Review: Metallica – S&M2 (2020)



S&M2 foi gravado nos dias 6 e 8 de setembro de 2019 em shows realizados pelo quarteto norte-americano com a Orquestra Sinfônica de San Francisco, formada por mais de oitenta instrumentistas. Em 27 de setembro, vinte dias após essas apresentações e a gravação desses shows, o Metallica publicou um comunicado informando que James Hetfield havia entrado em uma clínica de reabilitação para tratar o seu vício em álcool. O vocalista só retornaria ao grupo quase três meses depois, no início de dezembro, fazendo a sua primeira aparição pública pós rehab em meados de janeiro. Por todos esses motivos, S&M2 soa ao mesmo tempo como um fim de ciclo e um recomeço para a maior banda de heavy metal do planeta.

Lançado em CD duplo, LP duplo, Blu-ray e DVD, S&M2 é magnífico, imponente e épico. Repetindo a parceria com a Sinfônica de San Francisco, que tocou no S&M original, o Metallica supera o álbum de 1999 com uma interação mais natural e fluída entre as canções e as intervenções e arranjos da orquestra. Não há o estranhamento que alguns arranjos do disco lançado há mais de vinte anos causavam e que me fizeram, pessoalmente, nunca curtir muito o resultado final do trabalho.

Ao todo são 22 músicas de todos os álbuns da banda, incluindo canções dos três discos gravados pelo grupo nessas duas décadas entre uma experiência sinfônica e outra: St. Anger (2003), Death Magnetic (2008) e Hardwired ... To Self-Destruct (2016). A banda varia bastante o repertório em relação ao lançamento original, com as repetições ficando somente por conta de cavalos de batalha imortais como “For Whom the Bell Tolls”, “The Memory Remains”, “Wherever I May Roam”, “One”, “Nothing Else Matters” e “Enter Sandman”. “The Outlaw Torn”, uma das melhores músicas da carreira do quarteto e que também estava no show de 1999, retorna aqui para mostrar, de novo e mais uma vez, o quanto Load é um disco estigmatizado injustamente pelos fãs.

Com uma participação marcante do público e uma performance primorosa da banda e da orquestra, S&M2 também reserva surpresas inesperadas como as performances de peças de música erudita que abrem o segundo CD. “Scythian Suite, Op. 20 II: The Enemy God and the Dance of the Dark Spirits”, do compositor russo Sergei Prokofiev, é um momento de brilho intenso da Sinfônica de San Francisco, que executa a faixa sozinha e mostra o quanto certos aspectos da música clássica são extremamente próximos do metal. Já “The Iron Foundry, Op. 19”, do também russo Alexander Mosolov, traz banda e orquestra unidas em um universo musical que vai além do catálogo do Metallica, e o resultado é excelente. Outro ponto de destaque é “(Anesthesia) Pulling Teeth”, a instrumental de baixo que eternizou o falecido Cliff Burton, tocada aqui pelo contrabaixista Scott Pingel, do corpo da Sinfônica de San Francisco, que a eleva a um nível quase espiritual e é um dos momentos mais bonitos do show.

A presença de várias músicas dos discos mais recentes mostra o quanto o repertório do Metallica mantém a sua força, aqui devidamente encorpada pelas orquestrações. Isso torna o show refrescante e traz um ar de novidade equilibrado de forma eficiente com os clássicos de sempre.

O resultado final é uma experiência musical hipnotizante e emocionante, que une o metal e a música erudita de maneira muito mais profunda e eficiente do que a do S&M original, ainda que essa evolução não fosse possível sem a experiência de duas décadas atrás. S&M2 é um documento impressionante da força do catálogo do Metallica e do alcance infinito das músicas compostas pela banda.

Nota máxima, sem exagero!

Comentários

  1. Alguém sabe dizer se o BluRay terá lançamento aqui no Brasil?

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    1. Quase que certeza que não ! Mas como o Metallica é uma banda forte pode acontecer o lançamento ! Vamos torcer

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  2. Não vou acrescentar muito além do que já foi dito, a evolução tecnológica também ajudou muito a orquestra e a banda, só espero que saia no Brasil com preço digno em CD duplo, este é um item obrigatório para qualquer fã da banda e de metal.

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  3. Justamante pela força do catálogo da banda, a variação do setlist deveria ser maior. Das 22 faixas do álbum, 11 estiveram no SM 1. Eu queria ver the four horsemen, ride the lightning, fade to black, and Justice For all, welcome home, low man's lyric, e definitivamente mais músicas do hardwired.

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    1. Concordo! E ainda acrescento Creeping Death, Orion. Na minha opinião não precisavam repetir nenhuma música.

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  4. Assisti no cinema, impressionante. Destaque para The Unforgiven III, música pouco notada do Metallica, mas de letra e também andamento belíssimos. Aguardo em vinil para completar a coleção!

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