O Demons & Wizards chacoalhou as estruturas do metal
quando lançou o seu primeiro disco, em 2000. Afinal, a banda era a união do
vocalista alemão Hansi Kürsch com o guitarrista norte-americano Jon Schaffer,
ambos as cabeças criativas de dois dos principais ícones do metal dos anos
1990: o Blind Guardian e o Iced Earth.
O debut da dupla é excepcional e um dos melhores discos da
década de 2000. Seu sucessor, Touched by the Crimson King (2005), não alcançou
o mesmo impacto, apesar de ser um bom disco. E agora, quinze anos depois, Hansi
e Jon unem forças novamente em III, álbum lançado dia 21 de fevereiro. Vale
informar que, assim como relançou os dois primeiros discos em edições especiais
em 2019, a Hellion Records já confirmou que irá disponibilizar o novo trabalho
também no Brasil.
Avaliar III passa por avaliar também o que tanto o Blind
Guardian quanto o Iced Earth produziram nos últimos quinze anos. Enquanto a
banda alemã mergulhou ainda mais na abordagem barroca de sua música, que ficou
ainda mais grandiosa e cheia de detalhes e acabou culminando no álbum
orquestrado lançado em 2019, o impressionante Legacy of the Dark Lands, o grupo
norte-americano viveu tempos conturbados com a rápida passagem de Tim “Ripper”
Owens, o retorno e a nova despedida do vocalista Matt Barlow e a efetivação de Stu Block como
frontman, tudo isso acompanhado por uma intensa troca de integrantes, o que
acentuou ainda mais a sensação de que o Iced Earth é muito mais um projeto solo
de Schaffer do que efetivamente uma banda. E no meio disso deu aos fãs discos
que variaram entre decepcionantes (o retorno à saga Something Wicked em Framing
Armageddon e The Crucible of Man, de 2007 e 2008) e revigorantes (Dystopia, de 2011).
III é vítima disso. Enquanto traz Hansi Kürsch mais uma vez
cantando de maneira surreal, do outro lado mostra um Jon Schaffer sem a mesma inspiração
de outrora. Essa dicotomia, logicamente, acaba refletida no resultado final do
álbum. Some-se isso a uma produção que imprimiu um timbre discutível nas
guitarras, que soam um tanto sem força, e percebe-se claramente um dos
principais pontos a serem discutidos no disco. Schaffer vem repetindo ideias
e dando voltas ao redor da sua abordagem do instrumento já há alguns anos, e
isso se repete aqui. Os riffs em alguns momentos soam familiares aos ouvidos,
para não usar outros adjetivos. E há uma grande diferença entre soar repetitivo
e ter um estilo próprio, que isso fique bem claro.
No outro lado da moeda, Hansi puxa tudo para cima. A abertura,
com a sombria e climática “Diabolic”, é um dos destaques do disco, assim como a
linda e arrepiante acústica “Timeless Spirit”. “Children of Cain” fecha o trio
de grandes canções de III. Temos outros bons momentos em “Split”
e “Dark Side of Her Majesty”, e até mesmo uma inusitada influência do AC/DC nos
riffs de “Midas Disease”. No entanto, canções fracas como “Invincible” e “New
Dawn” mostram o lado não tão positivo do disco.
No geral, III está no mesmo nível de Touched by the Crimson King. É um disco que não chega aos pés da estreia, mas mesmo assim gera
momentos de alegria e bateção de cabeça durante a audição. A produção poderia
ser melhor e corrigiria alguns problemas, mas se você é fã do projeto e das
bandas de seus integrantes certamente irá, como eu, achar o resultado final
mais positivo do que negativo.
Infelizmente esse album decepcionou...
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