Um disco duplo ...
Não, melhor: dois discos duplos lançados no mesmo dia pela mesma banda e que,
juntos, venderam 1.455.000 cópias na primeira semana. Exatamente, estou falando
de Use Your Illusion I e Use Your Illusion II, o terceiro e o quarto discos do
Guns N' Roses, que saíram há 28 anos, no dia 17 de
setembro de 1991 (obviamente que estou falando dos formatos em vinil, hoje em
dia dois CDs comportam bem os quatro discos). Pode parecer muita presunção
pensar que uma banda tenha a ousadia de lançar dois discos duplos no mesmo dia,
porém Axl Rose nunca se importou muito com este tipo de coisa. Além do mais, os
números confirmam que foi uma ideia genial, não é?
Até hoje, os Illusions já
venderam cerca de 33 milhões de cópias, sendo 17 milhões do Illusion I e 16
milhões do Illusion II. Unindo com as vendas de Appetite For Destruction, com nada além de 30 milhões de cópias (e subindo), o GNR já garante seu
nome na história.
Mas voltando aos
discos que são a razão desse texto, Use Your Illusion I abre com "Right Next
Door to Hell", um título bem apropriado dada a
violência a qual se espera, principalmente se o ouvinte tem conhecimento apenas
de Appetite For Destruction. E de fato a
música faz justiça ao nome: uma porrada com guitarras pegadas, Axl cantando de
forma avassaladora. Na verdade, como "Right Next Door to Hell" temos algumas no
disco. Podemos citar "Perfect Crime", "Back Off Bitch", "Double Talkin' Jive", "The
Garden", "Garden of Eden", "Don’t Danm Me" e até mesmo "Coma", todas com uma violência
emergente, embutida em algo que ficou marcado como característica da banda.
Para um bom ouvinte ou simplesmente alguém que gosta de ouvir no volume máximo
(como eu), é possível sentir a pancada no peito.
Mas o disco
também passeia por outras esferas da música como o blues de "Dust N' Bones", o country
de "You Ain’t the First", a classicismo de "November Rain" - toda sua estrutura,
composição, solos, melodias e o ápice final, que é de tirar o fôlego. "November Rain", além do que todos já sabem (e talvez estejam cansados de ouvir), foi composta em cerca de 15 minutos. Os arranjos levaram mais
tempo. No entanto, aquele tipo de composição, usando as guitarras como um
adendo à música, ainda não havia sido feito por ninguém. Depois dela é que foi
percebido que as guitarras poderiam acompanhar um piano de uma forma mais suave
e não agressiva (vide que há outras músicas nos discos que fazem algo similar
como "Estranged" e "Breakdown)".
Há ainda "Don’t Cry", que passeia por uma
suavidade relativamente similar a de "November Rain" mas sem um arranjo de piano e
focando mais no rock propriamente dito. O disco tem um lado meio cabaré, talvez,
com "Bad Obsession" e "Bad Apples". Isso sem mencionar ainda o cover de "Live and Let
Die", de Paul e Linda McCartney, numa versão bem grandiosa e poderosa, típico do
Guns.
Ambos os álbuns
trazem fatores semelhantes, porém o Illusion I é um disco que presa mais pela
violência e pelo furor, vai direto ao ponto sem muito rodeio, é mais incisivo e
dá foco ao lado sex, drugs and rock and roll da banda. É bom lembrar que o GNR
era conhecido como “a banda mais perigosa do planeta” nos anos 1990. Já no
Illusion II é possível sentir que toda esta fúria ainda continua lá, mas existe
uma versatilidade maior para com as baladas, as nuances de uma banda que busca
influências em mais de uma ou outra fonte. O ecletismo está lá, as referências
ficam mais claras e percebe-se isso logo no começo.
Como mencionei
anteriormente, Illusion I começa com a porrada de "Right Next Door to Hell" pedindo pra entrar com o pé na porta. Já o Illusion II se inicia com "Civil War" e uma fala do ator Strother Martin no filme Rebeldia Indomável, de 1967 e, pouco
depois, um assobio de Axl Rose pertencente à canção "When Johnny Comes Marching
Home", ambos fazendo referência à Guerra Civil Americana. No final do solo de
Slash, do meio para o fim da música, é possível ouvir um segundo discurso
proveniente de um oficial peruano pertencente ao Partido Comunista do Peru.
