Musicalmente, cá entre nós, é menos que um álbum: são
quatro singles arrasadores, duas ou três faixas bacaninhas e outras francamente
indigentes. O primeiro LP de Madonna, homônimo, quase todo composto por ela e lançado um ano antes,
tem cotação melhor no All Music Guide e muito melhor lá em casa: é
autoral, é black, sexy e dançante.
Para o consumidor, o disco mais recomendado é a coletânea The Immaculate Collection (1990) - mesmo porque a nova edição de Like a Virgin exclui "Into the Groove", feita para a magistral trilha de Procura-se Susan Desesperadamente. Mas isto não é um disco, é um marco sociológico. A emancipação da mulher ocidental deve duas ou três coisas a ela. E Madonna, tal como a conhecemos, deve a carreira a este álbum e a dois de seus clipes.
A vagaba de roupas baratas que antes suava o corpinho em vídeos de 1.500 dólares ("Everybody") saiu do disco de estreia como superestrela. O primeiro clipe do segundo álbum, sua faixa-título, Madonna já fez em Veneza, de noivinha, se contorcendo e gemendo a bordo de uma gôndola. A canção era originalmente uma balada dos hitmakers de aluguel Billy Steinberg (letrista) e Tom Kelly. Mas o produtor Nile Rodgers deu prova de seu gênio incorporando ritmo similar ao de "Bille Jean" e uma linha de baixo "adaptada" de "I Can't Help Myself", dos Four Tops.
Em 1992, Quentin Tarantino, no papel de Mr. Brown em Cães
de Aluguel, trataria de decifrar definitivamente a letra: Madonna se sente como
uma virgem porque encontra um cara com um membro descomunal que a faz lembrar,
depois de longa quilometragem, como era ser "tocada pela primeiríssima
vez".
Agora, prazer mesmo são as trepidantes "Dress You Up", escrita pelos obscuros Andrea LaRusso e Peggy Stanziale, e "Into the Groove", que Madonna compôs em parceria com Stephen Bray pensando em presentear a cantora negra Cheyne. A musa das pistas surge ali, a farra dos sequenciadores ganha o grande público mundialmente ali.
Hoje "muito espiritualizada", a cantora diz que
detesta a assumidamente interesseira "Material Girl", brincadeira
composta por um cara que tinha feito sucesso na era da discoteca, Peter
"Do You Wanna Get Funky With Me?" Brown. Que importa? O que fica é
que no clipe, chupando o visual de Marilyn e uma cena inteira do filme Os
Homens Preferem as Louras, Madonna liberou mulheres e cachorras em todo o
mundo.
O irônico é que nesse mesmo dia conheceria Sean Penn e
arranjaria um marido para lhe bater na fuça.
Texto escrito por Pedro Só e publicado na Bizz #198, de
fevereiro de 2006
Boa matéria. Só um adendo, a própria Madonna disse que nunca foi agredida por Sean Penn
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