Review: Faith No More – King for a Day ... Fool for a Lifetime (1995)


No final dos anos 1980 o Faith no More presenteou o mundo com "Epic", faixa do segundo álbum da banda, The Real Thing (1989). A canção alcançou a nona posição nas paradas da Billboard e permaneceu no Top 40 por um total de 13 semanas. Seu vídeo, com imagens de um piano explodindo e um peixe saltando fora d'água, foi exaustivamente reproduzido pela MTV na época. Angel Dust (1992) trouxe faixas estranhas e diversas, que devem ter surpreendido os fãs que só conheciam a banda por seu grande single. 

Depois da saída do guitarrista Jim Martin logo após a turnê do álbum, muitos questionaram se a química teria se perdido, mas a resposta veio da melhor forma com King for a Day ... Fool for a Lifetime. Billy Gould (baixo), Mike Bordin (bateria), Mike Patton (vocal) e Roddy Bottum (teclado) recrutaram Trey Spruance (guitarrista da outra banda de Mike Patton na época, Mr. Bungle) para as seis cordas. Ele gravou o álbum porém acabou saindo antes da turnê começar, sendo substituído por Dean Menta, que era roadie de teclados.

No seu quinto disco, os californianos transitam entre diversos estilos musicais de maneira única. Com menor adição de teclados que nos trabalhos anteriores e com a parceria do renomado produtor de diversos nomes do heavy metal, Andy Wallace (Ghost, Sepultura, Slayer), King for a Day ... Fool for a Lifetime traz mais peso à banda, característica essa que se mantém desde então.

A abertura é um chute na porta. Em “Get Out”, Mike Patton questiona: “E se não houver mais nenhuma diversão?”. A faixa flerta com o punk e contém, provavelmente, o mais pesado riff de guitarra já presente em uma gravação do Faith no More.

A banda costuma frequentemente utilizar uma variedade de influências em sua música, mas elas acabam não assumindo inteiramente o controle das faixas. Exemplos disso são o country presente em “Take this Bottle”, o gospel em “Just a Man”, o death metal em “Cuckoo for Caca” e o jazz em “Star A.D.”. Essa última remete às big bands e parece ter saído diretamente de um disco de Benny Goodman, com naipe de metais e um grande trabalho de Billy Gould no baixo (que acaba sendo o grande destaque de todo o álbum). Já o primeiro single “Digging the Grave”, “Ricochet”, “The Gentle Art of Making Enemies” (com Patton cantando um hilariante “Feliz aniversário, filho da puta!”) e “What a Day” são faixas pesadas e calcadas basicamente no rock, sem muitas experimentações.

Fazer uma resenha de um álbum do Faith no More sem mencionar a performance vocal de Mike Patton seria um sacrilégio. O cara é facilmente um dos melhores e mais interessantes vocalistas do rock de todos os tempos e consegue flutuar por uma variedade absurda de estilos vocais, sendo suave e relaxante e dois segundos depois dar a impressão de estar vomitando no microfone (e isso é genial!). Exemplos disso são “Ugly in the Morning”, com vocais que lembram latidos, e “Caralho Voador”, com o refrão susurrado em português (errado) e com umas pitadas de bossa nova que lembram João Gilberto.

O Faith no More é uma banda única. Apesar disso, King for a Day ... Fool for a Lifetime segue sendo um álbum muito subestimado pela crítica, porém marca a reinvenção de uma banda que foi uma das maiores dos anos 1990. Quer ter sua atenção presa do início ao fim durante 45 minutos? Então ouça esse disco.

Por Diego Colombo


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