
A princípio, The Good Place parece apenas mais uma série
divertida e leve para passar o tempo durante o confinamento. Mas à medida que
você mergulha nos 53 episódios que formam as quatro temporadas dessa produção
da rede norte-americana NBC (e que foram adquiridos pela Netflix), percebe que
os aspectos abordados são bem mais profundos.
A premissa é a nossa visão de céu e inferno. Quem vive
uma vida boa e “correta”, vai pro céu. Quem não é tão exemplar assim tem o inferno
como destino. Escrita por Michael Schur (autor de outras comédias celebradas como
The Office e Brooklyn Nine-Nine), The Good Place tem um núcleo central de
personagens formado por Eleanor (interpretada por Kristen Bell), Chidi (William
Jackson Harper), Tahani (a linda Jameela Jamil), Jason (Manny Jacinto), Janet
(vivida pela sensacional D’Arcy Carden) e Michael (Ted Danson em um de seus
melhores papéis). Ao redor desse sexteto borbulham vários personagens
secundários, e alguns ganham destaque ao longo das temporadas.

A questão central de The Good Place é a busca por uma vida boa, para um pós-vida melhor ainda. A série mergulha com inteligência em diversas
discussões filosóficas acerca do comportamento e das motivações humanas, e faz
tudo isso com roteiros repletos de ironia e sarcasmo. Os episódios levantam pontos
do cotidiano que não percebemos o quanto são estúpidos, ao mesmo tempo em que
mostra aspectos que acabamos deixando de lado na correria do dia a dia, mas são
essenciais para a nossa evolução como indivíduos. Egoísmo, idolatria,
egocentrismo, insegurança, culto à personalidade e outros temas são
constantemente abordados, fazendo com que os personagens e, por extensão, os espectadores,
confrontem prismas não tão agradáveis de suas identidades.
Com um ritmo leve e dinâmico – ainda que na segunda
temporada fique a impressão de que a história saiu um pouco dos trilhos e ficou
meio perdida, mas isso é corrigido com o desenvolvimento dos episódios -, bela cenografia, humor afiado e diálogos bem escritos, The Good Place é um tratado
filosófico sobre as motivações, aspirações, medos e sonhos de nós, seres
humanos, disfarçado como uma ótima série cômica.
Uma excelente dica para esses tempos de quarentena,
período em que tentamos equilibrar as responsabilidades do cotidiano com as
incertezas do futuro. Uma situação não muito diferente da vivida pelos personagens de The Good Place, afinal de contas.
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