Gold & Grey é o quinto álbum da banda norte-americana
Baroness e foi lançado na metade de junho. O disco é o sucessor de Purple
(2015) e marca a estreia em estúdio da guitarrista Gina Gleason, no quarteto
desde 2017. Gold & Grey vem com dezessete faixas e foi produzido por Dave
Fridmann, que já havia trabalhado com o grupo no disco anterior.
Antes de falar sobre o álbum, já quero iniciar este
review abordando um ponto polêmico e que tem gerado várias discussões entre os
fãs: a produção. Gold & Grey intensifica os timbres e a
sonoridade suja, que em diversos momentos parece estar em baixa resolução, e
que foi apresentada em Purple. A abordagem de Fridmann
é inegavelmente controversa, e a opção da banda por esse aspecto mais cru e
longe do som cristalino e pesado dos três primeiros álbuns divide os fãs.
Pessoalmente, faço parte da turma que não compartilha o pensamento dos músicos
e de Dave Fridmann, pois me parece que uma banda com uma musicalidade tão
intensa e cheia de detalhes como é o caso do Baroness necessita de uma produção
que torne ainda mais evidentes e claras qualidades como essas. O som sujo
incomoda em algumas canções e em outras não é uma questão tão importante assim,
mas quem acompanha a trajetória do quarteto liderado pelo vocalista e
guitarrista John Baizley há um certo tempo certamente sentirá uma diferença nada agradável.
Contando com Baizley, Gleason, o baixista Nick Jost e o
baterista Sebastian Thomson, o Baroness segue a sua evolução em Gold &
Grey. Classificar a banda apenas como heavy metal deixou de fazer sentido no
fenomenal Yellow & Green (2012), e neste novo trabalho a banda segue
partindo da música pesada na maioria das vezes e chegando nos mais diversos
caminhos sonoros. Essa variedade de opções e a imprevisibilidade que ela
proporciona é um dos pontos que sempre me fez admirar o grupo, e continua sendo
um destaque em Gold & Grey. É possível ouvir elementos de rock progressivo,
jazz-rock, pop, metal mais extremo e uma gama variada de influências.
O outro ponto que diferencia o Baroness e que é, muito
provavelmente, a sua principal característica, é o apelo emocional de suas
músicas. Não no sentido de elas significarem algo para a vida dos ouvintes – o que
realmente significam, sem dúvida, e cada fã possui uma relação individual com
aquilo que ouve -, mas sim na forma como elas são construídas. O Baroness
trabalha costumeiramente com estruturas harmônicas e com arranjos ascendentes,
que fazem as faixas partirem de um ponto e irem crescendo até chegarem ao seu
ápice. A chegada de Gina Gleason parece ter evidenciado ainda mais esse ponto. A opção
por vocais dobrados na maioria das músicas também é um ingrediente recorrente,
e que intensifica ainda mais esse “arrepiamento” que a música do Baroness
proporciona ao ouvinte. Em uma comparação rápida, é a técnica executada com
perfeição pelo Fleetwood Mac no clássico Rumours (1977) aplicada ao metal, com um resultado igualmente arrebatador.
Um outro apontamento necessário de se fazer em relação a
Gold & Grey é que John Baizley encontrou a sua parceira ideal em Gina
Gleason. A interação entre as guitarras, que sempre foi um ponto forte da
banda, aqui é ainda mais explorada. Bases, harmonias, melodias e solos executados de
maneira simultânea pelos dois fazem com que o termo “guitarras gêmeas” adquira
outra definição, em uma interação não menos que brilhante.
Uma banda com um aspecto emocional tão forte quanto o
Baroness possui características que, ao mesmo tempo em que agradam os convertidos,
afastam aqueles que não batem com a proposta dos norte-americanos. O
afastamento gradual das fórmulas empregadas no heavy metal faz com que essa
rejeição ganhe novos contornos, o que a produção “low resolution” não colabora
em nada para aplacar. Então, esse parágrafo acaba com uma recomendação: se você
curtiu o Baroness de Yellow & Green e Purple, e também dos iniciais Red
Album (2007) e Blue Record (2009), principalmente pela forma inovadora de tocar
heavy metal e por tirar o estilo de sua zona de conforto, muito provavelmente
Gold & Grey não será para os seus ouvidos.
Agora, se você sempre curtiu o temperamento aventuresco
da banda, Gold & Grey é um passo lógico nessa história. Como já dito, o
Baroness está cada vez mais distante do metal e caminha sem cerimônias por
estilos variados, incluindo na receita inclusive uma aproximação com o cenário do rock
alternativo. Isso tudo faz de Gold & Grey um disco ainda mais desafiador do
que o ponto de interrogação tradicional encontrado nos álbuns da banda.
Concluindo, a minha opinião a respeito de Gold &
Grey é que trata-se de uma obra pretensiosa como sempre, mas que não alcança o
resultado dos dois discos anteriores. Não há neste novo trabalho canções
cativantes como “Take My Bones Away”, “March to the Sea” e “Eula”, responsáveis
por colocar Yellow & Green acima das nuvens, e nem jornadas melódicas como “Chlorine
& Wine”, “Shock Me” e “Morningstar”, do fortíssimo Purple. A produção é um
problema crucial em Gold & Grey e, infelizmente, puxa o disco para baixo,
prejudicando um álbum que possui inegáveis qualidades mas que foram
soterradas, em grande parte, pela sonoridade crua que ele apresenta.
Mesmo com tudo isso, o Baroness ainda vale um tempo no
seu dia. Pare, respire fundo e ouça Gold & Grey sem pressa. Afinal, atrás desse denso muro construído de maneira equivocada pela banda, existe um belo jardim esperando por você.
Cheguei a conclusão que com a saída do antigo guitarrista ( Peter Adams ) o Baroness perdeu características impostantes que estavam funcionando nos álbuns anteriores e que se ausentaram no Gold. Achei o novo álbum bom, mais inferior aos anteriores.
ResponderExcluirConcordo plenamente, Jurandy. Gold é um ótimo disco, mas parece ter perdido a essência em termos melódicos (que fundida às pedradas stoner, deu uma sonoridade muito própria ao Baroness nos dois álbums anteriores), e tb atribuo isso à saída de Adams (não desmerecendo a bela atuação de Gina). Soa mais cru e menos emocional. Outra coisa que também não me agradou foi a repetição dos temas (líricos, conceituais e estéticos), o que deixou o álbum um pouco cansado. E concordando com o artigo, realmente, algumas faixas seriam magníficas não fosse a opção pelo som mais sujo. Enfim, é um bom trabalho, mas que deixou aquela sensação de faltou algo, em consonância com os trabalhos anteriores e a expectativa daqueles fãs que conheceram a banda através de Yellow e Purple como eu. Abraço!
ExcluirEu gostei bastante. Continua um grande banda. Ótimo review..e comentários dos usuários do site.
ResponderExcluirAbraços
Quando o álbum foi lançado me senti repelido a apreciá-lo devidamente justamente por essa sonoridade suja e crua que ele apresenta. Alguns meses depois resolvi retomá-lo e finalmente consegui ser "arrebatado" como aconteceu de cara com os discos anteriores.
ResponderExcluirAinda me incomodo com essa opção de produção, mas que disco fantástico é esse Gold &Grey!!!