Parafraseando o falecido Stan Lee, que criou a frase “com
grandes poderes, vem grandes responsabilidades”, imortalizada nas histórias do
Homem-Aranha, ouso adaptá-la para a música com um pequeno ajuste: “com grandes
bandas, vem grandes expectativas”. Traduzindo: todo fã espera sempre o melhor
de sua banda favorita. E, algumas vezes, esquecemos que as bandas são formadas
por seres humanos, e, portanto, sujeitas à falhas e altos e baixos.
Após lançar uma série de sete discos que colocaram seu nome no topo do metal – da estreia Killing is My Business ... and Business is
Good! (1985) até Cryptic Writings (1997) -, o Megadeth experimentou um período
não tão inspirado assim com discos que não foram bem aceitos pelos fãs e não
apresentaram a inspiração de outrora. Álbuns como o controverso Risk (1999, The
World Needs a Hero (2001), Th1rt3en (2011) e Super Collider (2013) fazem parte
desse pacote.
Décimo-quarto álbum do Megadeth, Super Collider foi
lançado em 4 de junho de 2013, sucedendo Th1rt3en. O trabalho foi o primeiro em
que a formação da banda se repetiu desde Cryptic Writings, dezesseis anos antes
– mais um exemplo de como a década de 2000 foi instável para o quarteto de Dave
Mustaine. Ao lado de Mustaine estão o parceiro de longa data David Ellefson (que havia retornado ao grupo no álbum anterior), o
guitarrista Chris Broderick (que fez parte da banda entre 2008 e 2014) e o
baterista Shawn Drover (uma década no grupo, entre 2004 e 2014). Vale mencionar
também que Super Collider, cuja produção foi assinada por Mustaine e Johnny K
(Red Lamb, Soil, Pop Evil), foi o primeiro lançamento do selo Tradecraft, que a
Universal entregou nas mãos de Mustaine e onde o músico, teoricamente, teria
mais liberdade criativa.
O que dividiu os fãs foi a
variação entre músicas mais agressivas e outras nem tanto, onde a aproximação
com o hard rock e elementos mais acessíveis incomodou quem sempre associou o
Megadeth com o thrash metal e não admite que a banda coloque um pé para fora do
estilo que ajudou a consolidar e popularizar. O álbum contém pedradas fortes
como “Kingmaker”, “Built for War” e “Don’t Turn Your Back” (talvez a melhor
música do CD) ao lado de momentos em que a banda explora outros caminhos como o hard presente na música título e em “Forget to Remember”, sonoridades
mais contemporâneas em “Burn!” e “Off the Edge” (que não estão distantes do que
foi apresentado em Cryptic Writings, por exemplo) e até experimenta na sombria
e densa “Dance in the Rain”, com participação de David Draiman, vocalista do
Disturbed. Fechando o trabalho, o grupo gravou uma versão para “Cold Sweat”, do
sempre ótimo Thin Lizzy, que obviamente ganhou uma releitura mais pesada pelas
mãos de Mustaine e sua gangue.
Chris Broderick e Shawn Drover seriam dispensados
alegando as famosas “diferenças musicais”, e anunciaram de maneira conjunta que
estavam deixando o grupo no dia 25 de novembro de 2014. A banda então foi
reformulada com Kiko Loureiro e Dirk Verbeuren, vindos do Angra e do Soilwork
respectivamente, e lançou o excelente Dystopia em 2016, cuja bateria foi
gravada por Chris Adler, do Lamb of God.
Analisado com o distanciamento do tempo e sem a urgência
da época de seu lançamento, Super Collider revela-se um álbum que, mesmo
inferior ao período inicial do quarteto e também a discos como United Abominations
(2007) e, principalmente, Endgame (2009), possui qualidades inequívocas. A
variação entre composições mais agressivas e acessíveis, somada à execução
primorosa, faz do disco um trabalho com jóias sonoras que até hoje não foram
descobertas pelos fãs.
Grandes bandas geram grandes expectativas. E mesmo quando
não conseguem alcançá-las, o caminho até essa conclusão sempre reserva boas
surpresas para o ouvido.
Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.