
Um senhor em idade já avançada com um olhar perdido e
melancólico para o horizonte onde o sol lentamente se põe, enquanto as memórias
de toda uma vida passam fugazes por uma mente anestesiada pela dor das
escolhas. Essa é a imagem que eu vejo ao fechar os olhos e ouvir o novo disco
de Bruce Springsteen, com uma audição mais atenta em suas letras. Mas é
importante destacar que, apesar disso, a imagem que tenho na cabeça em nada se
assemelha ao músico, mas versão amálgama entre as histórias registradas nas canções.
Cantar sobre a vida e suas histórias, com um olhar
especial para as pessoas simples com suas agruras e dificuldades diárias, sempre
foi uma característica marcante nas músicas de Springsteen, que tem em suas
letras verdadeiras narrativas sobre a vida. E é basicamente disso que se trata
Western Stars. Um momento um pouco diferente para quem
acompanha a carreira do roqueiro, que deixa de lado as canções mais agitadas
para nos brindar com uma versão mais intimista de si próprio.
O novo disco toca mais lento e mantém o foco em uma voz
mais grave, enveredando por uma levada mais country mas sem que se possa
rotular desse estilo propriamente dito. Todos os elementos de composição dos
discos gravados nos últimos vinte anos estão ali, mas de certa forma diferentes.
Basta ouvir, por exemplo, "Tucson Train" -
uma das melhores faixas - para perceber que ela poderia estar em álbuns como Wrecking Ball (2012) ou Working on a Dream (2009). Mas a sutil percussão,
a falta de uma guitarra marcante e o acréscimo de uma orquestração para
acompanhar as histórias narradas tornam essa audição talvez um pouco estranha
de primeira, mas se tornando cada vez mais agradável na medida em que se ouve o
disco.
Um certo tom melancólico permeia cada uma das treze faixas,
seja na letra ou na melodia, como em "Wayfarer", quando Springsteen canta que “é
a mesma história triste, amor e glória dando voltas e voltas”, ou em "Drive Fast
(The Stuntman)", que fala sobre a vida de um dublê de filmes B que, apesar das
cicatrizes, não se importava com o amanhã. Em algumas músicas esse sentimento
taciturno é mais forte, basta prestar atenção em "Somewhere North of Nashville",
quando os versos quase sussurrados dizem “eu fico acordado no meio da noite,
fazendo uma lista de coisas que eu não fiz direito”, ou em "Stones", que conta
sobre um relacionamento com mentiras envolvidas.
O clima todo é de uma grande reflexão sobre as escolhas
da vida sem grande abertura para redenção. E talvez seja exatamente essa a
intenção, inclusive, com a seleção do primeiro single de divulgação, "Hello
Sunshine", com uma batida que lembra um antigo trem em movimento e fala sobre a
solidão. O fechamento desse álbum é bem
emotivo e reforça todo sentimento do disco, convergindo na lúgubre letra de "Moonlight Hotel".
Sem parecer se preocupar em agradar novos ouvintes ou velhos
fãs, Bruce Springsteen apresenta o que ele tem de melhor, e a motivação da sua
arte é a essência humana despida dos delírios de grandeza, se apoiando em
dramas de existências que passam despercebidas pela maioria das pessoas.
Por Janary Damacena
Bruce, Van Morrison e Neil Young são verdadeiras "maquinas" de compor, lançar discos e, AINDA BEM, não estão pensando em aposentadoria. O mesmo vale para Glenn Hughes.
ResponderExcluirDisco muito bom!
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