A
banda britânica Coldplay nunca escondeu o objetivo de levar o seu rock
intimista a ares cada vez mais grandiosos e universais. Chris Martin e sua
trupe usaram o melhor das influências de U2 e Britpop no início dos anos 2000,
e então mergulharam no pop quase eletrônico em seus trabalhos recentes. Agora,
o quarteto entrega seu oitavo álbum Everyday Life, o qual retoma uma sonoridade
orgânica e retrô, mas sem deixar de ir além.
Aqui temos as partes Sunrise e Sunset, que vão do rock alternativo eletroacústico ao experimentalismo, amarrando diversidade de voz e arranjos a um grande acervo de temáticas: humanidade, união, pluralidade espiritual e críticas ácidas à guerra e às políticas excludentes. A velha melancolia também voltou em parte, ainda que a esperança fale mais alto.
A razoável “Church” é um dream pop que já abre o disco com espaço para influências culturais do Oriente Médio. Esse sutil fundo de world music também está presente na ótima “Orphans”, um pop rock alegre e tribal com pitadinhas de Paul Simon, porém corajoso em sua séria letra sobre refugiados da Síria. A ousadia sônica atinge o ápice na excelente, densa e cinemática “Arabesque”, uma espécie de fusion exótico que abusa de um arranjo de metais enquanto dispara uma mensagem política que deixaria Roger Waters orgulhoso.
Voltando ao lado ocidental destaco o gospel “BrokEn”, de uma rusticidade bastante simpática. Já “Daddy” é uma balada lúdica ao piano com capacidade de nos arrancar algumas lágrimas, o que a torna uma das melhores do álbum. A quase progressiva “Trouble in Town” aborda o racismo, com uma construção que vai da serenidade soturna a um arrepiante ponto de tensão. E no folk "Guns" Martin soa como um Dave Matthews irritado ao criticar o armamentismo.
Como nem tudo são flores devo citar a leve inconstância da parte Sunset, pois cai às vezes no mero exercício de ecletismo. E ainda temos faixas fracas como “When I Need a Friend”, que parece um coral no culto de uma religião picareta, enquanto que a balada básica “Champion of the World” usa uma vibe meio Echo & the Bunnymen para ser apenas campeã da sonolência.
Pode-se sintetizar Everyday Life através de sua boa faixa-título, uma canção sinfônica que não apenas indica a volta do Coldplay ao universo do rock alternativo diversificado, como também faz ligação com “Everybody Hurts” do R.E.M. e com todo o conceito de empatia estabelecido no disco. E assim se encerra uma jornada que, mesmo tendo imperfeições, lembra a essência artística de Viva La Vida (2008) e supera as obras lançadas pelos caras desde então. Aqui, há um sentimento sincero e realista: todo dia é incrível, e todo dia é terrível.
Por Fábio Cavalcanti, do Pop Reverso
Aqui temos as partes Sunrise e Sunset, que vão do rock alternativo eletroacústico ao experimentalismo, amarrando diversidade de voz e arranjos a um grande acervo de temáticas: humanidade, união, pluralidade espiritual e críticas ácidas à guerra e às políticas excludentes. A velha melancolia também voltou em parte, ainda que a esperança fale mais alto.
A razoável “Church” é um dream pop que já abre o disco com espaço para influências culturais do Oriente Médio. Esse sutil fundo de world music também está presente na ótima “Orphans”, um pop rock alegre e tribal com pitadinhas de Paul Simon, porém corajoso em sua séria letra sobre refugiados da Síria. A ousadia sônica atinge o ápice na excelente, densa e cinemática “Arabesque”, uma espécie de fusion exótico que abusa de um arranjo de metais enquanto dispara uma mensagem política que deixaria Roger Waters orgulhoso.
Voltando ao lado ocidental destaco o gospel “BrokEn”, de uma rusticidade bastante simpática. Já “Daddy” é uma balada lúdica ao piano com capacidade de nos arrancar algumas lágrimas, o que a torna uma das melhores do álbum. A quase progressiva “Trouble in Town” aborda o racismo, com uma construção que vai da serenidade soturna a um arrepiante ponto de tensão. E no folk "Guns" Martin soa como um Dave Matthews irritado ao criticar o armamentismo.
Como nem tudo são flores devo citar a leve inconstância da parte Sunset, pois cai às vezes no mero exercício de ecletismo. E ainda temos faixas fracas como “When I Need a Friend”, que parece um coral no culto de uma religião picareta, enquanto que a balada básica “Champion of the World” usa uma vibe meio Echo & the Bunnymen para ser apenas campeã da sonolência.
Pode-se sintetizar Everyday Life através de sua boa faixa-título, uma canção sinfônica que não apenas indica a volta do Coldplay ao universo do rock alternativo diversificado, como também faz ligação com “Everybody Hurts” do R.E.M. e com todo o conceito de empatia estabelecido no disco. E assim se encerra uma jornada que, mesmo tendo imperfeições, lembra a essência artística de Viva La Vida (2008) e supera as obras lançadas pelos caras desde então. Aqui, há um sentimento sincero e realista: todo dia é incrível, e todo dia é terrível.
Por Fábio Cavalcanti, do Pop Reverso
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