
O Opeth mudou o seu som em Heritage (2011), seu décimo
disco, deixando para trás o passado death metal e apostando em uma sonoridade
fortemente influenciada pelo prog rock produzido nos anos 1970. Ainda que
ricamente harmônica e farta em belas melodias e ótimas composições, a nova fase
da banda sueca conquistou novos fãs na mesma medida que decepcionou devotos
mais antigos. O fato é que o quinteto liderado pelo vocalista e guitarrista Mikael
Åkerfeldt não dá o
menor indício de que pretende retornar para a música que fazia outrora, e isso
fica claro de forma definitiva em In Cauda Venenum, seu novo trabalho.
Lançado
em 27 de setembro, In Cauda Venenum (Cauda Amaldiçoada, em latim) foi produzido
por Stefan Boman e teve todas as suas músicas compostas por Åkerfeldt durante o
período sabático que o músico tirou após Sorceress (2016). Com todas prontas,
Mikael as apresentou ao grupo. Segundo o líder do Opeth, o objetivo da banda
com In Cauda Venenum “não é chegar ao próximo nível de popularidade, mas sim ao
próximo nível de criatividade”. O trabalho traz dez faixas e foi lançado no
Brasil pela Shinigami Records em duas edições: CD jewel case com as canções
cantadas em inglês e uma versão especial dupla em digipack com as faixas em
inglês e sueco, língua natal da banda.
In Cauda Venenum é um disco denso e que faz uso constante
da alternância de dinâmicas. Trechos mais calmos contrastam com momentos de
maior peso, seja na parte instrumental ou nos vocais - sempre limpos, caso alguém ainda tenha essa dúvida. Os arranjos são ricos e
trazem grande destaque para o teclado de Joakim Svalberg, que divide a linha de
frente com as guitarras de Mikael Åkerfeldt e Fredrik Åkesson. A sessão rítmica formada pelo
baixista Martín Méndez e pelo baterista Martin Axenrot segue como um dos pontos
fortes da banda, tanto pela coesão quanto pela criatividade em criar andamentos
fora do convencional. Um ponto que ganha destaque imediato em “Dignity”, que
entra após a climática introdução “Garden of Earthly Delights”, são as linhas
vocais de Åkerfeldt, sempre devidamente amparadas por coros que remetem à
referências excelentes como o Gentle Giant, por exemplo.
Engana-se
quem pensa que, no entanto, o Opeth abandonou por completo o peso. O que a
banda fez foi distanciar-se do metal extremo, mas ainda possui o metal em suas
veias. O peso que introduz “Heart in Hand” é um exemplo disso, assim como a
abordagem da bateria de Axenrot nessa canção, repleta de viradas e um trabalho
percussivo que não esconde o passado death metal, unindo-o ao prog que permeia
o presente da banda.
O
que senti em In Cauda Venenum foi um equilíbrio mais efetivo entre o novo Opeth
e o antigo Opeth. Os discos anteriores são excelentes – Heritage (2011), Pale
Communion (2014) e Sorceress (2016) -, mas em In Cauda Venenum parece que tudo
conversa de forma mais natural e fluída, resultando em canções fortíssimas e
donas de uma beleza que fica ainda mais inebriante devido à onipresente
melancolia.
O
Opeth vive um de seus momentos mais criativos e ricos, e In Cauda Venenum
eterniza a ótima fase da banda sueca. Sem sombra de dúvidas um dos grandes
momentos da música em 2019.
Cacete, a aproximação com Steve Wilson liberou todo o potencial do Opeth. O Mikael é um cara do progressivo, a melhor cartada foi mesmo abandonar os guturais, já não eram acolhidos pelo novo som da banda. E que vocais expressivos nesse Play, magistral!
ResponderExcluirO Opeth é uma banda que deve ter seus discos ouvidos várias vezes para se poder descobrir tudo o que oferecem. O In Cauda... está nesse período de digestão. Mas já se mostra um grande trabalho dessa banda surpreendente.
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