Depois da MTV e do Black Album de 1991, ficou
fácil apontar o Metallica como inventor e propagador do thrash metal no
planeta. Mas quem viveu a época em que o estilo nascia, de bandas como
Testament, Exodus e Overkill, sabe que o (então) quinteto nova-iorquino Anthrax
tem grande parte da responsabilidade na invenção do estilo. O grupo liderado
pelo guitarrista Scott Ian e pelo baterista Charlie Benante sempre foi mais
pé no chão, e sua originalidade e importância vêm em grande parte daí.
Scott, Charlie e os companheiros Joe Belladonna (voz),
Frank Bello (baixo) e Dan Spitz (guitarra) descobriram cedo que o metal pode ser
feito com bom humor, pode criticar diretamente os problemas do mundo, pode ser
divertido e sacana. Aliando esses temas à guitarrada "serra-elétrica"
de Scott e Spitz, além da bateria virtuosa de Charlie e dos vocais ligeiramente
mais pop de Joe (fã de Journey), o grupo criou um despretensioso clássico.
Sem que se perca tempo, o disco começa com a
faixa-título, que tem letra inspirada no livro The Stand, de Stephen King.
De cara se conhece o estilo único do Anthrax: riffs pesados como bigornas e
vocais que vão da melodia fácil dos refrães do Kiss às raias do rap (não por
acaso, eles chegaram a trabalhar com o Public Enemy). A afinação de Joey marca
presença, ao lado da competência dos guitarristas. E lá vem pedrada:
"Caught in a Mosh" conta como o roadie (e cantor do S.O.D.) Billy
Milano foi parar no hospital após se jogar do palco, enquanto "I Am the Law"
apresenta o Juiz Dredd, aquele mesmo depois interpretado por Sylvester Stallone
no cinema, sob uma parede de guitarras digna do Black Sabbath.
É difícil parar de pular, e isso acontece
em "Indians", uma das melhores faixas da história do metal. Joey,
descendente de índios, deixa as gracinhas para falar dos apaches, comanches e
outros, tratados como bichos lá e aqui. A canção tem uma introdução de guitarra
destinada a ocupar o drive da memória de qualquer fã de música.
Em dez canções, todas merecem atenção e nenhuma enche o
saco com instrumental desnecessário. Bons tempos em que as bandas não
precisavam compor 80 minutos de música para lançar um álbum.
Hoje, com apenas Scott na guitarra e John Bush no lugar
de Belladonna, o Anthrax segue gravando bons discos, mas jamais repetiu a magia
de sua obra-prima.
Texto escrito por Bernardo Araújo e publicado na Bizz #173,
de dezembro de 1999
É uma banda que menos gosto no Trash Metal, mas gosto desse album. Parabéns ótima resenha, você é um dos meus críticos prediletos junto com Gastão. Vida Longa e Positive Vibration
ResponderExcluirrealmente o Bernardo Araujo era um balsamo entre tantos críticos que inundavam a Bizz com arrogância, presunção e ignorância musical recheada de preconceitos e outras coisas mais... grandíssimo album, um dos 5 melhores da historia do thrash metal com certeza, com clássicos absolutos e eternos para o metal
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