior que na anterior “Full Moon Shoals”). Uma curiosidade particular a respeito dessa música é que nas versões tradicionais do álbum (CD/LP) ela conta apenas com os vocais de Speed, enquanto uma outra versão, exclusiva para o iTunes, traz um dueto com Alissa White-Gluz (Arch Enemy, ex-The Agonist), onde ela mostra uma belíssima performance somente com vocais limpos e reforça a atmosfera semi-retrô da canção.

Em seguida temos uma sequência de duas canções que mostram a banda exibindo um pouco mais do seu som tradicional, com “The Wolves Are Back in Town” e “Witan” (onde os teclados voltam a ganhar um pouco mais de espaço). “The Ageless Whisper” é outra faixa onde as influências do The Night Flight Orchestra voltam a ficar evidentes e no início até poderia se passar por uma música do grupo (há inclusive a gravação de uma voz feminina ao fundo, que é uma espécie de marca registrada das canções do TNFO), mas isso só até Speed soltar um urro denunciando que esta é, na verdade, uma canção do Soilwork – e outro grande destaque do álbum, em boa parte por conta do seu clima mais melódico.

Na reta final chega a pesadíssima “Needles and Kin”, que conta com a participação de Tomi Joutsen (Amorphis) e traz novamente uma avalanche de blast beats para ninguém por defeito, cortesia do baterista estreante (em estúdio) BastianThusgaard, ex-aluno do dono anterior do posto, Dirk Verbeuren (hoje no Megadeth), e que deixa claro que a indicação de Dirk foi a melhor possível para a banda. Por último, temos “You Aquiver”, onde os teclados voltam a ganhar evidência e uma atmosfera que consegue ser em igual medida pesada, melódica e melancólica, fechando a segunda metade do álbum e a experiência musical proporcionada por ele. Como bônus, algumas edições ainda trazem as faixas do EP Underworld – “Summerburned and Winterblown”, “In This Master’s Tale” e “The Undying Eye” – além da versão original de “Needles and Kin”, contando apenas com os vocais de Speed.

Com uma diferença de três anos e meio entre seu lançamento e o do álbum anterior, Verkligheten (palavra que em sueco significa “realidade”) é mais um trabalho sólido dentro do estilo que por anos foi lapidado pelo Soilwork, e certamente não só irá agradar a fãs de longa data da banda como também pode servir de porta de entrada para aqueles que até hoje nunca tiveram contato com a obra do grupo.

Por Rodrigo Façanha

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