Review: Santana – Moonflower (1977)


Há uma espécie de consenso entre os fãs e entusiastas da obra do guitarrista mexicano Carlos Santana quanto ao que pode ser considerado o melhor período artístico de sua banda, e, a grosso modo, ele compreende basicamente todos os lançamentos desde a sua estreia em 1969 (aclamado pela antológica apresentação no Festival de Woodstock) até Inner Secrets, de 1978. Nos álbuns lançados nesta época ele apresentou ao mundo uma inovadora mistura de rock com ritmos latinos e afro-cubanos e até mesmo eventuais elementos de jazz fusion, funk e soul.


Um dos álbuns deste período que melhor sintetiza todo este impressionante caldeirão musical é o duplo Moonflower, de 1977. Um misto de gravações de estúdio e ao vivo que capturam Santana no ápice, reunindo um time de peso que incluía o vocalista Greg Walker e os percussionistas Pete Escovedo e José “Chepito” Areas.


A parte ao vivo deste álbum foi registrada na turnê do disco Festival, lançado em janeiro daquele mesmo ano, e entre elas estão inclusas a mesma sequência de abertura (“Carnaval”, “Let the Children Play” e “Jugando”), faixas como “Dance Sister Dance (Baila Mi Hermana)” e “Europa (Earth’s Cry, Heaven’s Smile)” do álbum Amigos (1976), e clássicos como as versões de “Black Magic Woman/Gypsy Queen”, “Soul Sacrifice/Head, Hands & Feet” e “Savor/Toussaint L’Overture”, todas executadas em excelentes performances e que servem como exemplo perfeito da sonoridade imortalizada de Santana, caracterizada pela inconfundível guitarra entrelaçada com elementos afro-latinos e uma percussão espetacular.


Já as faixas de estúdio são a cereja do bolo do disco e proporcionam alguns de seus mais interessantes momentos. A curta porém inspirada abertura “Dawn/Go Within” e números instrumentais como “Zulu”, “Bahia” e “El Morocco” poderiam muito bem integrar qualquer um dos discos do período mais jazzístico do próprio guitarrista, seja na sua fase solo ou com o restante de sua banda. “Flor d’Luna (Moonflower)” é uma composição que exibe Santana no seu melhor e não fica devendo em nada para o material dos seus três primeiros (e mais consagrados) álbuns. Em canções como “I’ll Be Waiting” e “Transcendance” quem rouba a cena é a voz de Greg Walker, que entrega uma inspirada performance vocal nestas duas faixas de contornos jazz/soul com um toque quase espiritual, transformando-as, evidentemente, em dois dos maiores e melhores destaques deste trabalho.


Uma faixa que merece uma nota à parte é a versão de “She’s Not There” do The Zombies, que abre o segundo disco e é um dos mais notáveis registros de estúdio aqui. Este é um daqueles casos em que uma reinterpretação dá uma nova personalidade a uma música, e apesar disto não ser uma novidade para Santana – afinal, essa é uma das marcas registradas de seus primeiros trabalhos – aqui ela consegue reunir de maneira equilibrada e evidente todos os grandes destaques de Moonflower: o vocal de Greg Walker, a impressionante percussão de Pete Escovedo unida à bateria de Graham Lear, e, claro, a guitarra de Carlos Santana, que juntos proporcionam o que talvez seja o momento mais distinto do álbum.


Moonfloower foi o último grande sucesso comercial do Santana antes do divisor de águas Supernatural décadas depois, e de uma forma geral é basicamente o disco que resume os mais inspirados momentos do que pode se considerar a melhor fase de sua longa carreira artística.

 

Por Rodrigo Façanha


Comentários

  1. Sem duvidas um discão. Um dos poucos vinis que resistiram em minha coleção. A capa é um dos destaques também.
    Abçs

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