Baseado na autobiografia do jornalista inglês Sarfraz Manzoor, A
Música da Minha Vida é uma ode à obra de Bruce Springsteen. Sarfraz, filho de
um imigrante paquistanês na Inglaterra da década de 1980, encontra na música de
Springsteen aquilo que a sua família não consegue lhe entregar, torna-se um fã
inveterado do norte-americano e usa suas letras como modo de ver a vida e
superar os problemas que encontra pelo caminho.
A imigração, hoje uma das maiores questões mundiais, é
tratada sem maiores pudores no filme. A família “paqui” (termo depreciativo
utilizado pelos ingleses para ofender os paquistaneses) de Manzoor convive com
o preconceito e a xenofobia diariamente. Seu pai adota a postura defensiva, do
não confrontamento, o que contrasta com o jovem protagonista, que como todo
adolescente quer fazer parte da turma e consumir o que os seus amigos consumem.
Essa luta entra a tradição asiática e a modernidade ocidental divide pai e
filho e é o grande condutor dramático da obra.
Sarfraz descobre a música de Bruce Springsteen através de
um amigo e encontra nas letras do Boss a definição e as explicações para os
anseios e medos que está experimentando. Bruce é um dos maiores artistas do rock e um
dos grandes letristas da música, e o que é mostrado em A Música da Minha Vida
comprova o apelo universal de sua obra.
O norte-americano superou há muitos anos os limites de seu país natal e
hoje fala com todo o planeta. Aqui no Brasil, muito da força de suas canções se
perde para quem não procura entender as letras que ele canta, mas o filme faz
esse favor ao expor todo o conteúdo emocional e a veracidade crua dos poemas de
Springsteen.
Ambientado na Inglaterra de Margaret Thatcher, assombrada
pelo desemprego e com os ingleses tendo que dividir as poucas vagas de trabalho
com os imigrantes paquistaneses, o filme mostra também a ascensão dos grupos de
extrema direita nacionalistas britânicos, exemplificados na figura dos
skinheads, e acaba gerando uma de suas cenas mais fortes ao mostrar as ações dessas
facções contra os “paquis”.
Mas o filme é, de modo geral, leve e inspirador. A
direção de Gurinder Chadha é precisa, o roteiro escrito pelo próprio Sarfraz é
direto ao ponto e a atuação de Viveik Kalra no papel principal é bastante
consistente. Como curiosidade, vale mencionar a participação de Dean-Charles
Chapman, que interpretou o jovem rei Tommem em Game of Thrones, no papal do
melhor amigo do personagem principal.
Sarfraz Manzoor se tornou um jornalista, apresentador e
documentarista respeitado no Reino Unido, com um duradouro trabalho no The
Guardian e na BBC. E essa carreira deve muito à força que ele encontrou nas
músicas de Bruce Springsteen. Com uma história positiva e uma trilha sonora
impecável, A Música da Minha Vida, apesar do título brega escolhido para o
mercado brasileiro, é um filme recomendadíssimo para quem ama a música e
essencial para quem é fã de Springsteen.
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