Foi no segundo disco do Red Hot Chili Peppers, Freaky
Styley, de 1985. Até hoje um dos favoritos dos fãs, o álbum trazia um suingue
inexistente na estreia da banda, ressaltado pela produção de George Clinton. Um
som na maciota, com metais levinhos, capaz de criar levadas como "Yertle
the Turtle" ou covers de "Africa", dos Meters (transformada em
"Hollywood") e "If You Want Me to Stay", de Sly Stone .
No meio de todo esse balanço, apenas "Catholic
Schools Girls Rule" destoava, acrescentando vigor à guitarra e velocidade
à cadência do grupo. Como "Massacre", presente em Televisão, que
denunciou como os Titãs soariam em Cabeça Dinossauro, a canção acabou
norteando o trabalho seguinte do quarteto californiano, The Uplift Mofo
Party Plan.
Lançado em 1987, o disco não representou um sucesso de
vendas. Apesar de mais bem sucedido que os dois anteriores, que nem arranharam
o top 200, obteve somente o 148º posto na parada da Billboard. Sua
grande contribuição foi consolidar o estilo Chili Peppers. Nele, a banda
confirmou sua opção. Não pela confusão alternativa do primeiro álbum nem pelo
ritmo puro pilotado por Clinton: ritmo, sim, mas com peso, capaz de chacoalhar
o corpo ao mesmo tempo que faz bater a cabeça.
Em The Uplift Mofo Party Plan a intenção sempre
é funk, ainda que o caminho para isso passe por rock, metal, punk e rap.
"Fight Like a Brave", a faixa de abertura, resume a jornada. O
instinto pode ser cru, sujo. A ambição, porém, é descer redondo nos ouvidos. Do
skatista radical ao maconheiro largadão, quem descobriu a banda nesse disco
virou fã de Anthony Kiedis (vocal), Flea (baixo), Hillel Slovak (guitarra) e
Jack Irons (bateria) pelo resto da vida - mais um crédito para o álbum, que
botou o grupo entre os prediletos da rapaziada "ligada".
Movido à sacanagem e festerê, o balanço dos Chili Peppers
aparece com várias caras. "Me & My Friends" e
"Backwoods" vêm com outra paulada, mas a gente sabe que dá para
dançar. A agitação atinge urgência hardcore em "No Chump Love Sucker"
e "Love Trilogy". O pessoal ali, curtindo, mantendo o entusiasmo com
"Subterranean Homesick Blues", transformada em algo jamais imaginado
por Bob Dylan. Quando o funk chega mais malandro em "Walkin' on Down the
Road", "Special Secret Song Inside" ou "Funky Crime",
a maciez come solta, até virar hippie com "Behind the Sun" (e o mais
legal é que elas não estão na sequência careta exibida neste texto).
Em 25 de junho de 1988, Slovak, chapa dos tempos de
colégio, morreu de overdose de heroína. Um mês depois Irons pediu as contas,
ressurgindo no Pearl Jam nos anos 1990. A seguir, desavisados colocaram a banda
na vala comum do funk metal. Diante de tantos infortúnios, os sobreviventes (em
todos os sentidos) Kiedis e Flea, a alma do negócio, amadureceram na marra.
Encontraram no guitarrista John Frusciante e no baterista Chad Smith os
substitutos ideais para continuar a festa no pesado Mother's Milk, de
1989. Entre os convidados, uma triste letra em homenagem ao amigo falecido,
embalada pelo hit "Knock Me Down".
O bom astral retomou forte e mais sábio em Blood Sugar Sex Magik,
em 1991, para muitos o ponto alto da carreira da banda. Mas a magia e o açúcar
deste só foi possível porque quatro anos antes rolou muito sexo e sangue
em The Uplift Mofo Party Plan.
Texto escrito por Emerson Gasperin e publicado na Bizz #183,
de outubro de 2000
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