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O quadrinista canadense Jeff Lemire possui algumas características marcantes em suas obras. Dramas familiares passados em cidades interioranas com paisagens bucólicas estão entre elas. Esse é o pano de fundo de Black Hammer e Gideon Falls, duas de suas obras recentes mais celebradas, e também de Nada a Perder, quadrinho publicado no Brasil pela editora Nemo em 2018 e que acaba de ganhar sua primeira reimpressão.
Em Nada a Perder conhecemos um ex-jogador de hóquei que
tinha tudo para se transformar em uma estrela do esporte, mas que acabou não
alcançando todo o seu potencial devido a alguns problemas pelo caminho. Ao
invés disso, Derek Ouelette, o personagem central da obra, é apenas um cara
fracassado que sobrevive como pode em uma minúscula cidade do interior gelado
do Canadá. E, enquanto faz isso, bebe litros de álcool e arruma confusão com
praticamente todo mundo. As coisas mudam de figura quando sua irmã retorna após muitos anos fora e traz junto consigo problemas que levam Derek a
encarar as suas próprias questões.
Lemire conta essa história de maneira exemplar. O texto é
muito bem escrito e prende o leitor, enquanto a narrativa gráfica mostra o
domínio do autor também sobre a arte. Ao contrário de Black Hammer e Gideon
Falls, produzidas ao lado dos ilustradores Dean Ormston e Andrea Sorrentino
respectivamente, em Nada a Perder Lemire faz tudo, do roteiro à colorização em
aquarela. Sua arte é impressionista e dona de um estilo bastante peculiar, que
casa de forma perfeita com o que está sendo contato.
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A narrativa usa a cor como elemento de localização temporal e espelho do estado de espírito dos personagens. Na maior parte de suas 272 páginas, Nada a Perder traz apenas três cores: branco, preto e tons de azul. Isso faz com que o ambiente gélido onde a história se passa também seja sentido pelo leitor, em um resultado que entrega páginas muito bonitas artisticamente. Todo o tempo presente dos personagens apresenta essa estética, mostrando o quanto eles estão congelados dentro de suas próprias vidas e presos em questões que ainda não conseguiram resolver. Os curtos e frequentes flashbacks, fundamentais para tornar os personagens ainda mais profundos e complexos, vem sempre com uma paleta de cores muito mais variada, exemplificando como a vida era bela e acontecia em sua plenitude no passado, em contraste com o pesadelo que o presente se tornou.
Todo esse processo leva a um crescendo constante, com o
quadrinho tendo um ritmo empolgante e revelando-se, ao mesmo tempo, uma
história de ação e uma busca pela verdadeira essência do protagonista. O
clímax, onde Derek encontra a redenção, é contado por Lemire com extrema sensibilidade,
em contraste com a explosão que ocorre na parte gráfica no mesmo momento.
Nada a Perder é mais um belo trabalho desse autor e
ilustrador canadense, um título que foge totalmente da esfera super-heróica e
fantasiosa dos quadrinhos e constrói uma trama muito mais alinhada com o
público adulto e até mesmo com a literatura.
A edição da Nemo vem no formato 23,8x17,2 centímetros,
272 páginas, capa com orelha e lombada quadrada, seguindo o padrão adotado
pela editora em seus quadrinhos.
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