O Velvet Underground foi um grupo que, durante seu
pequeno período de existência, passou quase batido. Hoje é referência para nove
entre dez artistas indie/lo-fi. Disse um crítico americano que o Kyuss é o
Velvet Underground de sua seara. Só poderemos comprovar daqui umas duas
décadas, mas a tese é boa.
Formada na cidade californiana Palm Desert, a banda durou
cerca de seis anos (1990-1995) e lançou quatro álbuns. A época é relativa à
adolescência do guitarrista Josh Homme, que fundou o Kyuss na tenra idade de 16
anos, ao lado do baixista Nick Oliveri (que tinha 17), do vocalista John Garcia
e do baterista Brant Bjork (hoje no Fu Manchu). Ele teve a puberdade dos sonhos
de qualquer jovem roqueiro: terminou o colegial, viajou o mundo tocando, foi
chamado de Deus e, quando o lance ficou repetitivo e chato, saiu do mundo do
rock, entrou na faculdade e arrumou um emprego de adulto (mais tarde, graças às
pressões dos chapas do Screaming Trees, com quem tocava esporadicamente, Josh
montou o Queens of the Stone Age e se deu ao luxo de convidar Mark Lannegan,
ex-vocalista do ST, para integrar seu grupo - o convite foi aceito em maio
deste ano).
Foi na turnê do álbum de estreia, o cru Wretch (1991), que
a banda conheceu seu quinto membro. Chris Goss, ex-integrante da seminal
Masters of Reality, chapou com a performance e se tornou o responsável por toda
a produção do Kyuss. Aquele hard rock, ora bem lento, ora bem rápido, com muito
groove e quase sempre viajandão, precisava de alguém que soubesse fazer o solo
tremer na mesa de som. Josh plugava sua guitarra Ovation UK II preta num
amplificador de baixo, a afinava o mais grave possível, pisava no fuzz e saia
compondo riffs turbinados com a urgência de um garoto que acabara de tirar a
habilitação para dirigir. É por isso que a sequência inicial de Blues for
the Red Sun, com "Thumb", "Green Machine", "Molten
Universe" e "50 Million Year Trip (Downside Up)", cheira à
estrada empoeirada.
O grupo, que no início de carreira (quando se chamava
Sons of Kyuss) promovia grandes festas no meio do deserto californiano usando
geradores onde tocava por horas a fio, transporta o ouvinte para esse ermo.
Quente, seco, duro, mas com um suingue atmosférico, quase sensual, culpa do
baixo do então cabeludo e "desbarbado" Nick Oliveri - substituído por
Scott Reeder na turnê do disco.
"50 Million Year Trip (Downside Up)" é o maior
exemplo: um rock que dá vontade de balançar a cabeça e a cintura ao mesmo
tempo. Depois dela vem a filosofia de "Thong Song": "Meu cabelo
é compridão / Nenhum cérebro, só músculo / ( ... ) Eu odeio música devagar",
canta Garcia sem a menor culpa, como que sorvendo goles de cerveja entre os
versos. Das 14 faixas, apenas oito possuem letra. Existe uma preocupação muito
grande com o instrumental, vinhetas e introduções, como acontece em
"Freedom Run" (sete minutos e meio de psicodelia e "lesação").
Dave Grohl, Billy Corgan, Melissa Auf Der Maur e muita gente boa da cúpula do rock bota Blues for the Red Sun entre os dez discos da sua vida (há os que preferem o abusado Welcome to Sky Valley, de 1994, com suas três suítes musicais, cada uma dividida em várias partes). Um pouco da magnitude do Kyuss pode ser medida pela qualidade das bandas que excursionaram junto: Faith No More, Smashing Pumpkins e Ween.
Ver Josh tirando aquele som lindo era (e sempre será) uma
experiência mais do que incandescente.
Texto escrito por José Flávio Júnior e publicado na Bizz #192,
de julho de 2001
Coisa linda de se ler, 50 million year trip é um monumento de canção. Grohl, Corgan e Auf Der Maur participam em que faixas?
ResponderExcluirNão há participações especiais no álbum.
ExcluirUm dos Marco zero do Stoner Rock
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