Em seguida, "14
Years" e "Yesterdays" embalam o disco numa nostalgia regrada às belezas da vida, aos
tempos que passaram e não voltam. Depois, o cover do álbum, "Knockin' on Heaven’s Door", de
Bob Dylan, mantém a linha, porém num embalo que remete às tristezas no começo,
mas terminando grandiosa e tratando ainda dos temas guerras, mortes e algo
acima de nós todos. Uma outra bela versão, assim como "Live and Let Die" no
Illusion I.
Continuando,
temos a sequência "Get in the Ring", "Shotgun Blues", "Breakdown", "Pretty Tied Up" e "Locomotive" - sinceramente, uma sequência sensacional. "Get in the Ring" fala a
respeito da imprensa que tratava a banda como um bando de viciados em drogas que
deram sorte na vida por encontrar o rock e não morrer na sarjeta, inclusive chamando alguns deles para o ringue.
"Shotgun Blues" e "Breakdown" são duas das
minhas favoritas do disco, muito bem feitas, com ênfase para "Breakdown" e sua
introdução quase delirante. Um piano bem tocado, um solo do Slash acompanhando,
um violão de Izzy no fundo. Percebe-se o baixo de Duff entrando sereno e a
bateria de Matt Sorum numa batida que lembra bateria de guerra, além, novamente,
de um assobio de Axl. A música continua a se desenvolver a partir daí e
culmina numa belíssima introdução. Ouso dizer, este tipo de coisa só é feita por
quem entende do que faz.
Temos, então, uma
balada romântica, "So Fine", que abre passagem para o grande clássico do álbum, "Estranged". Essa obra-prima foi composta por Axl Rose e Slash, tem mais de 9
minutos de duração e fala da separação de Axl e Erin Every, na época casados. Os
pontos altos da música incluem os solos de Slash, que trazem uma sensação de dor e sofrimento mas ao mesmo tempo muita força e resiliência, enquanto a letra trata
justamente do divórcio de Axl. Uma grande faixa, com um piano muito bem colocado,
guitarras pontuais, baixo seguro e marcante, "Estranged" sem dúvida é o ápice do
disco.
Na tríade final, "You Could Be Mine", sem dúvida uma outra grande canção. Ela já estava pronta na
época de Appetite For Destruction e poderia ter sido incluída no disco, mas
acabou vindo parar em Illusion II e fez jus ao álbum. Guitarras ferozes, um
vocal visceral, a bateria que faz com que a música seja uma das melhores do
disco.
Em seguida uma segunda versão de "Don’t Cry" com uma letra alternativa.
Assim como "You Could Be Mine", "Don’t Cry" também estava pronta em 1987 e foi
baseada no fim do relacionamento de Izzy na época. Segundo o próprio, ele teria
dito as palavras do refrão à ex-namorada. Quando encontrou Axl, contou o que
havia ocorrido e ambos compuseram a música com uma letra grande. Com intuito de
não desperdiçar parte da música, selecionaram algumas estrofes e fizeram duas
versões. Por isso a versão original e a versão alternativa. E por fim "My
World", uma música que Axl Rose fez por influência do rock industrial, o qual
ele tanto admirava na época.
Para concluir, os
Illusions são dois dos melhores discos que eu já ouvi. É possível perceber toda
a força criativa da banda, assim como seus momentos de raiva, fúria, alegria,
diversão, enfim. Nota-se ainda uma divisão entre os discos, sendo o primeiro
mais cru, mais puro, e o segundo ligeiramente mais maleável, algo como a
adolescência e a vida adulta, os aprendizados que a maturidade traz e a
inevitável sabedoria que adquirimos apenas crescendo.
Não obstante, são
discos que se tornam ainda mais relevantes se comparados ao que ocorria na
época, 1991, em que o grunge surgia feroz com Nirvana, Pearl Jam e companhia
fazendo frente justamente a este comportamento mainstream rebelde, tão
característico do GNR. Havia ainda o Black Album do Metallica extremamente poderoso
e, sem dúvida, um dos mais importantes discos da história do rock. O Helloween
começando sua derrocada com Pink Bubbles Go Ape, o Rush lançava Roll the
Bones, Ozzy Osbourne com No More Tears, Red Hot Chili Peppers estourava com
Blood Sugar Sex Magik, além de Dire Straits, Ramones, Marillion, Jethro Tull e
muitos outros. Ou seja, obter uma vitória desse nível, de fato, faz com que a
vitória seja eterna e consagrada. Os Illusions conseguiram.
