Review: Supertramp - Crime of the Century (1974)


Lançado em 1974, o disco apresenta lindíssimas melodias com músicos extremamente técnicos em todas as faixas. Um rock progressivo bem diferente dos convencionais da época e bem diferente do som comercial que a banda proporcionou na década seguinte.

“School” começa com a harmônica do grande Rick Davies, a voz do conjunto, que ataca e muito bem com os seus teclados alucinados. O solo de piano desta primeira canção é empolgante, com o guitarrista Roger Hodgson mandando ver (ele fazia às vezes da guitarra e do clássico instrumento). Há um tempero especial nesta canção, que prepara terreno para a consagrada “Bloody Well Right”, com levadas de jazz desde o início. Tanto que o saxofone magistralmente tocado por John Anthony Helliwell entra em sintonia com todos os instrumentos. Um cidadão como esse é uma mão na roda, uma vez que ele tocava tudo o que tivesse paleta de sopro, desde o sax até clarinetes. O riff de guitarra é bem pesado, mas não entra em atrito com a melodia jazzística da canção.

Perfeito até agora, não é? E fica melhor ainda (espero que você esteja acompanhando esta resenha com o CD rodando no seu som), pois “Hide In Your Shell” é a melhor do disco. Mesma fórmula, mesma competência. Aqui já se justifica a inclusão desde Crime of the Century ao lado de clássicos de tantas outras bandas. Que refrão magnífico! A batida da bateria é perfeita e a música ganha ares especiais. Bob Benberg participa de maneira decisiva para que o brilho de Davies surja mais destacado. É desnecessário falar aqui da importância de Helliwell (ao lado do vocalista e tecladista, a personificação do Supertamp). Precisa falar também que Benberg ataca na percussão nos momentos certos? É um dos pontos altos, até mesmo quando a canção chega no minuto final (ai é que a emoção entra mais forte).

 “Asylum” começa com Hodgson nos pianos, a marca registrada do conjunto. Muito bela esta daqui, muito mesmo. Mas muito boa, por que ela vem crescendo até o orgasmo sonoro dos dois refrãos (sim, são dois diferentes, um após o outro). Dougie Thomson é o baixista que segura as pontas, e aqui podemos escutar o pulso forte e firme das suas quatro cordas para que os sintetizadores e tudo mais façam a festa.


A próxima música é a também famosa “Dreamer” (a mais curta do disco, com três minutos e meio). O sucesso radiofônico não a desmerece em nada. Principalmente pelo dueto entre as vozes que cantam aqui. Um belo trabalho progressivo digno de uma música do Yes, porém, mais direto ao assunto. A bateria se mostra técnica ao extremo, bem como os teclados.

O piano corrido que segue é “Rudy”, uma balada (mais uma, não é?). Aqui, o solo de sax a la dança romântica se mistura com os sons tenebrosos dos sintetizadores. Um clima macabro e delicioso a cada segundo. É bem verdade que tem uma parte na música, lá pelos quatro minutos e meio, que a canção adquire um som bem típico dos anos 1970, mesmo com a onda disco music ainda por vir, mas quem se importa com isso agora? É soberbo escutar a fusão sonora desta pérola, principalmente com o final um pouco dramático.


“If Everyone Was Listening” é mais uma (mais uma?) balada. Que fique bem claro: uma balada progressiva e cheia de virtuosismo com muita criatividade. Cativante mesmo. O clarinete afasta qualquer probabilidade de mesmice na canção, com Helliwell, de novo, dando o seu show particular no sopro. Se alguém ainda duvida do poderio musical deste disco, ou mesmo desse quinteto, basta checar o que acontece na última faixa. 

Intitulada com o nome deste trabalho, “Crime of the Century” começa bem dramática e espacial em sua introdução com o piano, explodindo como bombas quando entram os demais instrumentos para, em seguida, dar prosseguimento ao turbilhão auditivo. Um solo de guitarra, com o já citado pianinho matador mandando ver, em um ritmo cadenciado com a bateria. Meio paranóico e totalmente minimalista. Entram teclados com sonoridade de violinos e o saxofone na sequência. O prazer está garantido aos ouvidos. Como disse antes, o melhor a fazer é escutar este disco. Qualquer tentativa de convencer apenas com palavras será apenas ... uma tentativa!

O Supertramp já está no lugar mais alto do pódio da história do rock dos anos 1970, queiram alguns ou não. O disco explora assuntos relacionados com temas de solidão e estabilidade mental, porém em nenhum momento é um disco conceitual, como muitos afirmaram à época. Portanto, pode botar pra rodar!

Por Aroldo Antonio Glomb Junior 

Aroldo Antonio Glomb Junior tem 41 anos, é jornalista, Athleticano e fanático por boa música desde que completou seus 10 anos de idade. É o autor do projeto SOBRE O SOM DOSSETENTA, que reúne resenhas de diversos discos lançados durante os anos 1970, escrevendo desde clássicos da década até discos mais obscuros, independente do estilo.  

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