Review: Emerson Lake & Palmer – Trilogy (1972)



Você conhece, possivelmente, alguma banda que não utiliza os teclados. E se eu te perguntasse sobre alguma banda que não utiliza guitarra elétrica e faz rock? Você seria capaz de me dizer um nome? Bem, acredite ou não, uma banda que fez isso (e muito bem) se chama Emerson, Lake & Palmer. A guitarra, instrumento símbolo do rock, não é totalmente descartada pela banda (uma vez que o violão e outros instrumentos afins eram utilizados para as gravações), mas no palco o básico deste power trio era composto pela bateria de Carl Palmer (um monstro com as baquetas), o baixo e os vocais de Greg Lake e tudo o que você puder imaginar de teclados (piano, órgão Hammond, sintetizadores Moog, Minimoog, acordeons ,etc) nas mãos competentes de Keith Emerson.

Trilogy, o terceiro álbum de estúdio da banda, apresenta logo de cara “The Endless Enigma”, uma mini peça que agradou muito a este que aqui escreve pelo crescente constante do início da música até a explosão do refrão gritando “please, please, please, open your eyes!”. O som exótico da banda a qualifica como uma das minhas favoritas quando o assunto é rock progressivo.  Penso que devemos todos nós, meros apreciadores de rock, nos curvar para um trio que consegue fazer um super show sem guitarrista fixo. Claro que eles utilizavam eventualmente este instrumento para gravar uma coisa ou outra, mas no palco quem ditava a loucura organizada da banda era Keith Emerson e seus efeitos, muito tempo antes dos teclados programáveis.

Para se ter uma ideia da força da banda, basta dizer que ela foi a escolhida para fechar o California Jam, em 1974. Detalhe: as bandas que tocaram antes do ELP foram, pela ordem, Black Sabbath e Deep Purple. Neste show a loucura e a criatividade da banda foi tanta que eles utilizaram um piano giratório que se erguia do palco até uma certa altura e rodava freneticamente. Que dia chato este na California, hein?

From the Beginning” é uma peça suave, totalmente baseada em violão e foi um dos destaques da carreira do trio. Seguindo com o desfile de virtuosismo e excentricidade, parte de temas do velho oeste com direito a um piano bar (“The Sheriff”), o instrumental absurdo “Hoedown” (uma versão para “Hoe-Down”, parte do balé Rodeo, de 1942,de Aaron Copland),  até chegar na obra-prima “Trilogy”.


A canção título do disco tem um excelente arranjo de piano que dita a introdução até que o ouvinte se encontra envolto numa parede sonora. É um festival de teclados que parecem cair como uma grande cachoeira sonora nas caixas de som. Não sei dizer se esta é a melhor música progressiva da banda, mas está muito perto.

O disco ainda traz mais duas faixas: “Living Sin” (caso você não tenha gostado dela em uma primeira audição dê um tempo e escute mais tarde novamente, já que não é muito fácil de gostar) e “Abaddon’s Bolero” (para quem gosta de uma mistura bem elaborada de música clássica com rock, mas sem instrumentos de orquestra, uma boa pedida).

Muita gente dá o braço a torcer quando se fala em rock progressivo e cita este trio, colocando-o ELP ao lado do Pink Floyd, Genesis ou Yes. Digo aos que tem preconceito com relação ao grupo pela ausência de guitarras nas músicas que eles conseguem ser tão barulhentos quanto as mais barulhentas bandas que você porventura conheça.

Digo também que eles são tão eficientes e dinâmicos qanto muitas bandas que existem por aí. A obra mais marcante da banda, porém, se chama Pictures At Exibicion, que foi lançada em 1971. Ao lado de Pictures, Trilogy é a parte mais significativa da carreira da banda. Gosto, não nego. Como diria Greg Lake, logo na música de abertura “Please, please, please, open your eyes”.

O que está esperando?


Por Aroldo Antonio Glomb Junior 

Aroldo Antonio Glomb Junior tem 41 anos, é jornalista, Athleticano e fanático por boa música desde que completou seus 10 anos de idade. É o autor do projeto SOBRE O SOM DOS SETENTA, que reúne resenhas de diversos discos lançados durante os anos 1970, escrevendo desde clássicos da década até discos mais obscuros, independente do estilo.  

Comentários

  1. Resenha curta, objetiva e sem delongas. ELP foi tao inovador pra época que Jimmy Hendrix e Robert Fripp quiseram fazer parte da banda. Show!

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