Review: The Brand New Heavies – Forward (2013)


Ao lado do Jamiroquai e do Incognito, os veteranos do The Brand New Heavies constituem o que pode ser chamado de trindade do acid jazz, os nomes que sempre são a referência máxima quando o assunto é esse estilo de som. Desde meados da década de 1980, o grupo que tem como núcleo musical fixo o trio Jan Kincaid (bateria, teclados, vocais), Andrew Levy (baixo) e Simon Bartholomew (guitarra) vem lançando álbuns que podem ser considerados clássicos do estilo, tais como The Brand New Heavies (1990), Brother Sister (1994) e Shelter (1997), onde apresentaram uma deslumbrante síntese de jazz, funk e soul com nítida influência setentista a um toque mais moderno de R&B e até mesmo um pouco de pop, numa medida praticamente perfeita. Em Forward o Brand New Heavies não apenas se aproxima do nível de seus melhores trabalhos, como também chega a superá-los em alguns momentos.

A faixa-título instrumental que abre o álbum serve como aperitivo auditivo para o que virá em seguida, trazendo consigo todo o referido clima do jazz e funk dos anos 1970 (e que não ficaria fora de lugar num álbum do lendário Tower of Power, por exemplo). Ainda (mais) na atmosfera da referida década, “Sunlight” chega a ser uma verdadeira ode à disco music – mais especificamente evocando o melhor de Donna Summer naquele período, incluindo até mesmo os arranjos – guiada pela belíssima voz de N’Dea Davenport (ninguém menos que a vocalista responsável pelos maiores sucessos do grupo). É ela quem também dá o tom na faixa seguinte, “Do You Remember”, que, como o título sugere, é uma óbvia homenagem a um dos maiores sucessos do Earth, Wind & Fire (“September”).

Em “On the One” o ritmo diminui um pouco, mas é mantido através do andamento mais suave da canção. É a primeira das três faixas ao longo do álbum a contar com Kincaid assumindo o vocal principal, e a partir desse ponto há um revezamento entre vocalistas a cada música. “A Little Funk in Your Pocket”, de clima mais jazzístico, traz a voz da então estreante Dawn Joseph, além de um solo de guitarra muito bem encaixado por Bartholomew. Na faixa seguinte, “Addicted”, é onde a voz de Davenport volta a ganhar destaque, e é sem dúvida a que mais se assemelha às canções do grupo durante os anos 1990 – não apenas pela voz dela, mas também por conta de toda a atmosfera mais relaxante e envolvente que era bem característica daquela fase. As linhas de baixo de Levy também são especialmente dignas de nota aqui.

“Lifestyle” traz Joseph à frente com sua voz, e não foge muito da fórmula da canção em que ela deu as caras anteriormente. Ela é seguida pela contagiante instrumental “Itziné”, onde não só os músicos envolvidos brilham na proficiência de suas funções como também serve de interlúdio entre as duas metades do álbum, e é de fato na segunda onde o Brand New Heavies despeja mais algumas de suas melhores cartas na mesa.


“The Way It Goes”, de clima mais descontraído, traz uma novidade no som do grupo: é Bartholomew, o guitarrista, quem entra agora no rodízio de vocais (função que até então jamais havia exercido). Apesar de não ter uma voz que pareça “casar” tão bem com o som num primeiro momento, dá uma dinâmica interessante no andamento do álbum até aqui. Joseph volta para o seu posto logo em seguida em “Lights”, certamente a canção onde a influência do funk está mais presente e onde uma comparação com o som de Rick James se torna até inevitável. E aproveitando o gancho dela, logo na sequência vem a animada semi-instrumental “Turn the Music Up”, uma das faixas mais dançantes deste trabalho.

A voz de Kincaid está de volta em “Heaven”, onde, pela primeira vez, as influências do passado são deixadas em boa parte de lado a favor de um clima “dance” mais moderno. “Spice of Life” não é apenas um dos momentos mais curiosos do álbum, mas talvez de toda a carreira do grupo, mostrando mais uma vez a voz de Bartholomew à frente numa canção onde a base predominante é o reggae, com sutis toques de jazz aqui e acolá. Encerrando, Kincaid empresta seus vocais mais uma em “One More for the Road”, segunda faixa mais longa do álbum, onde se optou por seguir uma linha jazzística um pouco mais tradicional e sem muitas surpresas, ao contrário de boa parte das canções anteriores – uma espécie de respiro depois de todo o trajeto musical percorrido.

Contando com pouco mais de uma hora de duração, o Brand New Heavies em Forward nos presenteia com uma fina ironia: apesar de seu título significar “adiante” em inglês, é um trabalho que olha para trás e resgata algumas das melhores influências possíveis do passado dentro e até mesmo fora do universo do acid jazz para o presente, provando que repetir certas fórmulas já executadas por eles mesmos ou outros artistas não chega a ser um problema quando o resultado final é muito mais do que apenas bem executado.

Por Rodrigo Façanha

Comentários