Review: Deep Purple – The Book of Taliesyn (1968)


Nos anos 1960, o Purple era mais psicodélico e tinha Rod Evans nos vocais e Nick Simper nas quatro cordas, além dos conhecidos Jon Lord (teclados, órgão), Ritchie Blackmore (guitarra) e Ian Paice (bateria). 

O disco é de outubro de 1968 e é uma encruzilhada de vários vertentes. Além do som mais psicodélico, tinha muito de rock progressivo recebendo boa aceitação no mercado norte-americano — e não tão boa no berço da banda, a Inglaterra velha de guerra.

A banda meio que seguiu os passos do Vanilla Fudge, com um conjunto de músicas que mesclavam canções autorais e grandiosas interpretações de hits conhecidos, tudo com o esmero de Lord e seu Hammond (com um som ainda timidamente agressivo), envenenado pela percussão jazzística de Paice e as cordas agressivas de Blackmore, principalmente nos solos da sua Stratocaster.

A capa foi pensada pelo selo Tetragrammaton para chegar ao público hippie americano e foi criada pelo ilustrador britânico John Vernon Lord — não, não é parente do tecladista do Purple. A arte foi inspirada nos poemas do Livro de Taliesin, uma coleção que se acredita ter sido escrita no século VI. Uma viagem e tanto!

Vamos rapidamente para as canções então. “Listen, Learn, Read On” possui uma espécie de discurso no lugar da letra e com um instrumental que agrada os ouvidos pelo baixo incansável de Simper. É uma canção estranha, bem típica dos anos 1960 mesmo. A marca psicodélica parecia ditar o futuro da banda aqui, uma vez que o estilo lembra muito os “poemas” cantados por Jim Morrison no Doors. Simper, repito, dá um show particular logo na primeira música. Já a instrumental “Wring That Neck” (que na edição americana se chamou “Hard Road”) atinge cinco minutos de improvisos de teclados e guitarras, e era perfeita para se tocar ao vivo. Uma das músicas que marcaram a primeira fase, é a que mais se aproxima do conceito adotado pela banda a partir do In Rock, já com Ian Gillan nos microfones e Roger Glover no baixo.


Mas o disco guardava um pequeno tesouro na terceira faixa. É a grandiosa “Kentucky Woman” (de Neil Diamond) e o seu solo de órgão inspiradíssimo de Lord. O backing vocal lembra  muito Beatles, The Who e Animals. Bem, o Purple tentou seguir esta linha no início, portanto era de se esperar algo quase próximo. E por falar em Beatles, “We Can Work It Out” do Fab Four surge em uma versão aplaudida até mesmo por Paul McCartney (ele havia detestado a versão que o Purple havia feito para “Help”, no primeiro disco). Claro que ficou bem mais ácida a versão encontrada aqui, ainda mais depois da introdução instrumental chamada de “Exposition”, onde a banda mostrava que tinha interesse em música clássica. Tanto que fizeram uma apresentação com orquestra em 1970 e … bem, é outra história que a Collectors Room já falou aqui!

Voltamos agora para “Shield”. É a canção mais obscura da banda (pelo menos deste disco). Aqui se destaca o conjunto todo, com uma pegada mais jazzística bem trabalhada que se aproxima muito do que faziam os Doors (de novo Doors aparecendo aqui). Inegável dizer que o Deep Purple absorveu tudo o que estava acontecendo na época. Até mesmo o solo de percussão e bateria aqui lembra Santana.

Então, Blackmore e Lord brilham na tocante “Anthem”. A melhor canção encontrada aqui, com passagens acústicas fantásticas logo de início. É uma música forte e representativa da banda. Costumo dizer que existiu um Led Zeppelin, um Beatles e vários Deep Purples. A melhor música “deste” Purple é esta aqui. Os cellos e os violinos dão um toque de classe no meio da canção, antes de Blackmore mostrar serviço. Uma #¿$?%!¡ música, mesmo não sendo a mais pesada deles (longe disso). No final, encontramos uma versão do clássico de Ike e Tina Tuner, “River Deep, Mountain High”, bem interessante, com mais de dez minutos de duração. Claro que existe a longa introdução com influência de música erudita que proporcionou ao grande Ian Paice mostrar as suas habilidades em ritmos pausados (só escutando para ver).

Da primeira fase da banda, este é um excelente álbum.

Bem, todos são excelentes, mas …


Por Aroldo Antonio Glomb Junior 

Aroldo Antonio Glomb Junior tem 41 anos, é jornalista, Athleticano e fanático por boa música desde que completou seus 10 anos de idade. É o autor do projeto SOBRE O SOM DOS SETENTA, que reúne resenhas de diversos discos lançados durante os anos 1970, escrevendo desde clássicos da década até discos mais obscuros, independente do estilo.  

Comentários

  1. Rod Evans é um excelente vocalista. Ouçam "Laleena ", do álbum "Deep Purple". Grande canção. Evans arrebenta. Para quem quiser conhecer melhor esse vocalista, sugiro ouvir Captain Beyond. Evans é monstruoso. Depois de Gillan, para mim é o melhor (embora admire muito Coverdale ).

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  2. Melhor disco da primeira fase do Purple, recebi a primeira vez uma Fita K7 de um amigo na época (ele disse "tente adivinhar de qual banda se trata". Sabendo que somente escutei os discos classicos do purple) embora tenha adorado a fita, quando soube que era da primeira fase da banda coloquei essa fita na minha lista de cabeceira.

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