
Pergunte ao Red Hot Chili Peppers. A Public Enemy, LL
Cool J, Ice Cube e NWA, entre vários nomes ligados ao rap. Pergunte a, hummmm,
Rodrigo Audiolandro, do serelepe Mamelo Sound System. Todos fizeram a lição de
casa e vão reagir da mesma forma: "Meters? Claaaasse!".
Enquanto houver alguém ou um sampler em busca de batidas
improváveis e ritmos redondinhos, sempre existirá espaço para o grupo que
definiu o funk de New Orleans a partir de 1969, com seu homônimo LP de estreia.
Tem sido assim desde o começo da carreira da banda - ouvir Meters é descobrir
um manancial de grooves e lamentar não ter conhecido a banda antes.
A primeira vítima a apresentar o sintoma foi o produtor e compositor Allen Toussaint, que no início dos anos 1960 injetara soul no R&B local. Em 1968, ele viu Art Neville & Neville Sounds tocando no clube Ivanhoe e convidou o septeto para ser a banda de seu estúdio. Rebatizado como Meters e reduzido a um quarteto, o grupo passou a acompanhar Lee Dorsey, Betty Harris e demais artistas que gravavam pela Sansu Enterprises.
Não demorou muito para que os Meters recheassem seus próprios discos com suculentos instrumentais. Da influência primeira, Booker T. & The MG's, eles desembocaram em um funk com a potência de um James Brown, a pegada de um Sly Stone e a riqueza de um Curtis Mayfield. E sem soar parecido com nenhum deles. Com o Hammond B3, Art Neville preenchia os intervalos da chacoalhante guitarra de Leo Nocentelli. Ambos eram perseguidos pelo baixo sinuoso de George Porter Jr. e pelas levadas perfeitas da bateria de Joseph "Zigaboo" Modeliste.

Contratada pela gravadora Josie, a banda chegou às lojas
com o single "Sophisticated Cissy", conquistando o 69º lugar na
parada. O compacto seguinte reservaria emoções mais fortes. "Cissy
Strut", a abertura dos shows nos tempos de Ivanhoe, vendeu 200 mil cópias
em duas semanas, atingindo a 23ª posição. O hit trouxe, refinada, aquela que
seria a marca registrada do balanço dos Meters: Nocentelli e Porter brincando
de gato e rato com seus instrumentos, Zig subvertendo a lógica e Neville
encorpando o bolo.
O terceiro single, "Ease Back", exalava um ar
do Caribe, um dos muitos elementos do caldeirão cultural de New Orleans. Mas um
álbum cheio exigia mais. Surgiram "Here Comes the Meter Man", quase
um remix de "Cissy Strut" (prática que o quarteto repetiria no
terceiro disco, Struttin', em 1970, nomeando a canção de "Same Old
Thing" na cara dura), "Seahorn's Farm" e "Live Wire",
sempre com algum acorde, alguma quebra que denunciava a presença dos Meters no
ambiente. Duas covers, "Stormy" (do soft pop Classics IV) e
"Sing a Simple Song" (de Sly Stone) mostravam que qualquer som, na
mão dos quatro, ficaria a cara deles.
Para variar, The Meters não foi um sucesso. Apesar de conferir à banda o prêmio de melhor grupo instrumental de R&B pela Billboard em 1969, nem arranhou o top #100. Após três álbuns nessa linha, nasceu um novo Meters, em 1972, contratado pela Reprise (ligada à Warner), com vocais e funks cada vez mais musculosos. Discos como Cabbage Alley e Rejuvenation os levaram a abrir a turnê dos Rolling Stones. New Directions, em 1977, pôs um ponto final na bem-aventurada carreira da banda.
De vez em quando, Neville arregimenta ex-integrantes e
sai por aí como Funky Meters. Se você estiver em New Orleans, pode ir que a
pajelança musical é garantida.
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