É óbvio, mas precisa ser dito: esqueça o Blind Guardian
convencional ao ouvir Legacy of the Dark Lands. O novo álbum do grupo já
mostra isso nos créditos, já que é creditado à Blind Guardian Twilight
Orchestra e não à banda. Deu pra entender a diferença, certo? Na prática, temos
os alemães acompanhados pela Orquestra Filarmônica de Praga, criando a trilha
sonora para uma saga que é a sequência do livro Die Dunklen Lande (As Terras
Escuras, em português), escrito pelo compatriota Markus Heitz, uma das novas
forças da literatura de fantasia.
Quem acompanha a carreira do Blind Guardian sabe que a
banda sempre teve o desejo de gravar um álbum acompanhado por uma orquestra.
Legacy of the Dark Lands é a concretização disso, um processo que demorou mais
de vinte anos para ser finalmente realizado e que teve a sua origem ainda na
década de 1990, alguns anos antes do magistral Nightfall in Middle-Earth
(1998). Um ponto importante e que precisa ser mencionado é que este novo
trabalho não traz a instrumentação característica do rock – guitarra, teclado,
baixo e bateria. Pelo contrário: a parte instrumental é feita totalmente pela
orquestra, com Hansi Kürsch postando-se à frente dos músicos e sendo amparado por coros. Logicamente, essa abordagem mostra o Blind Guardian aventurando-se por um
terreno totalmente novo e que pode não agradar uma parcela dos fãs.
Legacy of the Dark Lands, como toda obra de música
clássica, orquestrada ou erudita – chame como quiser -, não foi feito para ser
ouvido de maneira descompromissada e rápida. O trabalho demanda a parceria e a
atenção do ouvinte para ser apreciado em sua totalidade. Contando com diversas
narrações entre as músicas, que vão apresentando a história e os personagens –
e cujos narradores, em muitos casos, são os mesmos de Nightfall in Middle-Earth
-, o disco funciona como uma grande peça única.
Lembro que muito se falou na época da adaptação
cinematográfica da saga O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, que o Blind
Guardian deveria estar na trilha sonora, já que a banda alemã possui uma
relação profunda com a obra de Tolkien. Pois bem: Hansi Kürsch e André Olbrich
provam com Legacy of the Dark Lands que possuem capacidade para realizar um
trabalho dessa magnitude. Em diversos momentos é possível imaginar as canções
do álbum como trilha para as batalhas com orcs, para as cenas com Aragorn e
Legolas, para a jornada de Frodo, para o retorno de Gandalf e diversos momentos marcantes da trilogia dirigida por Peter Jackson.
Legacy of the Dark Lands é um trabalho criativo,
grandioso e épico, sem igual na carreira do Blind Guardian. Mas, sobretudo, é
um disco corajoso e destemido, que traz a banda indo por um caminho que
nunca pisou de maneira tão profunda, abrindo mão de sua sonoridade clássica e
explorando todas as suas aspirações em relação a um elemento que esteve sempre
presente em sua música: as orquestrações. O resultado é um disco complexo e muito bonito, que não
tem nada de power metal e mostra o Blind Guardian, principalmente Hansi, brilhando de
uma maneira que poucos imaginariam.
Vale a pena, e muito.
Lançamento nacional da Shinigami Records.
Sempre quis ouvir um álbum do Blind Guardian com esse formato e finalmente ele veio. Desde o lançamento estou escutando praticamente todos os dias e na minha opinião esse é o álbum do ano!
ResponderExcluirSimplesmente fantástico.