Por Tarsis B. Zilli
Por Tarsis B. Zilli
Em termos comercias, de fato são discos vencedores, mas no que se refere à qualidade os USE YOUR ILLUSION são fraquíssimos. Comparados com a fúria indolente do AFD, é constrangedor constatar a decadência da banda, e tão cedo...Foram nestes discos que a megalomania, talvez a loucura, de Axl se manifestou. Certo foi o Izzy, que vendo aquela presepada ególatra toda, logo saltou do barco e foi viver a sua vida!
ResponderExcluirConcordo com o resenhista! Álbuns sensacionais, mostrando uma maturidade muito grande pra uma banda recém nascida! No entanto, há quem creia que eles deveriam repetir o AFD over and over...
ResponderExcluirnão era o caso de repetir o appetite "over and over" como colocou o amigo Alexandre anteriormente mas, em minha opinião, talvez não exagerar por caminhos que soaram artificiais, pomposos demais, pretensiosos e enfatuados, musicalmente falando, apenas para, a qualquer custo, tentar se afastar da cena de onde vieram, no caso, do hard rock de los angeles (vulgo hair metal, pejorativamente denominado no século XXI), como muitos deles confirmaram com o passar dos anos.
ResponderExcluirbons discos no geral, sem dúvida, com muitos arranjos interessantes em certos temas e algumas letras bem instigantes e provocadoras mas com excesso de produção para uma banda que não se encaixava neste contexto (afinal foi exatamente por isso que eles dispensaram tantos produtores para gravar o appetite, até acertar com mike clink e a crueza que ele registrou na música da banda), bem como a total falta de urgencia, perigo, rebeldia adolescente ingenua e hedonismo que os caracterizaram anteriormente e os fizeram ser melhores e um pouco distintos das outras bandas de sua geração e com as mesmas origens
Po, mas talvez seja este o cerne da coisa! Os Use talvez reflitam esse amadurecimento intelectual, artístico e pessoal dos caras, de modo que os conceitos que formaram o AFD, muito bem caracterizados pelo Fábio, urgencia, perigo, rebeldia adolescente ingenua e hedonismo, jã não mais os definiam como indivíduos e artistas. Vejo isso com muita clareza, por exemplo, no Duff, que de punk e hard rocker chegou até countryman tardio, lançando um excelente disco, o Tenderness. De qualquer modo, sempre bom trocar ideias com quem curte e entende de música!
ResponderExcluir"No entanto, aquele tipo de composição, usando as guitarras como um adendo à música, ainda não havia sido feito por ninguém. Depois dela é que foi percebido que as guitarras poderiam acompanhar um piano de uma forma mais suave e não agressiva". Creio que o autor do texto nunca ouviu Queen ou David Bowie, ou não soube se expressar corretamente. November Rain é uma composição genial, mas não é inédita nem revolucionária nesse quesito.
ResponderExcluirOlá Dimitri, antes de mais nada, agradeço pelo comentário. Mas na verdade, November Rain tem guitarras inéditas no sentido de timbres, passagens e estruturação. De fato, já haviam composições similares, inclusive as que você mencionou, porém arranjadas de forma diferente no sentido estrutural da canção.
ResponderExcluirQuem diz que os UYI não são bons, ou geniais como o AFD, ou que são fraquíssimos e decadência do GNR, ou não conhece o Guns ou não entende nada de música e da música da banda.
ResponderExcluirO que as pessoas tem q entender é q música é feita de inspiração, e que estilo de vida o Guns levava em 1987 antes de lançar o Appetite? Uma vida de perigo, prostitutas, andavam sujos e as vzs com fome pq ganhavam pouco dinheiro e o pouco q ganhavam gastavam com drogas e álcool, uma vida perigosa q refleti bem o nome do Primeiro álbum. E em 1990 qual estilo de vida deles? Eles eram considerados a melhor banda de rock da atualidade, verdadeiros rocks stars, cheios de grana no bolso, saíram as prostitutas e entraram as modelos, não sabiam mais o q era passar fome, e ainda consumiam muito álcool e drogas, mas desta vez chegava tudo no hotel onde estavam hospedados, não estavam correndo risco de vida indo até a boca buscar. Então normal q as idéias mudem de acordo com o q vc cresce, amuderece e o estilo de vida q vc vive. Eu particularmente minha cabeça nos meus 18 até meus 25 anos era uma e hj com 33 e já sou pai minha cabeca é outra totalmente diferente. E na minha opinião são 2 obras primas do rock, arrisco dizer q se fizessem um único álbum com as 6 melhores músicas de cada um seria um álbum tão bom ou até q melhor q o Appetite. Mas q bom q foram 2.
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