O ano era 1997. Esqueça
a versão cinematográfica de O Senhor dos Anéis, esqueça o aclamado Game of
Thrones e também desconsidere a grande febre de RPG que invadiu o mundo lá pro
começo dos anos 2000. Apesar de ser comumente vinculado a diversas dessas
coisas, todas são posteriores ao início da grande epopeia do Rhapsody. Estamos falando dos nobres cavaleiros da
terra de Algalord, ou dos músicos de Trieste, Itália. E quando juntamos música
e Itália na mesma equação, é bastante possível que tenhamos um trabalho muito
bem feito de cunho neoclássico. Os italianos sabem bem como lidar com a música.
Quando Luca Turilli começou
a procurar companheiros que estivessem dispostos a partir numa jornada para
reunir a música sinfônica com o heavy metal, nunca pensou que no horizonte
glorioso estaria o panteão da vitória do power metal.
Com Legendary
Tales, definitivamente, nasce um fenômeno. Aqui, surge o que viria a ser
tratado com symphonic power metal ao redor do mundo nos anos seguintes. Com
Turilli e Alex Staropolli é criada a melhor junção de orquestração e metal de
viés melódica já feita. Goste da banda ou não, é inegável a importância do
Rhapsody para a cena em questão e pela difusão do estilo para uma nova gama de
fãs. Epopeias, jornadas sangrentas, batalhas gloriosas e o eterno embate entre
o bem e o mal não eram novidades no metal, mas nunca haviam sido tratados com a
profundidade que foi apresentada na época.
Conheçam a
Emerald Sword Saga, ou a Saga da Espada Esmeralda. A Terra de Algalord, coração
das Terras Encantadas, encontra-se sobre a ameaça de um antigo mal, o Lorde
Negro Akron, munido com o poder do demônio Kron. Ele só pode ser derrotado com
a ajuda de uma arma milenar, forjada com o poder dos anjos, a Espada
Esmeralda. Apenas aquele com o coração puro poderia alcançar a Espada e
derrotar seus inimigos. O Guerreiro do Gelo, um bravo homem do norte, parte em
sua jornada ao lado de diversos guerreiros bravos, belas donzelas, magos e
sábios, numa luta contra os monstros e criaturas mais horrendas, pelas cidades
já destruídas e arrasadas pelo mal. Pode parecer clichê, mas tal
história é traduzida nas canções do Rhapsody de uma maneira nunca vista, o que
conseguiu cativar fãs de grupos novos e empolgados.
Legendary Tales,
como se tornaria tradição na carreira da banda, é aberto por um prelúdio
instrumental operístico, cheio de corais em crescendo. “Ira Tenax” dá espaço a “Warrior
of Ice”, a primeira canção, propriamente dita do Rhapsody apresentada ao mundo.
Desde o início podemos observar os detalhes que seguiriam todo o CD. Staropolli
e Turilli são tremendamente entrosados, é quase absurda a forma como
compartilham criatividade. Outro detalhe: Fabio Lione, até então pouco
conhecido, já despontava como um dos mais versáteis e habilidosos vocalistas do
metal, o que seria comprovado futuramente. “Rage of the Winter” comprova tais
fatores, um refrão muito inspirado e cativante, revelando um vocalista capaz de
notas altas, porém poderosas, com um carregado sotaque carcamano que não
consegue esconder as origens da banda. Até hoje, não consigo entender
porque o rótulo de folk nunca foi atribuído ao Rhapsody, afinal, ouvindo “Forest
of Unicorns” você consegue escutar a música tradicional européia da Idade Média
com muita clareza. Cinzia Rizzo auxilia no estranho porém grudento refrão.
O próximo ponto
alto do disco, e um dos maiores da carreira da banda, é “Land of Immortals”,
definitivamente a melhor música do disco, com um refrão espetacular, corais e
solos enérgicos, contando com um trabalho muito consistente dos músicos. Vale
ressaltar que a banda não contava, aqui, com um baixista oficial, e o
instrumento foi executado pelo produtor, Sascha Paeth (Heavens Gate, Angra,
Avantasia). A bateria, por sua vez, ficava a cargo de Daniele Carbonera, que
tem visíveis (ou audíveis) dificuldades em acompanhar o nível dos demais
músicos, e pode contar como um ponto fraco do disco. Ele seria substituído pelo
incrível Alex Holzwarth no futuro.
Após esse
momento, o disco perde um pouco de força, mas continua sólido e oferece ao
ouvinte uma experiência completa, capaz, inclusive, de deixá-lo curioso e
ansioso pelo que viria no futuro, seja musical ou literariamente. “Echoes of
Tragedy” é uma música dramática e densa, enquanto “Legendary Tales”, uma
faixa longa, prepara o fã para mais uma tradição da banda: canções épicas e
enormes para fechar os álbuns.
A fórmula do Rhapsody vem sendo emulada, replicada e copiada por muitas bandas desde então, inclusive pelos próprios membros em alguns projetos paralelos. Hoje o grupo passa por momentos confusos, mudou de nome, graças a problemas jurídicos e adicionou um intragável prefixo, passando a chamar-se Rhapsody of Fire. Seu fundador e maior compositor, Luca Turilli, saiu e montou uma banda própria, chamada … Rhapsody, já que ele havia recuperado os direitos pelo nome. Fabio Lione e Alex Holzwarth deixaram a banda nas mãos de Staropolli, que recrutou um novo line-up. Apesar da bagunça, Alex Staropolli, Fabio Lione e companhia continuam sendo alguns dos nomes mais fortes do metal. Legendary Tales pode não ser o melhor registro da banda, mas é um dos pontapés iniciais mais significativos do gênero.
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