Review: Whitesnake – Flesh & Blood (2019)



O Whitesnake é uma banda fora do seu tempo. E isso fica evidenciado em seu novo álbum, Flesh & Blood. Tanto para o bem quanto para o mal.

Lançado no Brasil de forma simultânea ao resto do mundo pela Hellion Records (com direito a pôster e adesivos exclusivos), Flesh & Blood é o décimo-terceiro disco da banda do vocalista David Coverdale e o primeiro com material inédito desde Forevermore (2011) – no meio do caminho, o grupo gravou releituras do Deep Purple, banda que revelou Coverdale, em The Purple Album (2015). Ao lado do frontman estão os guitarristas Reb Beach e Joel Hoekstra, o tecladista Michele Luppi e o baixista Michael Devin, além do baterista Tommy Aldridge, parceiro das antigas de David e com duas passagens anteriores pelo grupo - entre 1987 e 1991 e mais recentemente, entre 2002 e 2007.

Flesh & Blood vem com treze músicas, todas explorando a sonoridade que tornou o Whitesnake uma mega banda a partir do multiplatinado álbum autointitulado de 1987. Ou seja: o que ouvimos é um hard rock que bebe direto na estética sonora californiana da segunda metade dos anos 1980, cheio de melodias grudentas e refrãos fortes, prontos para serem cantados em grandes arenas. Não há nada aqui que remeta ao passado hard blues, a famosa e idolatrada fase “chapéu e bigode”, que teve como ponto de ruptura o clássico Slide It In (1984). E, na boa, seria surpreendente se a uma altura dessas o Whitesnake fizesse uma mudança tão drástica em sua música, convenhamos.

O lado bom de ser uma banda deslocada da realidade atual é que o Whitesnake faz uma música mais simples, um hard rock que não apresenta maiores preocupações a não ser a de entregar boas músicas para cantar junto e alguns momentos feitos sob medida para embalar casais apaixonados e corações partidos, como é o caso de “When I Think of You (Color Me Blue)” e a acústica “After All”. A banda não tenta, em nenhum momento, subverter ou revolucionar o estilo que executa, e transita sem maiores percalços por um universo que domina e que os fãs já estão habituados.

Já o lado não tão legal dessa escolha é que o Whitesnake, em certos momentos, soa datado. Isso se percebe principalmente em relação às letras e ao temas cantados por Coverdale, e fica evidente em faixas como “Shut Up & Kiss Me”, “Trouble is Your Middle Name” e similares. Na voz de um cara de vinte e poucos anos essas canções teriam mais credibilidade do que quando entoadas por um senhor de quase 70 – David Coverdale completará 68 anos em setembro. Além disso, em um mundo onde a equidade de sexo e gênero é cada vez mais efetiva e permanente, ouvir alguns versos com trechos que insistem em trazer aspectos machistas soa desnecessário e meio constrangedor.

Musicalmente, no entanto, Flesh & Blood é um bom disco. A banda, que tem como principal referência a guitarra de Red Beach e bateria de Tommy Aldridge, soa bem em todas as músicas, sem se aventurar por caminhos inesperados e arriscados, mas fazendo muito bem aquilo que se propõe a fazer. O resultado são canções que agradam o ouvido como “Good to See You Again”, “Hey You (You Make Me Rock)”, “Always & Forever”, “Well I Never”, a grandiosa faixa título e “Heart of Stone”, que revisita sutilmente o passado mais bluesy do grupo.

A conclusão é que o Whitesnake mantém o mesmo bom nível dos dois discos lançados desde o retorno da banda – Good to Be Bad (2008) e Forevermore (2011) -, com um álbum que agradará em cheio quem já é fã do grupo. Se você é um apreciador de hard rock e quer um disco pra curtir na boa, Flesh & Blood é uma boa pedida e não irá decepcionar os seus ouvidos.

Comentários

  1. Tenho 55 anos e acompanho a banda desde o início. Para mim só vale até o Slide it in. Quando ouvi o disco de 87, na época do lançamento, fiquei decepcionado. E isso lá atrás, quando eu tinha vinte e poucos anos (obrigado, Fábio Jr.) e muito cabelo. Penso que Coverdade envelheceu muito mal tentando uma fórmula de ser jovem para sempre. Robert Plant foi mais sábio e foi mudando seu som de acordo com sua idade e , principalmente, sua voz.

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  2. Acho muito difícil uma banda com tanta estrada mudar em seus últimos atos, no entanto, o Fernando foi bem consistente, já não curte os caras há anos. Contudo, dentro da proposta apresentada dese o 1987, o álbum é excelente. Anacrônico, claro, mas divertido, o que eu creio que seja exatamente a proposta da banda, divertir-se e a também seus ouvintes!

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  3. Não aguentou segurar a barra e esquerdou bonito, senhor! O senhor deve ter parado de ouvir ACDC entre tantas outras bandas devido ao seu politicamente correto e cumprimento da agenda esquerdsita... "Além disso, em um mundo onde a equidade de sexo e gênero é cada vez mais efetiva e permanente, ouvir alguns versos com trechos que insistem em trazer aspectos machistas soa desnecessário e meio constrangedor."

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    1. Também vou nessa linha. Acho agendas importantes, mas roquenrou é indisciplinado, e antiestablishment, né? Além de que, estamos falando de um quase setentão, de quando hômi era hômi, de modo que acho sacanagem cobrar esse enquadramento ético dele. Fora que os snakes sempre foram da zoeira né, é Hair Metal, seu dotô!

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  4. Flesh & Blood é um grande álbum. Na minha opinião, no mesmo nível do de 1987. Hard rock dos melhores na veia.

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  5. Boa noite !
    Coverdale não é o único, eu também tenho desvio de septo !!!

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