Review: Fantastic Negrito – The Last Days of Oakland (2016)



Fantastic Negrito é um caso sério. Este norte-americano nascido em Massachusetts e batizado como Xavier Amin Dphrepaulezz passou metade de vida tentando emplacar uma carreira artística. Inspirado por Prince, lançou um disco em 1996 chamado The X Factor e creditado apenas como Xavier, em que compôs todas as músicas e tocou todos os instrumentos. Não emplacou.

Caiu na vida, vendeu drogas, acabou nas ruas de Oakland, sofreu um acidente de carro quase fatal em 1999 que o deixou em coma por três semanas, abriu uma boate ilegal em Los Angeles, desistiu do sonho e não sabia pra onde ir. Passou um tempo sem rumo e retornou para o seu primeiro amor, a música, assumindo a alcunha de Fantastic Negrito e gravou seu debut auto intitulado em 2014. A recepção positiva o motivou a gravar um segundo trabalho, e daí tudo mudou.

The Last Days of Oakland foi lançado em 3 de junho de 2016 e finalmente Xavier, que agora não é mais Xavier mas sim Fantastic Negrito, encontrou o seu lugar ao sol. O álbum encantou a crítica, ganhou o Grammy de Best Contemporary Blues Album em 2017 e alavancou a carreira do nosso amigo. Produzido pelo próprio Negrito, o disco traz quinze faixas espalhadas por 50 minutos de um som cativante, que bebe sem pudores no enorme caldeirão da música negra e une o blues ao funk, ao soul, ao rap e ao rhythm & blues, tudo com um groove acachapante e um clima pop que faz com que a audição seja uma experiência de empolgação crescente. Resumindo: não tem música ruim.

Acompanhado por Masa Kohama (guitarra), LJ Holoman (piano e órgão), Cornelius Mims (baixo) e Omar Maxwell (bateria), Fantastic Negrito canta e toca piano e guitarra, completando uma banda que tem o balanço e a malandragem em seu DNA. Totalmente composto por Negrito e também produzido pelo músico, o disco traz ainda uma versão para “In the Pines (Oakland)”, canção tradicional que o lendário bluesman Leadbelly gravou na década de 1940.

A voz de Fantastic Negrito vem carregada com doses generosas de feeling e possui um timbre arrepiante, intensificado pela forma sanguínea com que canta as letras, como se tudo saísse direto do seu coração. Instrumentalmente, há uma atualização inegável de um gênero bastante tradicional como o blues, que aqui ganha um ar mais moderno e contemporâneo, seja pelas batidas e ritmos ou pelos arranjos e timbres, todos conversando com o presente e jamais com o passado.

A tradição do delta do Mississippi voa direto e sem escalas para a década de 2010 em “Working Poor”, enquanto “About a Girl” e “In the Pines (Oakland)” são doces irmãs siamesas. “Scary Woman” é o que o Outkast faria se fosse uma banda de blues, enquanto “The Nigga Song” é de uma profundidade e um feeling incríveis.

The Last Days of Oakland é uma obra de arte, que ganha status de clássico moderno do blues com o reconhecimento – justo, diga-se de passagem – dado pelo Grammy. Um disco espetacular e que qualquer pessoa que ama a música, como eu e você, deveria ter como CD de cabeceira.

Comentários

  1. Esse cara tem dois 2 discos lançados, e é um melhore que o outro. Sem contar que são dois discos e dois Grammys.

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