
Em 2000, o quinteto italiano Rhapsody era um dos
principais nomes do power metal em todo o mundo. No Brasil, a banda arrebanhava
uma multidão de fãs tanto pela música que fazia, inegavelmente original, quanto
pela presença constante nas páginas da Rock Brigade, principal revista
especializada em metal na época e também responsável por lançar os discos do
grupo por aqui.
Foi nesse cenário que desembarcou nas lojas Dawn of
Victory, terceiro álbum da banda formada pelo vocalista Fabio Lione, pelo
guitarrista Luca Turilli, pelo baixista Alessandro Lotta, pelo tecladista Alex
Staropoli e pelo baterista Alex Holzwarth. Produzido novamente pela dupal Sasha
Paeth e Miro, que havia assinado os dois primeiros trabalhos do grupo, Dawn of Victory traz em suas dez canções o exemplo mais bem
acabado dessa primeira fase do quinteto italiano. Estão aqui as letras contando
batalhas épicas, feitos heroicos e contos grandiosos, tudo amparado pela
eficiente mistura entre metal melódico, música clássica e elementos do folclore
europeu, resultando em um heavy metal rico em melodias, cativante e
cinematográfico.
Centrado no trio Lione, Turilli e Staporoli, o Rhapsody
mostrou todas as suas qualidades em Dawn of Victory. O vocal de Lione bebe
direto na tradição operística da Itália e coloca a função do cantor em outro
nível, com interpretações cheias de personalidade e tons absurdos. Não à toa,
Fabio Lione ganhou status como uma das maiores vozes do metal dos anos 1990 e
2000, e segue fazendo bonito como frontman do Angra. Luca Turilli varia entre
riffs e melodias, e nesse segundo aspecto sua guitarra soa muito
mais como um violino, deslizando por harmonias que bebem direto na escola de
grandes nomes como Nicolo Paganini e Johann Sebastian Bach. Já Alex Staporoli
segura o som do Rhapsody com o seu teclado, que muitas vezes funciona como uma
espécie de orquestra de um homem só, recheando as músicas com intervenções
sempre certeiras.
Dawn of Victory possui não apenas uma riqueza musical
inebriante, mas sobretudo um lirismo harmônico que emociona. As melodias
tocantes são constantes em todo o disco, seja em canções mais rápidas como “Triumph
for My Magic Steel” ou em momentos mais cadenciados como o mergulho na Idade
Média e na Renascença proporcionado por “The Village of Dwarves”.
Exagerada e barroca, a música do Rhapsody perdeu força com o passar dos anos, mas nos três primeiros discos ela foi realmente inovadora e
original, com canções que bebiam sem filtros em universos repletos de espada e
feitiçaria como Conan, O Senhor dos Anéis e até mesmo no então nascente Game of
Thrones – vale lembrar que o primeiro livro da série foi publicado na Europa em
1996 -, pinçando elementos desses clássicos para criar a The Emerald Sword
Saga, que teve cinco capítulos contados nos cinco primeiros álbuns da banda:
Legendary Tales (1997), Symphony of Enchanted Lands (1998), Dawn of Victory
(2000), Rain of a Thousand Flames (2001) e Power of the Dragonflame (2002).
Dawn of Victory é um dos grandes discos de metal da
década de 2000 e entrega canções fortíssimas como a música-título e seu refrão
pra lá de épico (“Gloria, gloria perpetua / In this dawn of victory”), “Triumph
for My Magic Steel”, “The Village of Dwarnes”, “Dargor, Shadowlord of the Black
Mountain”, “The Bloody Rage of the Titans” e “Holy Thunderforce”, um dos
maiores hinos do grupo.
A banda acabou se dividindo no futuro, gerando diversas
outras versões sobre o alcunha Rhapsody – Staporoli com a sua, Turilli com
outra, Lione e Turilli em mais outra -, mas isso não apaga uma carreira cheia
de grandes álbuns, principalmente os três primeiros. Dawn of Victory é um dos
integrantes desse trio inicial absolutamente atordoante e especial. Passados
quase duas décadas de seu lançamento, segue mantendo toda a sua força.
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