Billie Eilish nasceu em Los Angeles no final de 2001 e
tem 17 anos. Adolescente, é um dos maiores fenômenos do pop atual. E não faz
isso apelando para fórmulas fáceis ou já testadas e usadas à exaustão por
outros artistas. Atingiu esse status apresentando uma sonoridade densa e
sombria, que vem acompanhada por uma estética soturna e chocante – a capa do
álbum já traz a lembrança de Linda Blair no clássico O Exorcista, que apavorou audiências em 1974.
O primeiro álbum de Billie, When We All Fall Asleep,
Where Do We Go?, foi lançado em março e desde então vem chamando a atenção
mundo afora. O disco traz quatorze faixas e pouco mais de 40 minutos, todas
compostas por Eilish ao lado de seu irmão, o ator e produtor Finneas O’Connell.
Musicalmente trata-se de um pop com elementos lúgubres, até mesmo funéreos, mas
que constrói a sua escuridão e amplifica essa característica através das
letras, que tratam dos anseios e medos de Billie e resultam em uma sonoridade
própria e forte. Traduzindo de outra maneira: Billie Eilish traz algumas
características em comum com nomes como Lana Del Rey, porém sem as
orquestrações, que aqui são trocadas por instrumentações eletrônicas, e passei pelo
lado mais gótico da música. E faz tudo isso com um apelo pop acachapante.
“All the Good Girls Go to Hell”, por exemplo, atualiza o
legado de Amy Winehouse. O single “Bad Guy” é uma delícia. “You Should See in a
Crown” é uma pérola. O uso constante de timbres e elementos pouco habituais a
quem não está acostumado com os artifícios atuais da música pop (e sei que escrevo
para um público mais conservador, focado no rock e pouco avesso a tudo que não
se enquadre no estilo) pode causar uma certa estranheza, mas o
ouvido logo se acostuma. E o que resta, após isso, é a qualidade das músicas. “Wish
You Were Gay” é belíssima, “8” usa o ukulele e traz uma das grandes
vocalizações do disco, enquanto o pop bate de maneira certeira em “My Strange
Addiction”, “Bury a Friend” e "Ilomilo".
É difícil dizer para onde a carreira de Billie Eilish
irá. Sua ascensão me lembra o surgimento da neo-zelandesa Lorde, que conquistou
o mundo em 2013 com Pure Heroine e voltou apenas quatro anos depois, bem mais
madura, com Melodrama (2017). Independente disso, chama a atenção a
criatividade nas idéias, a bela voz e a coragem em expor a vida em letras
extremamente pessoais, tudo isso embalado por boa música.
Uma das belas surpresas do ano.
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