Publicada no Brasil em 2016 pela Editora Nemo, Placas Tectônicas, da francesa Margaux Motin, acaba de ser relançada. Único trabalho da quadrinista a sair por aqui, a HQ conta as experiências da autora após enfrentar uma separação, a aventura de cuidar de uma criança e a redescoberta da vida sem alguém como companhia.
A princípio um tema que aparentemente levaria a uma
história densa e com todos os ingredientes para ser algo triste e depressivo,
Placas Tectônicas é o oposto disso. Margaux conta a sua própria vida com um
senso de humor onipresente, com uma auto ironia permanente e com doses enormes
de sarcasmo. O resultado é um quadrinho leve, divertido e que garante risadas constantes, inesperadas e espontâneas.
O tema inicial é o fim de um
relacionamento e a redescoberta da vida de solteira. Um período que todos nós
já passamos, onde a energia da juventude passa a dividir espaço com a
maturidade. Margaux relata uma situação comum a dezenas de mulheres, que
abriram mão de elementos que formavam suas identidades para manter uma
relação estável. E que, ao estarem novamente sozinhas, resgatam justamente
esses elementos para se reconstruírem.
A relação da personagem com a filha, uma pequena e inteligente criança, é outro ponto crucial, usado pela autora para exteriorizar os pensamentos mais pessoais (e bastante frequentes) de mulheres que se transformaram em mães – medos inconfessos, sentimentos que não devem ser ditos – enquanto desmitifica e tira o ar romântico da maternidade idealizada como algo sempre perfeito, e que, quando efetivamente ocorre e temos que encarar a responsabilidade de criar nossos filhos todos os dias, vemos que as coisas são, em diversos momentos, distantes daquilo que pensávamos.
O papel da mulher em um relacionamento também é mostrado
sem filtros através dos medos e neuras da protagonista, mostrando que
homens e mulheres são sim diferentes, mas não tanto quanto imaginam.
Margaux Motin apresenta uma narrativa descontraída e divertida,
contanto sua experiência através de pequenos esquetes que surgem a cada página.
A ausência de quadros torna a HQ ainda mais leve, aspecto esse que fica
reforçado pelo traço fino e pela ausência de cenários.
Placas Tectônicas é uma HQ que será muito melhor entendida por pessoas adultas e que já passaram por situações semelhantes às
que estão em suas páginas. E é uma história que, mesmo sendo apreciada com
prazer por leitores masculinos – eu, por exemplo, adorei -, causará uma identificação
bem mais profunda no público feminino, pois a ausência de filtros e a desmistificação
do papel das mulheres nas relações amorosas e, principalmente, na maternidade,
coloca no papel sentimentos e pensamentos que muitas garotas possuem mas raramente admitem, seja pelo medo do julgamento que terão ou por se
sentirem envergonhadas de si mesmas.
Placas Tectônicas é aquele tipo de HQ que vai muito além
dos quadrinhos. Um título sensacional,
e que, com o seu relançamento, tem a oportunidade de chegar a um número ainda
maior de pessoas.
A edição da Nemo vem no formato 23,8x16,8 centímetros,
capa brochura com orelhas e 256 páginas, com um belo acabamento gráfico que
conversa com todo o catálogo da editora.
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