Review: Trapeze - You Are the Music ... We’re Just the Band (1972)



Power trio maravilhoso de hard rock dos anos 1970, o Trapeze era uma máquina. Bom, olha só quem estava na linha de frente: Glenn Hughes (baixo e vocal, futuro Deep Purple, Black Sabbath, Black Country Communion), Mel Galley (guitarrista que tocou, dentre outros, com o Whitesnake nos anos 1980) e Dave Holland (bateria, futuro Judas Priest). Cercado por gente da pesada (B. J. Cole na guitarra e Rod Argent nos piano e teclados), este é o melhor trabalho da banda na opinião de muitos.

“Keepin’ Time” abre o disco com Holland fazendo o que sabe de melhor: descendo a ladeira - estilo que seria fundamental no Judas. Um hardão pesado que encaixou bem com o estilo daquele que é conhecido por muitos como "a voz do rock": Mr. Hughes. “You are the Music”, que fecha o disco, tem levadas funkeadas  e sentimentalismo com qualidade, sem perder a classe. Um dos pontos altos ao lado da delicada “Coast to Coast”, uma aula de soul de Hughes em todos os aspectos.

E o álbum tem o groove incrível de “What is a Woman's Role”, o peso de “Way Back to the Bone” (com uma guitarra pra lá de marcante) e a tocante “Feeling’ So Much Better Now”, um hard digno da batera de Dave Holland. 

Não podemos deixar de lado a balada “Will Our Love End”, que pisa com força na soul music (a grande paixão de Hugues) e que aqui ganha ares elegantes com as participações especiais de Frank Ricotti e Jimmy Hastings, no vibrafone e no sax respectivamente. “Loser” é outra canção com um riff marcante e a voz de Hughes que segura não apenas no gogó, mas também nas quatro cordas um ritmo swingado que só ele é capaz de fazer. 

Além do peso e do groove no seu som, o Trapeze sempre teve o pé no jazz e é nas músicas mais lentas que este detalhe emerge com mais evidência. Glenn Hughes foi o líder por ter a voz, saber manejar seu baixo com maestria e a sua versatilidade, conseguindo usar seu registro mais alto sem desafinar nem um segundo.


Este seria o último trabalho de Hughes com o trio, que só por este disco entrou para a história musical mundial.  No ano seguinte ele foi convidado pelo Deep Purple para substituir ninguém menos que o genial Roger Glover - e quem diria não neste momento? O Purple se transformou no que seria a chamada  Mark III, ou terceira formação, com o clássico Burn (1974) logo de cara, mas o Trapeze seguiu adiante. Ou pelo menos tentou. O novo Trapeze não conseguiu se equilibrar muito com Rob Kendrick (guitarras) e Pete Wright (baixo) lançando o álbum Hot Wire em 1974 e o auto intitulado Trapeze no ano seguinte, mas sem Hughes não teve conversa e o Trapeze descansou em paz.  

O disco é indicado para aqueles que só conhecem Hughes do seu trabalho subsequente com o Deep Purple. Um aviso: vocês  podem se surpreender ao ouvir este álbum e entender, de uma vez, porque ele foi chamado por Blackmore e companhia para fazer parte do Purple.

Se tivesse que ouvir uma única música deste disco? Bem, escute “Coast to Coast”. Não tem pra ninguém.

Por Aroldo Antonio Glomb Junior 

Aroldo Antonio Glomb Junior tem 41 anos, é jornalista, Athleticano e fanático por boa música desde que completou seus 10 anos de idade. É o autor do projeto SOBRE O SOM DOS SETENTA, que reúne resenhas de diversos discos lançados durante os anos 1970, escrevendo desde clássicos da década até discos mais obscuros, independente do estilo.  


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