Review: Triumvirat - Mediterranean Tales (1972)



A palavra Triumvirat - ou triunvirato em português - é um governo formado por três homens. Nada mais apropriado e forte para este grupo alemão. O trio impressionou a todos nos anos 1970 mas, infelizmente, muitos ouvidos desatentos consideravam o Triumvirat como um Emerson, Lake and Palmer alemão, o que convenhamos é uma grande injustiça. Independente da influência clara do outro trio progressivo, a banda tinha governabilidade total de seu som e não era meramente um control C control V do ELP.

Predominantemente calcado no som pesado do órgão, o trio da cidade de Colônia contava em 1972 com o sensacional tecladista Jürgen Fritz, o preciso baterista Hans Bathelt e o competente baixista e vocalista Hans Pape. Logo de cara criaram um disco de estreia sem precedentes em apenas três dias.  A primeira faixa deste álbum espetacular é uma maratona chamada “Across the Waters”, com harmonias eruditas (que na Alemanha são coisa séria pelo seu passado musical) e pegadas fortes em progressões bem dinâmicas, com destaque evidente ao Hammond tocado no talo. São pouco mais de 16 minutos divididos em seis atos absurdamente surpreendentes até mesmo para quem já ouviu a canção trocentas vezes - a começar pela introdução, que nada mais é do que uma partitura composta por Wolfgang Amadeus Mozart arranjada por Jürgen Fritz de maneira brilhante.  E dá-lhe Hammond e Moog formando uma base tão sólida que a ausência da guitarra nem é sentida.

Virando o disco encontramos a cadenciada “Eleven Kids” com um trabalho interessante que bebe novamente na música clássica (ou erudita, se falarmos com o termo correto), mas com uma pegada sonora calcada no jazz e com uma condução de bateria mais cadenciada. Momentos matadores para os amantes dos órgãos, teclados, pianos e moogs é o que não faltam. Cada audição é uma descoberta.

A instrumental “Menor 5/9 Minor /5” tem um climão meio Uriah Heep nos teclados e é estranhamente perturbadora e agradável, com uma melodia insistente logo de cara que segue até o final, variando diversas vezes sobre o mesmo tema. O solo de Hammond é precioso, enquanto que o piano da próxima faixa, “Broken Mirror”, carrega a banda para o lado erudito em uma peça com partes mais delicadas. Se esta canção tivesse sido composta séculos atrás, com certeza hoje seria reverenciada como uma das principais criações da música clássica. Lá pelas tantas entra o vocal e a música vira algo meio “In-A-Gadda-Da-Vida”, do Iron Butterfly, antes de se transformar em um jazz pra lá de malandro. Mudanças absolutamente incríveis em apenas sete minutos!

Tá certo que o Triumvirat nunca conseguiu a mesma popularidade de outros grupos, mas eles produziram discos fantásticos nos anos seguintes que também merecem uma atenção redobrada até o final da banda em 1980, quando literalmente se perderam no mundo produzindo álbuns muito fracos e perdendo o fio da meada.

E mesmo assim, se após essas minhas palavras você ainda pensar que a banda é uma versão alemã do ELP, recomendo fortemente que procure uma clínica para avaliar como anda a sua audição.   

Por Aroldo Antonio Glomb Junior 

Aroldo Antonio Glomb Junior tem 41 anos, é jornalista, Athleticano e fanático por boa música desde que completou seus 10 anos de idade. É o autor do projeto SOBRE O SOM DOS SETENTA, que reúne resenhas de diversos discos lançados durante os anos 1970, escrevendo desde clássicos da década até discos mais obscuros, independente do estilo.

Comentários