Review: Ozzy Osbourne – The Ultimate Sin (1986)



Quarto álbum de Ozzy Osbourne, The Ultimate Sin é um dos trabalhos mais peculiares do vocalista inglês. Lançado em 22 de fevereiro de 1986, o disco traz uma sonoridade muito influenciada pelo hard rock californiano em voga na época, resultando em um som mais acessível e repleto de refrãos marcantes.

O responsável por esse direcionamento foi o guitarrista Jake E. Lee. O músico estreou na álbum anterior de Ozzy, Bark at the Moon (1983), iniciando uma nova época na carreira do Madman após a trágica morte de Randy Rhoads em março de 1982. Ozzy passou grande parte do ano de 1985 internado na clínica Betty Ford Center, e quando retornou encontrou Jake com várias músicas prontas. No entanto, o guitarrista só aceitou cedê-las para Ozzy após a assinatura de um contrato onde o cantor se comprometia a dar crédito para Lee, já que Jake alega até hoje que contribuiu muito em Bark at the Moon e não foi creditado em nenhuma das oito faixas daquele disco.

Com o problema resolvido, o baixista Bob Daisley (Uriah Heep, Rainbow, Gary Moore) passou a trabalhar nas letras junto com Ozzy, enquanto o trio Jake E. Lee, Daisley e Jimmy DeGrasso (Megadeth, Y&T) aprimorou as músicas, registrando-as em uma versão inicial em estúdio. A banda que gravaria o LP seria essa, porém Ozzy foi chamado para cantar com o Black Sabbath no Live Aid e isso atrapalhou os planos. Daisley e DeGrasso foram então substituídos por Phil Soussan (Billy Idol, Jimmy Page, Richie Kotzen) e Randy Castillo (Mötley Crüe, Lita Ford).

The Ultimate Sin iria se chamar Killer of Giants, nome de uma de suas faixas, mas Ozzy mudou de ideia no último minuto. O disco foi produzido por Ron Nevison (The Who, Bad Company, Led Zeppelin) e traz nove canções escritas por Ozzy, Lee e Daisley. A única exceção é “Shot in the Dark”, principal single do álbum, cuja autoria é de Ozzy e Phil Soussan. As canções de The Ultimate Sin trazem uma inequívoca influência do hard rock norte-americano dos anos 1980 e soam distintas do metal sombrio e carregado de letras de horror que Ozzy sempre praticou em sua carreira. As faixas soam mais ensolaradas, com melodias onipresentes e refrãos vigorosos. Em relação às letras, temas políticos surgem com força em músicas como “Thank God for the Bomb” e “Killer of Giants”, ambas com temática anti-guerra.

O disco abre com as batidas tribais da música título, um hard rock cativante construído a partir de um riff simples de Jake E. Lee. Ozzy Osbourne surge em uma linha vocal fortíssima, uma das marcas registradas de sua carreira. “Secret Loser” é glam metal e não esconde isso em nenhum momento, porém trata-se de um hard farofa com o pedigree de Ozzy. O refrão gruda de imediato, assim como as melodias. A veia hard de Lee surge com autoridade em “Never Know Why” e “Thank God for the Bomb”, enquanto “Never” traz uma pegada mais metal.


O lado B do vinil abria com “Lightning Strikes”, uma das canções mais consistentes do play. Ela é seguida pela espetacular “Killer of Giants”, uma das mais lindas composições que Ozzy Osbourne gravou na vida e que é o grande momento do disco. Com um arranjo crescente, a faixa inicia com uma introdução dedilhada de Jake E. Lee, e quando Ozzy surge rebate qualquer comentário equivocado sobre a qualidade de seu trabalho vocal. A emoção que o Madman coloca nessa música é de arrepiar! O refrão é outro ponto de destaque, assim como a letra. Lee faz um trabalho incrível de guitarra durante os quase seis minutos de duração, culminando com um solo muito bonito e uma explosão instrumental na parte final que é de emocionar até o mais durão dos metalheads.

“Fool Like You” vem a seguir e é conta com um riff-solo ou um solo-riff de Lee na introdução, e é outra que vai na linha mais hard. O disco fecha com “Shot in the Dark”, uma das canções mais acessíveis que Ozzy gravou na vida. Escrita em parceria com o baixista Phil Soussan, foi o principal single do disco e chegou à décima posição na parada mainstream dos Estados Unidos e no número 68 do Billboard Hot 100. Um ótimo encerramento para um álbum que até hoje soa fora da curva na longa discografia de Osbourne.

The Ultimate Sin vendeu mais de 2 milhões de cópias e recebeu disco de platina dupla no mercado norte-americano. Apesar do enorme sucesso comercial – até então o maior da trajetória solo de Ozzy -, o vocalista demitiu Jake E. Lee em 1987 por motivos até hoje mal explicados. Phil Soussan também saiu fora e a banda do Madman foi reformulada com a chegada do guitarrista Zakk Wylde, o retorno de Bob Daisley e a permanência de Randy Castillo, lançando No Rest for the Wicked no final de setembro de 1988.

A capa de The Ultimate Sin, com Ozzy retratado como uma espécie de dragão ao lado de uma sensual mulher, foi criada pelo artista peruano Boris Vallejo, famoso por suas ilustrações eróticas e de fantasia.


A edição original brasileira em vinil de The Ultimate Sin vinha com uma moldura com a inscrição "Heavy Metal Heart", estratégia adotada pela gravadora Epic/CBS em diversos lançamentos da época para capitalizar em cima da explosão de popularidade que o metal teve no país após a primeira edição do Rock in Rio, em janeiro de 1985. O álbum foi relançado em uma edição remasterizada em 1995, seguindo o padrão estético das capas desse relançamento, com a arte menor e o nome de Ozzy enorme ao lado. Essa versão remaster apresenta uma versão ligeiramente diferente de “Shot in the Dark”, que sofreu um corte entre o primeiro refrão e o segundo verso, provavelmente por questões envolvendo uma disputa entre direitos autorais.

The Ultimate Sin, apesar de produção um pouco datada – pessoalmente, me incomoda o timbre muito aberto da bateria -, segue soando um ótimo trabalho passados 33 anos de seu lançamento. Um disco fora do convencional e diferente de tudo que Ozzy Osbourne gravou na vida. Suas músicas são cativantes e fortes, e mostram um Ozzy flertando com o glam metal e acertando em cheio na sua intenção.

Comentários

  1. Heavy Metal Heart... putz, aquela malandragem da CBS só serviu para colar adesivos que não saíam de jeito nenhum das capas dos discos.

    Bacana essa análise. O detalhe de Shot in the Dark na versão remasterizada eu nem lembrava. E Jake E. Lee marcou época tocando em apenas dois discos. Incrível guitarrista.

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