Review: Fear Factory – Concrete (2002)



Em 1991, o Fear Factory entrava em estúdio para gravar o que seria seu primeiro álbum, com um então jovem e desconhecido produtor chamado Ross Robinson. O resultado ficou aquém do esperado pela banda e acabou sendo engavetado, mas o assunto acabou rendendo uma briga que foi parar nos tribunais e, como resultado final, foi determinado que a banda teria o seu direito sobre as composições, mas as gravações poderiam ficar com o produtor. Essa decisão mudou os rumos de ambos. 

A banda voltaria ao estúdio com outro produtor para gravar seu álbum de estreia (Soul of a New Machine, feito com Colin Richardson e lançado no ano seguinte), enquanto a fita que ficou nas mãos de Robinson acabou chamando a atenção de uma outra banda iniciante, chamada KoRn, que o escolheu para produzir a sua estreia em 1994 (ambos saíram por uma então grande e influente Roadrunner Records). O restante é história ... em parte. Com o que parecia ser o fim das atividades do Fear Factory em 2002, a Roadrunner, a fim de quitar as obrigações contratuais pendentes do grupo, resolve finalmente lançar as gravações daquele álbum inédito sobre o título de Concrete, tirado de uma das canções presentes nele.

Gravado na época por um trio composto por Burton C. Bell (vocais), Dino Cazares (guitarra e baixo, apesar do baixo ter sido creditado a Andy Romero) e Raymond Herrera (bateria), neste álbum podemos conferir uma versão extremamente crua – e ainda mais pesada, além de ter um certo aspecto bem “sujo” – do som que viria a ser associado com o nome da banda ao longo de sua carreira: elementos como a alternância de vocais guturais com limpos, guitarras com afinação baixíssima, além da presença de um certo groove lá e cá nas composições já dão as caras por aqui, mas de uma forma bem única se comparados com o restante da discografia. O estilo, no geral, é mais para o lado do metal extremo e até mesmo do grindcore do que do industrial. É impossível não notar a nítida influência de nomes como o Napalm Death (principalmente nos vocais e linhas de bateria), mas também uma notória inspiração no que o Godflesh e o Ministry estavam fazendo na mesma época (como o notório uso de samples em algumas músicas e uma atmosfera mais marcada pelo peso do que pela presença de elementos eletrônicos).

Dentre as suas dezesseis faixas, oito acabaram sendo regravadas para o seu álbum de estreia (“Big God/Raped Souls”, “Arise Above Oppression”, “Crisis”, “Escape Confusion”, “Desecrate”, “Self-Immolation” “Suffer Age” e “Dragged Down by the Weight of Existence” – refeita sob o título de “W.O.E”). “Piss Christ” é uma composição totalmente diferente da “Pisschrist” que apareceria em Demanufacture (1995), enquanto “Echoes of Innocence” é essencialmente um rascunho de “A Therapy for Pain”, faixa que encerra o referido álbum. A faixa-título foi regravada com o nome de “Concreto” como b-side no single de “Dog Day Sunrise” (1995) e como faixa bônus na versão digipack de Obsolete (1998). “Soulwomb” também foi refeita posteriormente, com o título de “Soulwound”, e também como faixa bônus para o mesmo álbum. “Sangre de Niños”, “Deception”, “Anxiety” e “Ulceration” (cujo título é o primeiro nome adotado pela banda) são as faixas remanescentes e únicas desta gravação.

Sob um ponto de vista geral, Concrete é, em parte, uma curiosidade para os fãs do Fear Factory e, em outra, um registro histórico interessantíssimo que retrata as origens de dois grandes nomes que viriam a mudar – para sempre – os rumos do Metal, e cuja influência ainda é perceptível nos dias de hoje.


Por Rodrigo Façanha

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